Em 2006, o dicionário New Oxford American Dictionary definiu “neutralidade de carbono” como a expressão do ano. Quinze anos depois, o termo ficou mais popular e extrapolou o campo científico. Hoje, a neutralidade de carbono permeia discussões sobre economia, política, diplomacia e ativismo ambiental. Atingir a tal neutralidade é um ponto-chave para alcançar as metas definidas no Acordo de Paris, tratado climático assinado em 2015, e mitigar os efeitos causados pela mudança do clima.
A neutralidade de carbono significa buscar o equilíbrio entre as emissões e a absorção de carbono por sistemas naturais, o que faz com que o saldo na atmosfera seja, literalmente, neutro. Segundo o gerente sênior de Economia da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN), André Ferretti, a neutralidade “é o equilíbrio entre o que é emitido e removido da atmosfera. A atividade pode continuar emitindo gases de efeito estufa e, com projetos de remoção, ela tira o equivalente da atmosfera e tem um balanço neutro”.
Em 2018, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, o IPCC, estipulou que o planeta precisa alcançar a neutralidade nas emissões de dióxido de carbono até 2050 e de todos os gases de efeito estufa até 2070, considerando o cenário em que há a intenção real de enfrentar as mudanças do clima. Caso contrário, será extremamente improvável manter o aquecimento global abaixo de 2°C em comparação com níveis pré-industriais, conforme estipulado pelo Acordo de Paris.
Importância
Para entender a importância de se atingir a neutralidade de carbono, primeiro é preciso compreender por que esse é um dos maiores desafios do século. Os chamados gases de efeito estufa são moléculas como dióxido de carbono, metano, óxido nitroso, entre outros. Eles são os responsáveis por gerar o efeito estufa no planeta, o qual permite que a Terra tenha condições ideais de temperatura para a existência de vida. Contudo, ao longo dos últimos séculos, as atividades humanas, principalmente após a industrialização, aumentaram a emissão de gases na atmosfera, o que levou ao aquecimento global. Isso aconteceu principalmente pela queima de combustíveis fósseis, como petróleo e carvão, que liberam CO2.
Enquanto essas ações desenfreadas impactaram negativamente no clima, as discussões políticas e econômicas atuais buscam alcançar a descarbonização da economia, ou seja, a transição para fontes de energia limpas e renováveis. O aumento da temperatura do planeta vem causando o aumento do nível do mar e tornando eventos naturais cada vez mais intensos. O ano de 2021 foi marcado por eventos extremos, como incêndios devastadores nos Estados Unidos e enchentes mortais na Europa.
Biomas diretamente influenciados
Florestas, como a Amazônia, áreas de manguezais e ecossistemas marinhos, além de outras áreas naturais do planeta, são consideradas sumidouros de carbono. Os sumidouros são sistemas naturais que absorvem mais carbono do que emitem. De acordo com a Comissão Europeia, essas regiões removem entre 9,5 e 11 bilhões de toneladas de CO2 do ar a cada ano. Por mais que muitos setores reduzam as suas emissões, algumas atividades não vão conseguir eliminar totalmente a emissão de gases de efeito estufa. Por isso, uma estratégia é investir na restauração de ecossistemas. Assim, tendo o objetivo de que a natureza atue como mecanismo para sequestrar esse carbono da atmosfera. Outro modo de nos aproximar da neutralidade de carbono é investir em ramos cuja própria atividade contribui para o meio ambiente. Por exemplo, energias renováveis e tecnologias de baixo carbono.
Setor privado
De acordo com o pesquisador do Instituto Climainfo Shigueo Watanabe, o conceito faz parte do Acordo de Paris. Além disso, é comumente usado como sinônimo para net zero, termo que se refere ao equilíbrio entre emissões e a absorção por ecossistemas naturais. “Dizemos que um país ou empresa alcançou o net zero quando suas emissões de gases de efeito estufa são equivalentes à quantidade de dióxido de carbono que ela removeu da atmosfera”, explicou.
Pelo ponto de vista do setor privado, há muitas oportunidades de investimento. As empresas podem transformar os seus processos internos de produção. Assim, investindo em fontes limpas para a geração de energia, e apoiar projetos que gerem os chamados créditos de carbono. A compensação das emissões pode ser feita de forma voluntária. Isso, através da compra de “sobras” de outra empresa, por exemplo, que conseguiu reduzir as suas próprias emissões e gerou créditos que podem ser vendidos. Está em discussão um projeto de lei que pretende instituir o mercado regulado de créditos de carbono no Brasil. Dessa forma, o cenário poderá gerar novas oportunidades para as empresas e o país.
Fonte: Jennifer Ann Thomas, para o Um Só Planeta
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