Hollywood parece estar se abrindo para histórias sobre mudanças climáticas. Desde 2021, a comunidade de entretenimento e mídia realiza o Hollywood Climate Summit e, como parte do evento, há um “pitchfest” para o recebimento de roteiros ainda não produzidos com temática climática no cinema e na televisão.
Na edição do ano passado, 125 foram entregues. E, após análise com base na força das histórias, na diversidade dos personagens e na atenção dada ao clima, 51 semifinalistas foram escolhidos. Depois, um júri formado por veteranos da indústria do entretenimento selecionou 18 finalistas.
Uma delas foi Nicole Conlan, escritora indicada ao Emmy que escreve piadas para Jon Stewart, do “The Daily Show”. Além disso, ela tem mestrado em planejamento urbano pela Universidade do Sul da Califórnia (USC).
Em apresentação para executivos na sede do NBCUniversal na semana passada, ela explicou que seu show retrata uma personagem que se envolve na defesa do clima por motivos egoístas e lentamente aprender a se importar. O ponto de partida para muitos dos episódios é o mundo ambiental, mas no fundo é uma série sobre os personagens e suas interações, salientou.
Em seu boletim informativo Boiling Point, publicado no Los Angeles Times, o colunista climático Sammy Roth analisa que, até hoje, não há referências suficientes à crise climática nos filmes e nas séries que são lançados.
Para se ter uma ideia, uma pesquisa realizada pela USC constatou que dos 37.453 episódios televisivos e filmes lançados entre 2016 e 2020, apenas 2,8% mencionavam as mudanças climáticas ou termos relacionados.
Importância da pauta chegar em Hollywood
Mais recentemente, o teste Climate Reality Check, que determina se um longa-metragem ou programa de televisão reconhece que vivemos um momento de aquecimento global, verificou que, dos 13 filmes de ficção indicados ao Oscar este ano ambientados na Terra atual ou em um futuro próximo, apenas 3 o faziam.
Mas por que é importante que Hollywood conte histórias sobre o aquecimento do planeta, ou que tenham o assunto em seu pano de fundo? Roth enfatiza que “o entretenimento que consumimos pode moldar a forma como entendemos e interagimos com o mundo”. Em sua coluna, lembra que o Programa de Comunicação sobre Mudanças Climáticas de Yale informou na semana passada que muitos americanos dizem que se envolveriam em ações políticas sobre o clima – assinando uma petição, doando dinheiro a um grupo de defesa, voluntariando-se ou contatando funcionários do governo, por exemplo – se alguém de quem gostassem ou respeitassem lhes pedisse.
É aqui que a televisão e o cinema podem ser uma grande ajuda – mesmo quando não contam histórias focadas apenas no clima. “Você coloca essas histórias na frente das pessoas e esconde o espinafre na pipoca”, disse Jasmine Russ, vice-presidente de produção e desenvolvimento da Fabel Entertainment, uma das empresas por trás da série Bosch, exibida pela Amazon Prime Video.
Russ participou das apresentações de roteiros sobre o clima no NBCUniversal e afirmou que ficou impressionada com as histórias.
Climate Summit
Ela gostou especialmente dos gêneros terror, ficção científica e fantasia. “Você não espera isso”, disse em entrevista para o Boiling Point. “As pessoas têm esta ideia meio ‘Erin Brockovich’ de como é uma história ambiental. Mas representação sem esforço é o que todos devemos almejar. Esse é o tipo mais eficaz.”
Os finalistas do pitchfest com quem Roth conversou informaram que não tinham grandes esperanças de que suas propostas fossem aceitas. Até porque, no evento de 2022, nenhuma foi concretizada. Ainda assim, alguns deles encaram o pitchfest como uma oportunidade valiosa para networking e feedback.
Enquanto isso, para os organizadores do Hollywood Climate Summit, o evento é uma forma de continuarem apresentando seus argumentos aos estúdios. “A realidade é que cada pessoa nesta sala já criou um conteúdo desafiador que também é divertido. Transformamos tragédias em comédias o tempo todo. E estamos aqui para mostrar que o clima pode ser igual”, analisou Ali Weinstein, uma das cofundadoras da cúpula.
O NBCUniversal em particular parece interessado em contar histórias sobre a tematica. A empresa, inclusive, lançou o Programa GreenerLight, comprometendo-se a tornar a sustentabilidade uma prioridade não apenas nos bastidores, mas também na frente das câmeras.
Kimberly Burnick, diretora de conteúdo sustentável da Universal Pictures, controlada pela empresa, revelou à Roth que estava otimista sobre o que está por vir. Assim, segundo ela, muitos dos cineastas e executivos criativos estão gostando do desafio de “aproveitar seu impacto”.
Fonte: Um Só Planeta
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