Uma espécie rara de borboleta, ameaçada de extinção, foi registrada pela primeira vez no Espírito Santo, por um cientista cidadão. Ele virou coautor no artigo publicado recentemente na revista “Journal Insect Biodivesity”.
Gustavo Rodrigues Magnago fez o registro da borboleta Petrocerus catiena, em dezembro de 2022, a 1.100 metros de altitude, na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Reserva Kaetés, no município de Castelo. Ele, então, compartilhou a fotografia na plataforma colaborativa iNaturalist.
Os pesquisadores Laura Braga, do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), Augusto H. B. Rosa e André V. L. Freitas, ambos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) receberam o registro. Eles identificaram a espécie e constataram que se tratava do primeiro registro fora do estado do Rio de Janeiro.
Augusto Rosa entrou em contato com o cientista cidadão para verificar com precisão as coordenadas geográficas e, assim, os pesquisadores iniciaram um estudo mais aprofundado sobre a espécie.
Os projetos de Ciência Cidadã “Borboletas Capixabas”, do Instituto Nacional da Mata Atlântica, e “As borboletas ameaçadas de extinção do Brasil”, da Unicamp, pesquisam a distribuição geográfica das espécies de borboletas por meio dos registros fotográficos feitos por cientistas cidadãos, que são compartilhados nas redes sociais.
Identificação das espécies
Os dois projetos revisam a identificação das espécies, buscam as coordenadas geográficas e organizam esses dados de ocorrência. Com isso, ampliando o conhecimento científico sobre as borboletas no estado do Espírito Santo e das espécies ameaçadas de extinção no Brasil.
Para o estudo foram verificados os dados de ocorrência das espécies em seis coleções científicas, privadas e públicas, onde estão depositados os 19 espécimes dessa espécie, e também seis registros fotográficos feitos por cientistas cidadãos. Confirmou-se que o registro feito por Gustavo era realmente o primeiro da espécie no estado do Espírito Santo. Além disso, foi feita a descrição da fêmea dessa espécie pelo pesquisador Ricardo R. Siewert, da Unicamp, pois apenas o macho havia sido descrito por Petrocerus Callaghan, em 1979.
Borboleta rara
Portanto, a borboleta Petrocerus catiena pertence à família Riodinidae e ocorre na Mata Atlântica, em floresta de altitude – entre 1000 e 1500m. Pouco se sabe sobre sua história natural e sua ocorrência era conhecida apenas para o estado do Rio de Janeiro, nos municípios de Petrópolis e Nova Friburgo.
A espécie foi categorizada como “Em Perigo” na lista nacional de espécies ameaçadas de extinção, elaborada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), devido à área de ocupação conhecida ser menor do que 10km2 e suas populações estarem isoladas e sob forte pressão antrópica.
No entanto, o registro feito por Gustavo Magnano no Espírito Santo aumenta a extensão estimada de ocorrência da espécie, de 252km2 para 5.963Km2, e área de ocupação da espécie, de 10Km2 para 16km2 – área ocupada pela espécie no interior da sua extensão de ocorrência. Os pesquisadores indicam que, com esse resultado, a categoria de ameaça de Petrocerus catiena deve passar para “Vulnerável”, de acordo com os critérios da IUCN.
Aliás, possivelmente, a espécie de borboleta ocorra em outras áreas montanhosas com vegetação semelhante entre os estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo.
“Os resultados encontrados ressaltam a importância da ciência cidadã na ampliação do conhecimento científico, especialmente para as espécies ameaçadas de extinção. É como se o pesquisador tivesse olhos espalhados por todo o país e o tempo todo. A possibilidade de encontrar algo novo e raro é muito maior!”, destaca a pesquisadora Laura Braga.
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