
O Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA) transferiu parte de suas atividades administrativas e científicas para o Ecoparque da Mata Atlântica Augusto Ruschi, localizado às margens da ES-261, em Santa Teresa/ES.
O diretor do INMA, Sérgio Lucena, avalia que a transferência é importante para a expansão do Instituto: “Embora o parque do Museu de Biologia Professor Mello Leitão, onde tradicionalmente o INMA está instalado, tenha 77 mil metros quadrados, é uma área quase toda arborizada, grande parte é mata nativa, com construções antigas e históricas. Então nesse espaço não é possível expandir. O INMA, como instituto nacional, precisa crescer. Ele precisa tomar um porte para atender a sua nobre demanda nacional de atuar para a conservação da Mata Atlântica com ciência e conhecimento”.
“A conquista desse espaço foi muito importante para o Instituto Nacional da Mata Atlântica porque hoje o Instituto abriga o Museu de Biologia Professor Mello Leitão, que é um patrimônio cultural da cidade de Santa Teresa. Com a questão de se tornar um Instituto, um órgão maior, e também a proposição de trazer novos servidores, houve a necessidade de termos espaço adequado para alocar todos os servidores que estão desenvolvendo as atividades do Instituto”, explica o coordenador de Administração do INMA, Celio Rozado.
“Atualmente a estrutura de pesquisa e salvaguarda de acervos científicos do INMA está concentrada no Museu de Biologia Professor Mello Leitão. Essa estrutura é limitada para o INMA desenvolver as pesquisas que a sua missão abrange, considerando todos os perfis de profissionais que atuam na instituição, com estudos na área de ecologia, conservação, sensoriamento remoto, sistemática biológica – tanto de plantas como de animais –, biologia molecular, envolvendo estudos de DNA, entre outras áreas”, comenta o coordenador de Ciências, Pedro Lage Viana.
Na área de 100 mil m2 do Ecoparque está a antiga residência de inverno do governador do Espírito Santo. O imóvel passou por diversas reformas para abrigar o Instituto. Em 2010, a área chegou a ser doada para o Serviço Social do Comércio (SESC) para a construção de um hotel, mas houve mobilização popular contrária à proposta e o projeto não saiu do papel (veja detalhes na Linha do Tempo).
“Tínhamos essa demanda de expansão, buscávamos um terreno e quando soubemos que, provavelmente, o SESC desistiria desse terreno, eu conversei com o Governador sobre nossa necessidade”, recorda o diretor do INMA.
DE RESIDÊNCIA DE INVERNO A CAMPUS CIENTÍFICO: A TRAJETÓRIA DO ECOPARQUE AUGUSTO RUSCHI
1967
- Aurélio Gramlich, amigo de Augusto Ruschi, doa a área ao governo do Espírito Santo para construção de um parque e residência de inverno do governador.
2004
- Por meio da lei Nº 7954, o Governo do Estado cede a área ao município de Santa Teresa para instalação de um Centro de Treinamento em Educação e Meio Ambiente.
2010
- Por meio da Lei Estadual Nº 9.606, Governo do Estado doa a área para o SESC para a construção de um hotel e instalação de projetos de turismo e lazer, em um investimento previsto de 35 milhões de reais.
2012
- Com recursos municipais e federais, é inaugurado o Parque Ecoturístico de Santa Teresa, mas o local não fica aberto à população.
2013
- Ambientalistas questionam na justiça a doação da área ao SESC.
2022
- A Assembleia Legislativa do Espírito Santo realiza audiências públicas sobre o assunto e a população se manifesta a favor da manutenção do parque.
2023
- SESC desiste da construção do hotel.
- INMA solicita ao governo do Estado do Espírito Santo a doação de um terreno para a implantação de um campus de pesquisa no município de Santa Teresa.
- O deputado estadual Fabrício Gandini (Cidadania) protocola na Assembleia Legislativa projeto revogando a Lei Estadual Nº 9.606 e autorizando a doação à União para uso do INMA.
- Governador do Estado do Espírito Santo, José Renato Casagrande, sanciona a Lei Nº 11.969, que autoriza o Poder Executivo Estadual a doar a área do Parque Temático Augusto Ruschi à União.
