Muitos países estão buscando ativamente uma estratégia de reindustrialização e desglobalização, embora a maioria das nações não possa ser totalmente autossuficiente no mundo moderno. Como uma nação pode optar por sair do comércio globalizado, considerando que isso teve uma importância histórica? De que forma podemos alinhar os recursos nacionais para atender ao desenvolvimento local e construir um futuro baseado em princípios ESG? Como serão financiados os planos de reestruturação nacional, se não for pelo capital global? Essas foram algumas das perguntas que desenvolveram o painel “Navegando pela globalização para ESG”, na 8ª edição da reunião internacional Horasis Global Meeting, que aconteceu em Vitória, no Espírito Santo, no último final de semana.
O debate foi mediado pelos convidados Jorge Arbache, da Universidade de Brasília; Fabien Clerc, Cônsul da Suíça em São Paulo; Andres Hayes, CEO da Airtifae Group (Washington, DC); Yurong Li, representando a Lipatech (China) e Salim J. Saud Neto, da Saud Advogados. A reunião de 1 hora e meia girou em torno de temas principais como o Turismo sustentável, os impactos da globalização na dinâmica da economia das nações e transição energética.
Arbache mediou a mesa de discussões e abriu o painel trazendo pautas como a mudança do mercado e novos focos de investimentos -por parte de grandes empresas- a partir da década de 80, principalmente nas maiores potências do planeta: China e Estados Unidos. Em suas falas, o professor de economia afirmou que, com a ascensão da globalização, houve uma modificação na forma como o mundo enxerga as economias globais, fazendo com que as esferas sociais fossem vistas por outras perspectivas. Reiterou, ainda, que essa transformação ocorreu desde o mercado alimentício e da moda até o crescimento do nearshoring.
Tendências
Do termo em inglês que significa “perto da costa”, o nearshoring traduz-se em uma estratégia empresarial que consiste em transferir atividades comerciais para países próximos geograficamente, em vez de optar por locais distantes. A nova tendência das gigantes globais, possibilitou a criação de novos blocos comerciais e geopolíticos para facilitar o intercâmbio de mercado dos continentes. Nessa linha de raciocínio, Jorge trouxe provocações como “Onde queremos estar, economicamente falando, diante do mundo?” e ascendeu a temática da green inflation (ou greenflation, que significa o aumento dos preços de commodities e serviços como energia, matéria-prima, e outros componentes como resultado do aumento na demanda pela transição energética e a produção de energia limpa).
Clerc, cônsul suíço na embaixada de São Paulo, trouxe diversas contribuições acerca do intercâmbio de iniciativas no mercado do turismo sustentável suíço diante do brasileiro. O diplomata deu detalhes sobre projetos e leis que vêm funcionando na preservação do meio ambiente de seu país, como a iniciativa “Swisstainability”. Segundo ele, o mindset da população tem sido: “temos a honra de possuir tantas belezas naturais, então é mais que nossa obrigação mantê-las e preservá-las, bem como aproveitar para explorar um turismo ecológico responsável. Praticamente a população toda pensa dessa maneira!”
Turismo referência
Além disso, o executivo diz que uma das prioridades atuais do setor turístico suíço é disseminar estratégias que potencializem o turismo em todo o território, não apenas em grandes polos urbanos, bem como intensificar a procura durante todo o ano. Não apenas em 2 estações do ano. Dessa forma, o turismo torna-se mais potente e auto suficiente, segundo ele.
Fabien disse, ainda, que acredita que os primeiros passos para o brasil sair-se bem nessa corrida por novos tempos é investindo, em inovação. Além disso, defendeu a priorização de políticas públicas de longo prazo -não apenas de um mandato de 4 anos. E finalizou concordando com otimizar e aliar a agricultura à transição energética e garantir a segurança alimentar de uma vez por todas no país. Posteriormente, opinou que a nação brasileira tem muito potencial de crescer no cenário mundial se investir nas tecnologias verdes -do inglês green technology. Assim, cita que países da Europa não possuem abundância em muitas matérias primas. Dessa forma, exemplificou a necessidade de importação de aço para um das maiores indústrias suíças: a de relógios.
Estratégias em meio a globalização
Ainda sobre o tópico do turismo sustentável, o CEO da Airtifae Group em Washington, Andres Hayes contou que sua empresa visa ajudar países, estados e escritórios de desenvolvimento econômico a criar uma estratégia focada no mercado para suas iniciativas de negócios internacionais, para que possam diversificar e melhorar sua economia local e dar ainda mais suporte para que seus negócios se expandam internacionalmente de forma responsável e com princípios ESG. Segundo ele, um dos principais aliados do seu trabalho é a internet. Ele trouxe a relevância das redes sociais na eficiência em espalhar as novidades e novos estilos de vida através do desenvolvimento verde.
Hayes defendeu, então, que todas as cidades devem se preocupar com o crescimento respeitando a agenda ESG. Pois, mesmo dentro da esfera do turismo, um desenvolvimento sem estratégias sustentáveis pode colocar um prazo de validade no setor. Dessa forma, tornando-o, literalmente, insustentável a longo prazo.
“Com a ascensão da globalização, as grandes cidades super visitadas e turísticas vão colapsar! Faltará água, infraestrutura de hospedagem, etc. Isso significa que todas as esferas do mercado atual necessita adequar-se aos moldes ESG. Isso significa, então, que não podemos nos prender à mudanças apenas no setor industrial. Cada país tem uma necessidade, mas o que temos em comum são as mudanças climáticas. E ela veio pra ficar! O mundo está mudando e temos que mudar com ele. Temos que acompanhá-lo.”
Andres Hayes, Airtifae Group – Washington, DC.
Receba as principais notícias sobre sustentabilidade no seu WhatsApp! Basta clicar aqui