Do velhos celulares a geladeiras quebradas e cigarros eletrônicos descartados, o lixo eletrônico e resíduos derivados globais atingiram recordes e estão crescendo cinco vezes mais rápido do que as taxas de reciclagem – trazendo uma série de problemas de saúde, ambientais e climáticos, de acordo com uma nova análise.
Os números são impressionantes. Em 2022, o mundo gerou 62 milhões de toneladas métricas de resíduos eletrônicos, também conhecidos como “e-lixo”, de acordo com o Monitor Global de E-lixo das Nações Unidas divulgado em março deste ano.
Para colocar em perspectiva, esses resíduos poderiam encher mais de 1,5 milhão de caminhões de 40 toneladas que, se colocados para-choque a para-choque, poderiam formar uma linha longa o suficiente para dar a volta na linha do equador.
E-lixo é o termo guarda-chuva para qualquer produto descartado que tenha um plugue ou uma bateria e frequentemente contém substâncias tóxicas e perigosas, como mercúrio e chumbo.
À medida que o mundo se torna cada vez mais dependente da eletrônica – e quantidades crescentes estão sendo vendidas em países em desenvolvimento pela primeira vez – este fluxo de resíduos perigosos está aumentando.
O e-lixo global em 2022 aumentou 82% em comparação com 2010, segundo o relatório, e está a caminho de aumentar mais 32% para atingir 82 milhões de toneladas métricas em 2030.
Então, conclui-se que a capacidade de reciclagem não está acompanhando o ritmo.
Assim, menos de um quarto do e-lixo (22,3%) produzido em 2022 foi documentado como coletado e reciclado, segundo o relatório. Desde 2010, o crescimento do e-lixo superou o crescimento da coleta e reciclagem formais em quase cinco vezes, calculou o relatório.
E-LIXO
A maioria do e-lixo acaba em aterros sanitários ou faz parte de sistemas informais de reciclagem, onde os riscos de poluição e impactos prejudiciais à saúde são altos.
Pequenos dispositivos eletrônicos, como brinquedos, aspiradores de pó e cigarros eletrônicos, tiveram taxas de reciclagem particularmente baixas. Assim, a média ficou em torno de 12%, apesar de representarem cerca de um terço de todo o e-lixo, constatou o relatório.
As taxas de reciclagem tendem a ser mais altas para equipamentos mais pesados e volumosos, como unidades de ar condicionado e telas de TV, devido ao seu tamanho e preocupações de saúde associadas.
À medida que a lacuna entre a geração de e-lixo e a capacidade de reciclagem continua a crescer, “a taxa de reciclagem poderia realmente diminuir nos próximos anos”, disse Vanessa Gray, uma especialista em e-lixo da União Internacional de Telecomunicações e autora do relatório, à CNN.
O relatório prevê que as taxas de coleta e reciclagem diminuirão para 20% em 2030.
Jim Puckett, fundador e diretor-executivo da Basel Action Network, um grupo de monitoramento de e-lixo, chamou as conclusões do relatório de “sombrias”.
Os resultados revelam que os fabricantes estão mostrando “uma falta de dever de cuidado” ao não assumir a responsabilidade pelo que acontece com seus produtos no final de sua vida útil, disse Puckett, que não estava envolvido com o relatório, à CNN.
“Os fabricantes têm de ser arrastados, a contragosto”, para fazer produtos que durem, ele disse, “e não apenas projetar produtos para o lixo, esperando que possam nos vender um novo o mais rápido possível.”
Os fabricantes precisam de planos claros para a remoção, coleta e reciclagem das partes tóxicas e perigosas de seus produtos, acrescentou Puckett.
Dessa forma, conclui-se que além de ser um problema ambiental, o e-lixo também é um problema climático.
Lixo eletrônico: composição
Os dispositivos eletrônicos requerem matérias-primas, incluindo metais de terras raras. Assim, esses são extraídos e processados em um processo altamente intensivo em energia, principalmente alimentado por combustíveis fósseis. À medida que a demanda aumenta e as pessoas são persuadidas a substituir os dispositivos com mais frequência, o impacto climático está crescendo.
A gestão adequada de e-lixo e a disposição reduzem a poluição global por carbono. Dessa forma, recuperando metais e reduzindo a necessidade de extrair novas matérias-primas.
“Quanto mais metais reciclarmos, menos precisaremos minerar”
Kees Baldé, autor principal do relatório e especialista científico sênior do Instituto de Treinamento e Pesquisa das Nações Unidas, à CNN.
A reciclagem de metais a partir de e-lixo, em vez de extrair novas matérias-primas, evitou aproximadamente 52 milhões de toneladas métricas de emissões. Dessa forma evitou que essas aquecessem ainda mais o planeta em 2022, segundo o relatório.
Uma melhor gestão de e-lixo, como geladeiras e condicionadores de ar, também pode reduzir o impacto climático desses resíduos.
Além disso, a reciclagem pode liberar valor armazenado nesses produtos. Metais no valor de aproximadamente US$ 91 bilhões estavam embutidos nos e-lixo descartados em 2022, incluindo US$ 15 bilhões em ouro, constatou o relatório.
Políticas mundiais
Apesar da crescente preocupação global com o e-lixo, apenas 81 países tinham políticas de e-lixo em 2023. Essa informações foram divulgadas no relatório, incluindo países da União Europeia e a Índia.
Os Estados Unidos, que estão entre os maiores produtores de e-lixo, não possuem uma lei federal que exija a reciclagem de eletrônicos. Embora alguns estados, incluindo Washington DC, tenham implementado suas próprias regulamentações de e-lixo.
Mas mesmo onde existe legislação de e-lixo, a fiscalização “continua sendo um desafio genuíno globalmente”, afirmaram os autores do relatório em um comunicado.
Como começar a Uma das melhores maneiras lidar com o e-lixo? Países ricos pararem de despejá-los em países que não têm capacidade para lidar com eles, disse Baldé.
Em países de baixa e média renda, o e-lixo – grande parte dele importado de países ricos – frequentemente é manuseado por sistemas de reciclagem informais. Além disso, não são regulamentados e, assim, causam impactos severos na saúde e na poluição.
Fonte: Rachel Ramirez – CNN
Receba as principais notícias sobre sustentabilidade no seu WhatsApp! Basta clicar aqui