A poluição plástica é um problema global cada vez mais preocupante, e um novo estudo da Universidade de Leeds, do Reino Unido, e publicado nesta quarta (04) na revista Nature, ilustra bem a sua dimensão: em 2020, 52 milhões de toneladas de produtos plásticos foram despejadas no meio ambiente. Se disposto em linha, esse volume seria suficiente para dar a volta ao mundo mais de 1,5 mil vezes.
O trabalho revelou ainda que mais de dois terços dos resíduos plásticos do planeta vem de lixo não coletado, uma vez que quase 1,2 bilhão de pessoas (15% da população global) vive sem acesso a serviços de coleta de lixo.
Também constatou que, em 2022, aproximadamente 30 milhões de toneladas do material, totalizando 57% do total, foram queimadas em casas, ruas e lixões, sem nenhum controle ambiental, uma prática que traz uma série de riscos à saúde, incluindo defeitos neurodesenvolvimentais, reprodutivos e congênitos.
Administração dos resíduos
“Os riscos à saúde resultantes da poluição plástica afetam algumas das comunidades mais pobres do mundo, que são impotentes para fazer algo a respeito. Ao melhorar a gestão básica de resíduos sólidos, podemos reduzir massivamente a poluição plástica e melhorar a vida de bilhões de pessoas”, enfatizou o primeiro autor, Josh Cottom, pesquisador de poluição por plásticos da Escola de Engenharia Civil da Universidade de Leeds, ao El País.
Ela acrescentou que as pessoas que vivem sem serviços de coleta de lixo são forçadas a “autogerenciar” os resíduos, geralmente despejando-os em terra, em rios ou queimando-os em fogueiras.
“Precisamos começar a focar muito, muito mais em lidar com a queima a céu aberto e resíduos não coletados antes que mais vidas sejam desnecessariamente impactadas pela poluição plástica. Não pode ser ‘longe da vista, longe da mente’”, complementou Costas Velis, professor de Sistemas de Eficiência de Recursos da Escola de Engenharia Civil que liderou a pesquisa.
Índia na liderança
De acordo com os dados globais estimados do documento, os países mais poluentes enquanto a pesquisa foi feita foram: Índia (9,3 milhões de toneladas; cerca de um quinto do total), Nigéria (3,5 milhões de toneladas) e Indonésia (3,4 milhões).
A China, que anteriormente ocupava a liderança, agora está em quarto lugar, com 2,8 milhões de toneladas. Isso é resultado de melhorias na coleta e processamento de resíduos nos últimos anos.
Países de renda baixa e média têm geração de resíduos plásticos muito menor. Porém, uma grande proporção deles não é coletada ou é descartada em lixões. A Índia surge como o maior contribuinte porque tem uma grande população. Ela representa, aproximadamente, 1,4 bilhão de pessoas, e muitos de seus resíduos não são coletados.
Ainda segundo o estudo, embora muitos países na África Subsaariana tenham níveis geralmente baixos de poluição plástica, eles se tornam pontos críticos quando observados em uma base per capita. Assim, apontam uma média de 12 kg de poluição plástica por pessoa por ano, o equivalente a mais de 400 garrafas plásticas. Para efeito de comparação, o Reino Unido atualmente tem o equivalente per capita de menos de três garrafas plásticas por pessoa por ano.
Os pesquisadores demonstraram preocupação de que a região se torne a maior fonte mundial de poluição plástica nas próximas décadas. Pois muitas das nações que a compõem têm uma gestão de resíduos ruim e a população deve crescer rapidamente.
“Tratado dos Plásticos” global
Diante dos resultados, o relatório enfatiza que o acesso à coleta de lixo deve ser visto como uma necessidade básica e vital do saneamento. Além disso, deve estar atrelado a serviços de água e esgoto.
A equipe envolvida pontua que quer que este trabalho ajude os formuladores de políticas a criar planos mais amplos de gerenciamento de resíduos. Além disso, preveem recuperação de recursos e economia circular.
Também deseja que seja elaborado um novo, ambicioso e juridicamente vinculativo, “Tratado de Plásticos” global. Assim, terá o objetivo de lidar com as fontes de poluição plástica.
“No passado, os formuladores de políticas tiveram dificuldades para lidar com esse problema, em parte devido à escassez de dados de boa qualidade. Esperamos que nosso conjunto detalhado de dados em escala local ajude os tomadores de decisão a alocar recursos escassos para lidar com a poluição plástica de forma eficiente”, completou o segundo autor, Ed Cook, pesquisador associado em Sistemas de Economia Circular para Resíduos Plásticos da Escola de Engenharia Civil.
Fonte: Um Só Planeta
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