Nos Jogos Olímpicos de 2024, o Brasil terá como porta-bandeira uma atleta da seleção feminina de rugby. Raquel Kochhann chega à sua terceira participação mostrando toda a força e disciplina do esporte. Isso depois de um tratamento de quase 2 anos contra o câncer. Recuperada e pronta para os jogos, Raquel vai levar a bandeira do nosso país junto com Isaquias Queiroz, da canoagem, na Cerimônia de Abertura de Paris, que acontece na sexta-feira (26/07).
“Essa sensação de levar a bandeira para o mundo inteiro ver em uma Cerimônia de Abertura é algo que não consigo explicar em palavras. Trabalhamos muito no Brasil para que o rugby cresça e ganhe seu espaço. Sabemos que a realidade do nosso esporte não é ter uma medalha de ouro por enquanto, apesar de termos esse sonho. Mas sempre vi que quem carrega essa bandeira tem uma história incrível e representa uma grande conquista”, celebra Raquel, camisa 10 da seleção brasileira de rugby sevens.
Esporte mundial
Pouco conhecido no Brasil, o rugby chegou ao país junto com o futebol, pelas mãos do mesmo Charles Miller. O britânico praticava as duas modalidades no seu país de origem. Assim, trouxe a prática dos dois esportes para o São Paulo Athletic Club (SPAC), “clube inglês” de São Paulo. Por alguma razão, o futebol se tornou a paixão nacional e o rugby conquistou menos praticantes – mas que sempre se destacam pela paixão pelo jogo.
Popular no mundo, em especial na Europa e Oceania, o rugby tem como tradição nomear as seleções nacionais com referências da cultura, história, natureza ou símbolos nacionais. Na Austrália, são Wallabies, na Argentina, Pumas e Yaguaretes, na África do Sul, Springbooks, e, no Brasil, Tupis e Yaras, uma homenagem e referência aos povos originários do país.
Tupis e Yaras
“A gente tem a honra e o orgulho de se chamar Yaras e Tupis. E isso carrega uma responsabilidade muito grande, né? Precisamos reforçar essas conexões, fortalecer esses vínculos e representar os povos originários no campo”, conta Mariana MIné, CEO da Confederação Brasileira de Rugby (CBRU)
A escolha de trazer os povos indígenas no peito partiu dos próprios jogadores e jogadoras que, junto com a comunidade do esporte no Brasil, escolheram esta identificação em uma votação realizada em 2012. No início, os times masculinos e femininos usavam o mesmo brasão, mas, em 2013, a seleção feminina decidiu ter uma identidade própria, sem abrir mão do vínculo com os povos indígenas. E assim nasceram as “Yaras”.
E é justamente com as mulheres que o Brasil tem alcançado os seus resultados internacionais mais expressivos: as Yaras são as campeãs sulamericanas invictas dos últimos 21 campeonatos, se classificaram para os Jogos Olímpicos desde que o rugby voltou às Olimpíadas, em 2016, e chegam a Paris depois de um ano histórico, com uma excelente campanha no circuito mundial e uma classificação inédita para a Copa do Mundo de Rugby XV, modalidade com 15 jogadoras em cada time.
“A Raquel é uma inspiração para o Rugby e carrega consigo os valores do nosso esporte: disciplina, respeito, integridade, paixão e solidariedade. Todo jogador busca colocá-los em prática dentro e fora de campo. Durante a recuperação, a Raquel sempre se apoiou nestes valores, mostrando ser uma representante genuína da modalidade”, diz a CEO da Confederação Brasileira de Rugby, Mariana Miné.
Manto olímpico
Nas Olimpíadas de Paris, os jogos serão ainda mais especiais. Além de ter a Raquel como porta-bandeira do Brasil, as Yaras vão entrar em campo com um uniforme que representa o nosso país de diversas maneiras. Com grafismos inspirados na arte dos povos indígenas e na biodiversidade brasileira, as Yaras entram em campo no domingo, dia 28 de julho. Mas, a apresentação das camisas de jogo, aconteceu há pouco mais de um mês, no Museu da Culturas Indígenas, em São Paulo.
No evento, estiveram presentes, além de atletas e parte da comissão técnica, lideranças indígenas, como Karkaju Pataxó, Coordenador de Esporte e Lazer do Ministério dos Povos Indígenas, e a cacique Juma Xipaia, secretária de Articulação e Promoção de Direitos Indígenas do Ministério dos Povos Indígenas (MPI). “As mulheres são e estão como fortalezas. Seja nos territórios, seja no esporte, seja na vida, que a gente gera e carrega”, afirmou Juma, que estava grávida na ocasião.
“Eu agradeço por todo esse esforço e dedicação para que as meninas conquistem cada vez mais espaço. Não são só vocês, vocês carregam toda uma nação. Carregam consigo toda nossa força, nossa ancestralidade, nossos saberes… E o sonho de muitas meninas. Podem ter certeza de que estamos com vocês!”, ressaltou.
Assim, Juma se dedica há mais de 14 anos ao Movimento Indígena e é a primeira mulher a se tornar cacique no Médio Xingu, liderando a aldeia Tukamã. “Não tenho dúvida de que o Brasil estará muito bem representado por vocês e nós, enquanto povos indígenas, também”, disse a cacique.
Rugby nas olimpíadas
Na disputa dos Jogos Olímpicos de Paris, a seleção brasileira de rugby terá três uniformes confeccionados pela empresa Kickball. O principal é composto por camisa amarela, short verde e meiões com listras nas duas cores. Já o segundo uniforme de competição tem o branco e o verde como cores predominantes, além de pequenos traços em amarelo.
“É um momento muito importante para a gente, de mostrar nosso novo uniforme para os jogos olímpicos, que está linda. Poder mostrar para todo o Brasil a riqueza que a gente tem aqui dentro e mostrar como vamos representar a Yara lá em Paris“, diz Raquel.
Dessa forma, design de ambas as camisas conta com detalhes geométricos inspirados em artes indígenas e animais característicos da fauna brasileira. Por exemplo, como boto, jiboia, mico-leão e lobo-guará. O uniforme de treino, também, tem o azul e o preto como cores principais, acompanhado de detalhes em verde e amarelo.
“O grafismo indígena faz parte da nossa espiritualidade, não são simples figuras. Usamos no tempo certo, em ocasiões especiais, como casamento, ritos de passagem, dias de luto, festejos e cerimônias. Não usamos de qualquer jeito. É importante uma seleção do Brasil levar os grafismos indígenas, estarão protegidas espiritualmente”, explica Cláudio Verá, Mestre de Saberes do Museu de Culturas Indígenas. “As Yaras vão representar isso: 305 povos e 274 línguas”
Ao final da região, as lideranças indígenas receberam camisas das Yaras e celebraram esta conexão. “As meninas poderem trazer o nome Yara, o grafismo indígena de diferentes povos. Isso mostra a coragem delas de trazer no peito o orgulho de ser indígena, de carregar no peito a diversidade de povos que existe no Brasil”, completa Juma.
Assim quem for torcer pelas Yaras em Paris e quiser conhecer um pouco melhor do jogo de rugby, pode conferir um pouco mais sobre o esporte no vídeo:
Fonte: Ciclo Vivo
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