Startup brasileira que extrai metais nobres de "lixo eletrônico" recebe investimento de R$1,04 milhão

Em três anos a dinâmica da empresa -de logística reversa- já possibilitou o descarte adequado de mais de 30 toneladas de itens

Placa de computador
Foto: Gerd Altmann - PixaBay -

De acordo com uma nova análise feita pelo Monitor Global de E-lixo das Nações Unidas -divulgada em março deste ano- o acúmulo de lixo com potencial de reciclabilidadade cresce 5 vezes mais que a reciclagem desses resíduos. Para se ter uma ideia, o montante desses materiais poderiam encher mais de 1,5 milhão de caminhões de 40 toneladas cada. Para ilustrar, ainda mais, a dimensão da quantia e do problema, se esses caminhões fossem colocados em fila -um a frente do outro- a linha formada seria capaz de dar a volta no planeta Terra pela Linha do Equador.

Pensando em minimizar essa problemática de escala global -ao passo que colhe uma fonte de renda-, o pesquisador brasileiro Flávio Pietrobon transformou sua pesquisa acadêmica em receita. Criada em 2017, a Recicli é uma cleantech, uma empresa munida de tecnologia ligada ao meio ambiente e à redução do impacto ambiental. Empresas de tecnologia limpa -traduzida em português- possuem foco no setor de soluções sustentáveis, ecológicas e ambientais, com ideias e conceitos inovadores. 

Assim, a Recicli destacou-se no cenário mundial por promover  economia circular a partir da extração e reaproveitamento de materiais de valor que compõem itens eletrônicos que seriam descartados. Dentre os materiais enquadram-se, principalmente, ouro, prata e cobre. 

Inovação

Depois de operar por anos através de ferramentas simples e de pouca inovação, desde agosto do ano passado, a empresa passou a buscar investimentos externos para expandir e modernizar sua frente de trabalho. Foi assim que a startup chegou em um fundo de investimento multilateral que a contemplou com uma rodada de R$ 1,043 milhão. O feito contou com a participação de 217 investidores. 

Com projeção de entrega até o final do ano, o capital investido será revertido em melhoramentos na parte de modernização na área tecnológica da linha de produção, na infraestrutura da empresa, e na ampliação da capacidade operacional e de eficiência pré-processamento, por exemplo.

Segundo uma pesquisa da Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública (Abrelpe), mais de 25 milhões de toneladas de materiais eletrônicos foram geradas só no Brasil em 2022. E o maior problema disso tudo está na porcentagem desse montante que foi reciclada, um total de apenas 3%.

E como a Recicli faz a diferença nesse cenário? A chave da startup está no processo. A empresa utiliza de uma tecnologia que não gera impactos negativos ao meio ambiente, como a geração e emissão de poluentes e processos químicos.

Em entrevista com a Revista Galileu, um dos sócios fundadores do negócio detalhou a dinâmica:

“O que a gente faz é a separação e a recuperação dos metais nobres. O resíduo é triturado e, dentro do equipamento, conseguimos separar metais importantes.”

Ilustração Recicli
O investimento da plataforma viabilizará, ainda mais, a separação de metais nobres para reutilização – Foto: Divulgação redes sociais Recicli

Viabilização de metais nobres

Em três anos a dinâmica da empresa já possibilitou o descarte adequado de mais de 30 toneladas de itens. Assim, com esse volume, a Recicli mira recuperar cerca de 50 kg de metais nobres por tonelada de equipamentos eletrônicos. Dessa forma, calcula-se faturar um valor próximo de R$116 mil gerados por tonelada.

Além do processo de desmonte, separação e coleta dos materiais comercialmente valorosos, os idealizadores do negócio criaram uma comunicação direta com grandes indústrias para estruturar uma plataforma online de logística reversa. Essa iniciativa direciona e conscientiza consumidores sobre o descarte correto de E-lixos -como são chamados os resíduos eletrônicos em desuso. Assim, batizaram o braço da empresa de REEEturn (nome que vem da sigla REEE, referente a Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos)

A empresa também planeja desenvolver uma metodologia para reciclar placas fotovoltaicas usadas em sistemas de energia solar. Assim, poderá recuperar metais e semi-metais necessários para a produção de novas unidades.

“Temos insumos que praticamente não têm custo e, na outra ponta, temos como produto os metais de grande valor. Então, na medida em que você dá escala, isso gera uma projeção de receita e de lucratividade bastante relevante”, avalia Paulo Pietrobon para o portal da Revista.

Depois de faturar pouco mais de R$ 1 milhão em 2023, a empresa projeta um faturamento anual de cerca de R$ 61,5 milhões até 2028. Até 2031, a expectativa é alcançar uma receita acima dos R$ 2 bilhões. Neste ano, a startup quer processar de 20 a 24 toneladas; até o final de 2028, a ideia é chegar a 3 mil toneladas. Além da rodada de investimento concluída e das novas tecnologias, os fundadores da Recicli planejam estruturar uma nova captação em 2025. A expectativa é conquistar cerca de R$ 20 milhões.

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