O relógio da evolução: por que as formigas se concentram em regiões tropicais?

Estudo mostra que a biodiversidade das formigas ponerinas depende do tempo de colonização das regiões, com vantagem para os trópicos

Formiga
Foto: Freepik -

Por Fernanda Zandonadi

Por que há mais espécies de formigas nos trópicos do que em regiões temperadas? Essa é uma pergunta que intriga cientistas há décadas, e um novo estudo publicado no site Nature Communications oferece uma resposta convincente: o segredo está no tempo.

As formigas da subfamília Ponerinae — um dos grupos mais antigos e diversos, com cerca de 1.400 espécies — surgiram no supercontinente Gondwana, há aproximadamente 122 milhões de anos, durante o Cretáceo. A partir dali, começaram a se dispersar. Primeiro ocuparam os ambientes tropicais, como os Neotrópicos (América Latina), Afrotrópicos (África) e a região Indomalaia (sul e sudeste da Ásia). Só muito depois alcançaram áreas mais frias, como a América do Norte e a Europa.

Essa diferença de tempo fez toda a diferença. Segundo os pesquisadores, as regiões colonizadas mais cedo tiveram mais oportunidades para acumular espécies ao longo de milhões de anos, enquanto as temperadas, por terem sido ocupadas mais tarde, apresentam uma diversidade menor. É o que os cientistas chamam de Hipótese do Tempo para Acumulação.

A Quantidade de espécies; 
B Rede de dispersão

O estudo também testou outras explicações. A chamada Hipótese da Taxa de Diversificação — segundo a qual os trópicos abrigariam mais espécies por apresentarem taxas de evolução mais rápidas — não foi confirmada. Já a Hipótese da Dispersão Assimétrica teve um papel secundário: as trocas de linhagens entre regiões ajudaram a reduzir desigualdades, especialmente em locais menos diversos, como a Australásia.

Outro fator importante foi o chamado conservadorismo de nicho tropical. Como as ponerinas evoluíram em ambientes quentes, sua expansão ocorreu mais facilmente entre regiões tropicais, mas ficou limitada em áreas temperadas. Isso reforçou os gradientes de biodiversidade que ainda hoje distinguem os trópicos do resto do planeta.

Os resultados mostram também que os Neotrópicos e os Afrotrópicos foram os principais motores de diversificação, atuando como verdadeiros berços de novas linhagens. Em contraste, regiões temperadas funcionaram mais como “receptoras” dessas espécies. Uma exceção é a Australásia, que apresentou, mais recentemente, altas taxas de diversificação, possivelmente aproveitando oportunidades ecológicas em ambientes ainda pouco explorados.

Para os autores, a pesquisa ajuda a entender como o tempo e a história geográfica moldaram a biodiversidade mundial. Mais do que isso, reforça a importância dos trópicos como centros de evolução e preservação da vida. Afinal, foram milhões de anos de vantagem histórica que fizeram dessas regiões os maiores reservatórios de formigas — e, por extensão, de grande parte da diversidade do planeta.

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