Uma crescente disseminação de doenças fúngicas causadas por superfungos raros está ocorrendo globalmente, impulsionada pela crise climática e pelos efeitos da pandemia de Covid-19. Fungos como o Candida auris, que afeta principalmente pessoas com imunidade debilitada, já foram identificados em todos os continentes, exceto na Antártica, e podem ser fatais, com uma taxa de mortalidade de até 50% dos casos.
O aquecimento global está criando um ambiente que facilita o desenvolvimento e a adaptação de fungos a temperaturas elevadas, tornando-os mais agressivos e resistentes. Com o aumento das temperaturas, os fungos conseguem superar as barreiras naturais de proteção do corpo humano, que normalmente impede infecções fúngicas em condições térmicas normais.
Diferente de outras espécies de fungos, que geralmente não sobrevivem a temperaturas acima de 36,5°C, o Candida auris consegue suportar uma faixa de temperatura entre 37°C e 42°C, de acordo com o Hospital Albert Einstein.
A modificação dos ecossistemas e dos padrões de umidade também tem ampliado o habitat desses patógenos. Enquanto infecções fúngicas leves, como a caspa, são comuns, infecções graves têm aumentado significativamente. Nos Estados Unidos, por exemplo, o número de casos de Candida auris cresceu de 311 em 2018 para 2.377 em 2022, segundo dados da Bloomberg.
Disseminação
Especialistas consultados pela agência alertam que, embora o número total de casos ainda seja baixo comparado a outras doenças, a rápida disseminação e as mutações que aumentam a resistência aos tratamentos são preocupantes. Além disso, muitos casos passam despercebidos, o que agrava indiretamente a mortalidade em pacientes com câncer e HIV.
A pandemia de Covid-19 também impulsionou essa tendência. Em hospitais, a superlotação facilitou a transmissão de fungos, como no caso da mucormicose na Índia. Recentemente, pesquisadores na China identificaram cepas de fungos anteriormente incapazes de infectar humanos, agora resistentes a medicamentos antifúngicos.
Superfungos: perigo a longo prazo
A situação se agrava com o retorno de doenças como tuberculose e sarampo, em paralelo aos impactos da crise climática na saúde da população. A comunidade médica destaca a urgência de diagnósticos mais ágeis e precisos para enfrentar essa ameaça crescente.
Quinze anos após sua descoberta no Japão, a Organização Mundial da Saúde agora reconhece o Candida auris como um dos fungos mais prejudiciais à saúde humana. No Brasil, Salvador registrou o primeiro caso em 2020, durante a superlotação das UTIs causada pela pandemia de Covid-19. Em outubro deste ano, quatro novos casos de infecção pelo superfungo foram, então, confirmados em Belo Horizonte.
A presença de pacientes com doenças crônicas e a dificuldade em manter práticas rigorosas de controle de infecções facilitam a disseminação dos superfungos em ambientes de saúde, onde ele pode gerar surtos. O Candida auris consegue colonizar pacientes por meses, sobreviver em superfícies e resistir até mesmo a desinfetantes comuns. Práticas como higiene adequada das mãos, medidas preventivas específicas e desinfecção regular dos ambientes são essenciais para reduzir o risco de surtos.
*Com informações do Um Só Planeta
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