Mudanças climáticas vão impactar cada vez mais cruelmente os idosos

O risco de morte durante uma onda de calor é 34% maior em áreas densamente povoadas.

Foto: Sabine Vanerp - PixaBay -

Na última edição do congresso de geriatria e gerontologia da SBGG-RJ, foi colocado em pauta a relação e a influência do meio ambiente diante do envelhecimento a médio e longo prazo. Durante o evento, a médica e pesquisadora da Fiocruz, Gina Torres Rego Monteiro, pontuou o quanto o impacto das mudanças climáticas excedem apenas a elevação de temperatura dos termômetros da Terra. Segundo a cientista, as secas extremas, os focos de incêndios aumentados e a crise hídrica, por exemplo, estão diretamente ligadas à esfera da saúde pública da população -principalmente a dos idosos.

“A Terra é um sistema e tudo está conectado: as consequências incluem secas intensas e escassez de água, incêndios severos, tempestades catastróficas, aumento do nível do mar capaz de provocar inundações costeiras, declínio da biodiversidade”, afirmou.

Fazendo uma retrospectiva dos acontecimentos marcantes que o planeta presenciou neste ano, estão os recordes históricos de temperatura. Os três dias mais quentes já registrados na história da humanidade aconteceram no último mês de julho. Além da problemática dos termômetros, uma sequência de outros eventos extremos se sucederam mês após outro em 2024.

Guerras aumentam a temperatura da Terra
Foto: Envato Elements

Olhando pela ótica dos impactos desses fenômenos para a saúde e o bem estar no dia a dia da população, só no ano passado, foram contabilizadas cerca de 2.300 mortes associadas ao calor nos Estados Unidos, um salto de 117% em relação a 1999. Um estudo recente apontou que o setor hospitalar pode passar por sérios problemas pela alta demanda de pacientes, nos próximos anos. Segundo a pesquisa, o impacto nos serviços de emergência dos hospitais pode vir a ser a supersaturação pela população afetada pelas altas temperaturas.

Consequências das altas temperaturas

De acordo com a médica Cristiane Novaes, diretora do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, embora ainda não haja literatura científica suficiente, há evidências de um cenário mais desafiador em um futuro não tão distante: “vem ocorrendo uma mudança na prevalência de doenças sensíveis ao clima. Alterações cardiovasculares, por exemplo, são comuns em idosos, mas estão acontecendo por causa de um fator novo, que são as ondas de calor extremo cada vez mais frequentes”.

Foto: Gerd Altmann – PixaBay

A relação das doenças e dos problemas de saúde vinculados ou agravados pelo aquecimento do planeta em 1,5ºC é bastante extensa.  Além dos cardiovasculares, como taquicardia e hipertensão, estão se tornando cada vez mais comuns quadros de irritação e inflamação das vias aéreas e de alterações oftalmológicas, por exemplo. 

Além das complicações físicas, o cenário de um planeta em desarmonia em seu meio ambiente reflete em adversidades na esfera da saúde mental da população. Transtornos como estresse, ansiedade, depressão, por exemplo, podem se agravarem com um clima escaldante e inapropriado para certas regiões do planeta e estações do ano.

Dessa forma, a preocupação aumenta quando calcula-se que o risco de morte durante uma onda de calor é 34% maior em áreas mais densamente povoadas. Isso acaba afetando especialmente crianças e idosos.

Possibilidades

Diante disso, o estudo “2024 State of the Climate Report”, relatório sobre a situação do planeta recém-publicado na revista científica BioScience, traz apelos dos cientistas. Os autores responsáveis pela pesquisa relataram no documento 35 “sinais vitais” da Terra e alertam: “estamos entrando numa fase sem precedentes da crise climática”. 

Foto: Gerd Altmann – PixaBay

Dessa forma, trazendo a situação para a esfera da governança pública, os primeiros passos já são bastante conhecidos. Algumas possibilidades são: limitar as emissões de carbono e mitigar os estragos já latentes. Bem como abandonar o combustível fóssil, investir em fontes de energia limpa e proteger e restaurar a biodiversidade dos ecossistemas. Além disso, é sempre uma boa estratégia fomentar a educação ambiental e conscientizar as pessoas a adotar novos hábitos alimentares. Assim, apoiando, por exemplo, uma dieta baseada em um maior consumo de plantas, o que diminui o gasto hídrico.

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