
Foi preciso que o calor matasse, que os vetores subissem o mapa e que as emergências ambientais se acumulassem nos corredores dos hospitais para a saúde finalmente entrar no centro da agenda climática, não como tema de apoio, mas como linha de frente.
Hoje, acredito que não há debate sobre futuro que possa ignorar o impacto da crise climática sobre os corpos. A temperatura média sobe e, com ela, crescem os atendimentos por doenças respiratórias, cardiovasculares, infecciosas. As cidades inchadas produzem ilhas de calor, as chuvas desordenadas espalham contaminação, os desastres ambientais afetam sobretudo quem já vive em condição de vulnerabilidade. E tudo isso se concentra nos territórios onde o saneamento é precário, o transporte é ruim, a moradia é frágil e o acesso à saúde básica é limitado, quando existe.
A OMS já classificou (em 2015) as mudanças climáticas como “a maior ameaça à saúde global no século XXI”. Mas, no Brasil, isso não é mais uma previsão, é um dado de realidade. Estudos recentes mostram que o aumento da temperatura está diretamente associado à elevação das taxas de hospitalização por infartos e derrames em populações de baixa renda.
O calor extremo afeta o sono, altera o humor, intensifica transtornos mentais e amplia desigualdades sociais preexistentes, inclusive entre gêneros e raças. O racismo ambiental se revela, aqui, em sua face mais cruel: é também sobre quem adoece primeiro, quem sofre mais e quem morre antes.
E foi por todas essas questões, e muitas outras mais que, quando o mapa de programação da curadoria da Conferência Sustentabilidade Brasil 2025 começou a tomar forma, ficou nítido para nós: discutir clima é, invariavelmente, discutir saúde. Assim, o tema virou trilha, com a responsabilidade de provocar, tensionar e ampliar o repertório de quem formula políticas públicas, atua na assistência, pesquisa o território ou enfrenta, no cotidiano, os efeitos silenciosos — e nem tão silenciosos assim — de uma crise que já é sanitária, social e climática ao mesmo tempo.
Ao longo dos debates, temas como saúde mental, impactos do calor extremo, segurança hídrica, doenças negligenciadas, emergência alimentar e desigualdade de acesso ao cuidado atravessam as discussões. O foco está em revelar as camadas que conectam saúde, território e justiça climática, sempre com o cuidado de trazer múltiplas perspectivas, e não uma única verdade técnica.
A proposta é deslocar o olhar da patologia para o contexto, da estatística para o rosto, da curva para a rua. Porque, no fim, não se trata apenas de salvar o planeta, e sim de proteger as pessoas que estão tentando viver nele.
Serviço
O Sustentabilidade Brasil acontece de 11 a 14 de junho de 2025, em Vitória (ES). O evento, etapa oficial da COP 30, é realizado pelo Instituto Sustentabilidade Brasil, sem fins lucrativos, aberto ao público e gratuito.
Por Dani Klein, especialista em ESG e líder da curadoria da Conferência Sustentabilidade Brasil 2025
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