ISB lamenta morte de Kongjian Yu, criador das cidades-esponja, em acidente no Pantanal

O arquiteto chinês Kongjian Yu, idealizador das cidades-esponja, morreu em acidente aéreo no Pantanal. Legado inspira soluções urbanas sustentáveis

Kongjian Yu
Fotos: arquivo pessoal -

O arquiteto e paisagista chinês Kongjian Yu, de 62 anos, idealizador do conceito de “cidades-esponja”, morreu em um acidente aéreo na zona rural de Aquidauana, no Pantanal sul-mato-grossense, na noite da última terça-feira (23). O acidente vitimou, ainda, dois documentaristas, Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz e Rubens Crispim Jr., e o proprietário e piloto da aeronave, Marcelo Pereira de Barros.

O Instituto Sustentabilidade Brasil lamenta profundamente as quatro mortes, destacando a relevância de Kongjian Yu e dos documentaristas para o debate ambiental e urbano no país. A entidade ressalta que “a contribuição de Yu para o enfrentamento das mudanças climáticas e para a adaptação das cidades a eventos extremos é um legado que precisa ser preservado e ampliado”.

O que são cidades-esponja

O conceito de cidade-esponja, criado por Kongjian Yu e seu escritório de arquitetura paisagística, parte de uma ideia simples e poderosa: usar a natureza como uma aliada na gestão da água. Em vez de impermeabilizar o solo com concreto e canais de drenagem que transferem o problema das enchentes para outras áreas, Yu propôs soluções baseadas na natureza (Nature-based Solutions, ou NbS) para absorver, armazenar e reutilizar a água da chuva.

Seus principais elementos incluem:

  • Parques e pântanos construídos: áreas verdes e zonas úmidas que funcionam como reservatórios naturais, absorvendo o excesso de água em períodos chuvosos.
  • Telhados verdes: telhados cobertos por vegetação que retêm parte da água da chuva, aliviando a carga sobre o sistema de drenagem.
  • Pavimentos permeáveis: superfícies de ruas e calçadas que permitem a infiltração da água no solo, recarregando os aquíferos subterrâneos.
  • Jardins de chuva: canteiros projetados para coletar e absorver a água da chuva de telhados e superfícies pavimentadas.

Do desastre de Pequim à adoção mundial

A ideia de Yu ganhou força globalmente após a grande enchente de Pequim em 2012. O desastre natural matou 80 pessoas e expôs a vulnerabilidade das cidades modernas frente aos eventos climáticos extremos, levou o governo chinês a abraçar o conceito de cidade-esponja em larga escala. A China estabeleceu uma meta ambiciosa: até 2030, 80% de suas áreas urbanas deveriam ser capazes de absorver e reutilizar 70% da água da chuva.

A visão de Yu se espalhou pelo mundo, inspirando projetos de resiliência hídrica em diversos países, como Alemanha, Estados Unidos e Holanda. Ele sempre defendeu que as cidades precisam superar a “síndrome da falta de controle” sobre a água e aprender a conviver com as dinâmicas naturais do ciclo hidrológico.

O Brasil perde uma grande oportunidade

No Brasil, a aplicação do conceito de cidade-esponja tornou-se urgente após as inundações no Rio Grande do Sul em 2024. A tragédia trouxe para o centro do debate nacional a necessidade de repensar a infraestrutura urbana para enfrentar os desafios do clima.

A visita de Kongjian Yu ao Brasil em junho de 2024, após o desastre gaúcho, foi um marco. Na ocasião, ele afirmou que o Brasil tem potencial para se tornar uma referência global em resiliência hídrica. O arquiteto vinha trabalhando com parceiros brasileiros para divulgar seu trabalho e discutir a implementação de projetos no país. O documentário que ele gravava no Pantanal tinha como objetivo justamente capturar a beleza e a resiliência dos biomas brasileiros.

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