O mercado de carbono surge como um dos principais instrumentos econômicos no enfrentamento das mudanças climáticas ao transformar a redução de emissões de gases de efeito estufa em um ativo negociável, capaz de gerar incentivos financeiros para a descarbonização.
Felipe Mello, biólogo, mestre em Desenvolvimento Sustentável, especialista em Gestão de Projetos e sócio-diretor técnico da Greenway Soluções em Descarbonização explica que esse mercado funciona por meio da “quantificação, certificação e comercialização de créditos de carbono”. Cada crédito representa, em regra, “uma tonelada de CO₂ equivalente que deixou de ser emitida ou foi removida da atmosfera”.
Segundo Mello, a lógica do mercado está diretamente ligada à criação de valor econômico a partir da mitigação climática. “Sua importância está no fato de transformar a redução de emissões em um ativo econômico”, afirma.
Ao quantificar e certificar esse benefício ambiental, o mercado cria uma base concreta para que a redução de gases de efeito estufa deixe de ser apenas um compromisso abstrato e passe a integrar decisões econômicas.
Ainda conforme o especialista, esse mecanismo gera incentivos financeiros claros para diferentes atores. “Em vez de tratar a descarbonização apenas como custo, o mercado de carbono a converte em estratégia de negócio e instrumento climático”, diz.
Nesse contexto, empresas, produtores rurais e governos são estimulados a investir em eficiência energética, energias renováveis, conservação florestal e tecnologias de baixo carbono.
Brasil e o mercado de carbono
A relevância do tema também foi destacada pelo professor Pedro Brancalion, da Universidade de São Paulo (USP). Ele falou durante o evento Fapesp Day Uruguay, realizado em novembro, em Montevidéu.
Na ocasião, o pesquisador afirmou que o Brasil “pode se tornar um grande player no mercado global de crédito de carbono”. As informações são da Agência Fapesp.
Para que esse potencial se concretize, no entanto, ele ressaltou a necessidade de investir em tecnologia e em novas estratégias de quantificação do carbono.
Dessa forma, durante a apresentação, Brancalion mostrou resultados de projetos que buscam alavancar o mercado de crédito de carbono no país. Um deles levou ao desenvolvimento de uma nova equação para estimar a biomassa acima do solo em áreas de restauração florestal na Mata Atlântica, capaz de aumentar em 30% os créditos de carbono gerados nesses processos.
“Imagine uma empresa que cria gado para produzir carne. De repente apresentamos uma tecnologia revolucionária, que aumenta em 30% a produção de carne sem gastar um centavo a mais. É um milagre quase. É o que estamos proporcionando para o setor de restauração para carbono. Não porque a gente está roubando, mas porque estamos quantificando melhor”, afirmou.
Assim, Brancalion explicou que a base do avanço está na melhoria da mensuração. “Ninguém vai comprar crédito de carbono se houver dúvida em relação à quantidade que está sendo comercializada”, disse.
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