Uma pesquisa promovida e divulgada pelo consórcio World Weather Attribution (WWA) mostrou que em razão das mudanças climáticas as chances de eventos extremos afetarem o território europeu dobraram. Segundo a análise, catástrofes como as chuvas severas e as inundações que alagam a Europa Central estão diretamente relacionadas com as anomalias do clima global.
De acordo com o estudo, as enchentes que hoje castigam países como Polônia, República Tcheca, Áustria, Romênia, Hungria, Alemanha e Eslováquia -em decorrência da tempestade Boris- já são as piores em duas décadas. Dessa forma, diante dos dados meteorológicos levantados, aponta-se que os modelos e condições climáticas atuais favorecem consideravelmente os fenômenos extremos de chuvas. Além disso, atrelado às chances dobradas, o cenário do aquecimento também aumenta em 20% a intensidade dessas catástrofes.
Os números apontam, então, que outros desastres naturais e de risco aumentarão proporcionalmente à medida que o planeta esquenta. Assim, tomando por base um aquecimento de 2ºC -um cenário nada ilusório uma vez que já atingimos a marca do 1,5ºC- soma-se um aumento de mais 5% a intensidade das chuvas e de mais 50% na probabilidade em comparação as já alarmantes atuais.
“Mas isso provavelmente é uma subestimação, então precisamos nos preparar para chuvas ainda mais intensas do que as previstas por esses modelos”, afirmou Friederike Otto, climatologista do Imperial College London e coautora do estudo, ao Politico. “A menos que paremos de queimar combustíveis fósseis, essas chuvas e as inundações associadas só vão piorar.”
Futuro da Europa Central
Apesar de já ter somado 24 vítimas fatais e gerado danos estruturais de bilhões de euros, as enchentes de 2024 têm causado menos prejuízos que as de anos anteriores. Como se explica esse fato? Segundo os climatologistas, atualmente os países têm investido mais em previsões e em planos e estratégias estruturais de prevenção. Assim, afirmam que a preparação da Europa Central às inundações estão sendo fundamentais para que sejam menos destrutivas e mortais.
“As enchentes de 2024 foram bem previstas, e os sistemas de alerta precoce permitiram evacuações oportunas e liberações preventivas de reservatórios de água em muitas áreas, o que ajudou a manter o número de mortos significativamente menor em comparação a eventos semelhantes”, disse Maja Vahlberg, do Centro Climático da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, que também participou do estudo.
“No entanto”, acrescentou ela ao Politico, “à medida que as mudanças climáticas aceleram, temos de continuar a investir para tornar as nossas comunidades, defesas e sistemas de resposta mais resilientes”.
Posicionamento de autoridades e organizações
Além dessas autoridades climáticas, o chefe da campanha Parem de Perfurar e Comecem a Pagar, do Greenpeace Internacional, Ian Duff, contou ao veículo europeu em entrevista que é preciso deixar explícito no cenário quem é vítima e quem são os vilões responsáveis pelas inundações históricas atuais.
“Empresas de petróleo e gás como Total, Shell e OMV obtiveram lucros extraordinários por meio de emissões de efeito estufa, enquanto cidadãos comuns de Viena a Varsóvia e por toda a União Europeia devem pagar a conta pelos danos. O Greenpeace apela aos líderes europeus para que fiquem com seu povo e não com o lobby do petróleo e gás e forcem os poluidores climáticos a pagar por esses danos históricos”, afirmou ele.
Em nota, o Greenpeace declarou que para além das vítimas e dos transtornos, os danos e prejuízos acabam, mais cedo ou mais tarde, afetando o bolso da população. A organização afirmou que a destruição vai desde danos à infraestrutura pública até perda de dias úteis, casas, e outros bens. Dessa forma, a problemática impacta diretamente as contas públicas. Podendo influenciar, assim, a inflação de médio prazo a curto prazo.
As seguradoras austríacas, por exemplo, estimam que os valores podem chegar a € 1 bilhão (aproximadamente R$ 6,1 bilhões). Além disso, o governo da Polônia prometeu ajuda imediata à situação de emergência. Ela será “gratuita e não reembolsável” de 2 bilhões de zlotys (R$ 2,9 bilhões) para famílias e reformas residenciais.
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