De olho no carbono: rotulagem verde carece de fiscalização, mas tem aderência de consumidores, avaliam especialistas

Atualmente cada companhia decide como demonstrará sua pegada ambiental nas embalagens, seguindo parâmetros que diferem para cada empresa de medição.

Foto de Kampus Production - Pexels -

A transparência climática inserida na rotulagem dos produtos ainda é desafio para as empresas. Com baixa regulação e diferentes formas de medir impactos ambientais e sociais, os consumidores precisam estar atentos na hora de substituir produtos do seu dia-a-dia, buscando um caminho mais verde.

Essa foi a reflexão levantada durante a Live do Um Só Planeta sobre os impactos da rotulagem climática para o consumo sustentável, realizada no mês passado. Com mediação da jornalista e editora Naiara Bertão, o bate-papo trouxe um panorama sobre a adesão de uma política de transparência verde por parte de empresas de todos os setores.

Maycon Schuber, professor e pesquisador da UFRGS, destacou a necessidade de regulação. Atualmente cada companhia decide como demonstrará sua pegada ambiental nas embalagens, seguindo parâmetros que diferem para cada empresa de medição.

“O setor carece de um marco técnico e jurídico em relação às métricas, que são expostas nessa rotulagem, é difícil identificar o que é um produto de baixo, médio ou alto carbono. E também de identificar a rotulagem verde”, disse o especialista.

Segundo Schuber, em alguns casos é até difícil identificar os parâmetros de rastreabilidade do produto para garantir que aquela informação seja verdadeira. “Não existe uma legislação ainda no Brasil sobre esse tipo de rótulo, como, por exemplo, existe agora para os padrões de carboidratos, açúcares e afins”, diz.

Startups

Para Giovanna Meneghel, CEO e cofundadora da Nude, uma foodtech que desenvolve seus alimentos a partir da aveia, a transparência climática é um processo que deve ser expandido de empresa para empresa. Pensando nisso, a foodtech criou o movimento “Mostre sua pegada”. “Criamos esse movimento justamente para chamar outras marcas a fazerem o mesmo e colocarem a pegada de carbono nas embalagens. Até o momento, a empresa conseguiu 30 marcas que fazem parte do processo”.

Foto de Nicolás Rueda – Pexels

Uma dessas marcas é a Pantys, focada na produção de calcinhas que funcionam como absorvente menstrual lavável. A CEO e cofundadora da marca, Emily Ewell, contou que no caso da Pantys, a busca por uma rotulagem climática partiu dos clientes. Eles, então, que sempre perguntavam sobre o nível de sustentabilidade do produto.

A partir disso, então, a marca passou a rastrear seus processos e começou a entender como medir e apresentar os números. “Existe um lado que é mais transparência para o consumidor, mas existe outro lado que para a empresa, é importante saber onde a Pantys está fazendo o bem e o que podemos fazer para melhorar”, diz.

Dessa forma, o trabalho de buscar mostrar o impacto da empresa é mais associado a produtos e serviços ligados ao meio ambiente. No entanto, companhias grandes, como o Banco do Brasil, também estão aderindo a essa transição e transparência,

“No setor financeiro existe um esforço diário para a gente consumir de forma mais inteligente água, energia e papel, buscando gerar menos resíduo”, afirma o Gabriel Santamaria, Gerente geral da Unidade ASG do Banco do Brasil. Ele revelou, durante a live, que nos últimos anos o banco conseguiu reduzir pela metade a utilização de papel, tornando os processos cada vez mais digitais.

Rotulagem responsável

Essa mudança de hábitos, com a busca por produtos mais ‘eco friendly’, também pode acarretar custos mais altos para o consumidor. A pesquisa Vida Saudável e Sustentável 2024, do Instituto Akatu, FIA de Consumo Consciente, em São Paulo, mostra, então, que esse pesamento é unânime em todas as classes sociais.

Para Schubert, é preciso pensar em uma transição energética, alinhada com as mudanças comportamentais, que faça sentido para todas as pessoas. “A mudança de habito vem do incentivo, de uma educação e letramento ambiental. As pessoas precisam estar conscientes e de incentivos para entender o que está sendo falado para elas. Mas para isso precisa ter acesso aos produtos, sem ter dificuldade em acesso por questões de renda”, pontuou.

Assim, na avaliação de Santamaria, o Brasil tem grande potencial na área. “A gente tem um potencial bastante grande de juntos, governo, empresas e sociedade, conseguir fazer com que essa agenda avance cada vez mais e a gente lidere essa pauta no mundo”, avalia.

Fonte: Ívina Garcia / Um Só Planeta

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