Desde as especificações do primeiro Dia da Terra global em 1992, o governo brasileiro tem incentivado ações específicas ao controle climático. O país tem se envolvido nas conferências anuais da ONU/COP e será o anfitrião da 30ª edição desse evento em novembro de 2025, em Belém, onde nações do mundo inteiro apresentarão suas propostas nacionais. “Como podemos ajudar o Brasil na questão do crédito de carbono?”. “De que forma os países podem educar melhor sua população sobre opções de mitigação?” . “Quais estratégias podem ser interrompidas para gerenciar os principais poluidores atuais?”
Essas foram perguntas motivadoras do painel “Brasil e as Mudanças Climáticas” no fórum internacional Horasis Global Meeting que aconteceu no último final de semana, em Vitória -ES. Estiveram presentes representantes de grandes nomes do mercado da mineração, da aviação e da exploração do crédito de carbono. Com a sala cheia a mesa redonda discutiu iniciativas e projetos já em prática nesses mercados e o que ainda pode ser feito para o Brasil elevar seu nível no cenário global de ESG e transição energética, por exemplo.
Paul Malicki, representante da Flapper -empresa de aviação executiva-, durante sua contribuição no painel trouxe tópicos relacionando o estágio que o país encontra-se diante do cenário global de energia limpa e tecnologia. Segundo o executivo, atualmente o setor de aviação representa 2% das emissões de carbono na atmosfera. Entretanto, apesar do Brasil ser uma potência no cultivo de cana-de-açúcar, pouco converte esse potencial em produção de combustível limpo para a aeronáutica. Em sua fala, o CEO trouxe indignação com relação ao setor brasileiro precisar importar esse material, sendo um dos maiores polos do agronegócio do planeta. Dessa forma, defendeu o investimento em tecnologia e inovação no setor, com novas estratégias e objetivos do setor agrícola.
Possibilidades
“É possível eletrificar um BOEING 737? A curto prazo não, mas a médio e longo sim. Chegamos a conclusão que a melhor forma de chegar a uma compensação de carbono é através dos combustíveis sustentáveis. Porém, o país líder mundial em produção de etanol não possui uma empresa grande especializada nesse tipo de produto. Ou seja, hoje, compramos esse combustível da Europa! E é caro. Muito caro. Por isso, precisamos do incentivo do governo a longo prazo. E com novas declarações de que nas próximas décadas a porcentagem de emissões no setor terá que diminuir, veremos como isso afetará o Brasil, uma vez que alguém vai ter que pagar por isso, pois infelizmente, o setor de transporte como um todo é o maior poluidor da Terra”
Paul Malicki, CEO Flapper
E finalizou dizendo que apesar de não ser um problema fácil, acredita que essa é uma discussão essencial para que um país entenda para qual direção quer caminhar nesse cenário emergente do planeta. E que acredita que o Brasil não necessita tornar-se melhor naquilo que já é bom -Agronegócio-, ele precisa otimizar essa vantagem perante o mundo e avançar no mercado que é o futuro. Dessa forma, poderá, segundo ele, sair de um patamar de país emergente agrícola para um ramal de referência de produção de matéria prima e inovação no setor de energia limpa.
Crédito de Carbono
Na mesma discussão, Demetrius Guiot, representante da AgrocarbonBR, disse acreditar que a transição energética nos setores da aviação exige uma reestruturação de gigantes nacionais no mercado do etanol. A companhia AgrocarbonBR oferece soluções ambientais para exploração do crédito carbono em áreas produtivas. Segundo ele, para que uma nação melhore sua economia do crédito de carbono -”seja da tundra ou dos manguezais”- ela precisa entender seus cenários latentes e otimizar as iniciativas com suas prioridades socioambientais. Assim, exemplificou o trabalho da empresa na região do Maranhão, onde lidam com problemas de segurança ambiental da população.
“Se não houver projetos e medidas práticas, tudo vira apenas discurso e a gente não avança!”, afirmou Guiot. Além disso, expôs iniciativas e nações que vêm crescendo no cenário de crédito de carbono, como é o caso do Brasil, Indonésia e Colômbia que, sozinha, já possui 1570 projetos de proteção ambiental e reflorestamento na região amazônica.
Sabatina
Após 60 minutos de exposição por parte dos painelistas, abriu-se uma rodada de interação com o público, onde receberam provocações e questionamentos dos participantes. Durante a sabatina, surgiu a pauta sobre o país estar buscando soluções externas e internacionais sem entender as reais demandas do cenário nacional. Assim, desperdiçando oportunidades e soluções internas. Dessa forma, os participantes exemplificaram o uso do combustível limpo. A questão era sobre o mercado brasileiro estar discutindo a eletrificação das frotas, enquanto o etanol, ainda, ser pouco usado se comparado com a gasolina.
Além da colocação, houve espaço para exposição de projetos de ouvintes como o “Selo XIS”, por exemplo, uma ONG de certificação de turismo sustentável. Ela realiza um trabalho socioambiental, tal qual fornece apoio financeiro a famílias apelidadas de “guardiãs do clima”. Essas vivem em regiões preservadas e têm o papel de contribuírem com a fiscalização de regiões turísticas.
Durante o bate papo, surgiu, também, uma provocação sobre o desastre da Vale de alguns anos atrás. Assim, o representante da mineradora foi questionado sobre qual é o compromisso assumido pela empresa com a sociedade e o meio ambiente pós incidente. Em resposta, Rodrigo Ruggiero -responsável pelo planejamento de produção da companhia- declarou que pós o ocorrido, a empresa tem tornado-se referência mundial na área de tecnologia e inovação no âmbito de segurança e modernização de barragens. Além disso, afirmou que, atualmente, não há mais filtragem de resíduos -como anteriormente-. Assim, não há produção de água com rejeitos.
“Hoje, há uma tecnologia que resseca os rejeitos e os transformam em blocos sólidos e secos. Assim, evitamos desastres como o que aconteceu em Mariana e Brumadinho.”, contou o representante.
Cerrado
Além desses tópicos, surgiu, ainda, o assunto sobre a valorização do Cerrado na temática de proteção ambiental e valorização do bioma brasileiro. De acordo com Marcelo de Andrade, da Pro Natura International, a região ainda é bastante desvalorizada na esfera da geração de crédito de carbono. Ele explica que isso acontece pois esse processo ocorre -majoritariamente- no subsolo da vegetação -pelas raízes. Entretanto, esperançou os presentes afirmando existir, cada vez mais, projetos que buscam esse reconhecimento do ecossistema.
“Há 38 anos, ouvi de uma autoridade do assunto ambiental que “o homem não está destruindo o Planeta. O Planeta é um ser vivo muito forte. Muito mais forte que qualquer “vírus” que vive em sua carcaça. O homem está, na verdade, inviabilizando a PRÓPRIA capacidade de viver no Planeta.” E eu não consigo achar uma forma de discordar dessa colocação!”
Marcelo de Andrade, Pro-Natura International.
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