2024
- Estado do Espírito Santo e INMA assinam Termo de Permissão de Uso durante o processo de doação.
- INMA assume a gestão do espaço e começa a desenvolver ações de manutenção e reforma no local.
2025
- INMA transfere parte de suas atividades administrativas e científicas ao Ecoparque.
ESPAÇO DE CIÊNCIA, CONSERVAÇÃO E ACESSO PÚBLICO
O Instituto busca recursos para oferecer opções de lazer para os moradores da cidade e visitantes no Ecoparque. O projeto conceitual prevê trilhas ecológicas, mirante para observação de pássaros, museu interativo, exposições imersivas, espaço para eventos culturais, área para piqueniques e praça de alimentação. A proposta foi liderada pela professora Cristina Engel de Alvarez, do Laboratório de Planejamento e Projetos, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
“É uma proposta realmente arrojada, que integra três grandes componentes: a ciência, a conservação e o acesso público. Esse projeto vai ser muito estratégico e inédito no estado do Espírito Santo. Não existe nenhum lugar no estado com um parque que tenha este perfil”, destaca o diretor do INMA, Sérgio Lucena.
“Foi, inclusive, um pedido do governo do Estado que o INMA integre a comunidade de Santa Teresa e os visitantes ao Instituto, para eles terem também uma área de visitação, um parque aberto. Nós já tivemos uma primeira proposta, um conceito do que vai ser o parque temático do Ecoparque e estamos na fase de captar recursos”, acrescenta o coordenador de Administração, Celio Rozado.
A maior parte da área, cerca de 85%, deve permanecer preservada. O Instituto também investirá na recuperação das margens do córrego que corta o Ecoparque.
“A proteção da área também foi uma demanda do Governo do Estado e é um valor para o INMA. A ideia é passar por um processo de melhoria ambiental, com iniciativas como a recomposição da vegetação ciliar do riacho. O terreno tem muitas árvores não nativas da Mata Atlântica, como eucaliptos, por exemplo. A médio prazo, podemos fazer a substituição da flora exótica pela nativa da Mata Atlântica. Além disso, explorar, nesse conceito de Ecoparque, os atributos naturais da área para o visitante conhecer e fazer atividades interativas nesse ambiente”, explica o diretor do INMA, Sérgio Lucena.
Simultaneamente, o INMA buscará recursos para melhorar as instalações do Museu de Biologia Professor Mello Leitão, que recebe cerca de 115 mil visitantes por ano e é um dos principais atrativos turísticos do Espírito Santo. A casa onde vivia Augusto Ruschi será transformada em museu para que as pessoas possam conhecer ainda mais sobre a vida e a obra do naturalista. Também está prevista a transferência da maior parte do acervo biológico composto por 130 mil espécimes da fauna e 54 mil registros da fauna brasileira.
“O Museu é uma área propensa à inundação. Já houve vários casos, inclusive no início deste ano, de enchentes que, algumas vezes, afetaram os acervos. Ou seja, itens insubstituíveis foram danificados. O Museu, atualmente, não tem estrutura laboratorial adequada. A migração para o Ecoparque vai garantir a segurança dos acervos e a oportunidade para construirmos estrutura de pesquisa adequada, como laboratórios, salas de aula, salas de reunião, auditório, tudo o que um instituto de pesquisa precisa ter”, avalia o coordenador de Ciências, Pedro Lage Viana.
“No momento em que fica explícito que o INMA tem mais de um campus, sendo um deles o Museu de Biologia Professor Mello Leitão — que já oferece atividades de divulgação científica, educação ambiental, museológicas e exposições —, essa missão continua sendo cumprida. Assim, resolvemos um pouco esse conflito de identidade de nomes, porque agora o Instituto Nacional da Mata Atlântica está, em Santa Teresa, no campus Ecoparque Augusto Ruschi e no campus Museu de Biologia Professor Mello Leitão, além de administrar duas estações biológicas que funcionam como laboratórios a céu aberto para estudos científicos. Isso reforça o perfil de Santa Teresa como a cidade da Mata Atlântica, da conservação da biodiversidade e, também, a cidade de Augusto Ruschi”, finaliza Lucena.
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