A sustentabilidade deve ser compreendida em três dimensões: econômica, social e ambiental. A dimensão econômica, muitas vezes a mais considerada, é fundamental para a efetividade de qualquer atividade. Toda iniciativa precisa gerar retorno financeiro suficiente para garantir a manutenção dos processos e assegurar rentabilidade adequada aos envolvidos.

A dimensão social, por sua vez, está alicerçada na capacidade de reduzir desigualdades e promover equidade, ou seja, oferecer condições dignas de saúde, alimentação, educação, moradia, vestuário e lazer para todos os envolvidos. Já a dimensão ambiental baseia-se na adoção de medidas preventivas que evitem alterações no meio ambiente capazes de afetar negativamente a vida de plantas e animais.

Mais recentemente, a sustentabilidade passou a incorporar um novo componente: a governança. Com isso, tornou-se comum o uso do tripé ambiental, social e de governança — conhecido como ESG — como critério de avaliação. O conceito de ESG envolve a análise dos impactos ambientais e sociais da cadeia de negócios, das emissões de carbono, da gestão de resíduos, das condições de trabalho e inclusão social, bem como das práticas de governança e contabilidade. A governança, nesse contexto, atua de forma transversal e fortalece as dimensões ambiental e social.

A pauta da sustentabilidade ganha cada vez mais força nos setores de produção de alimentos, fibras e energia. Nesse novo cenário, a dimensão quantitativa deixa de ser a principal variável da equação agrícola. A grandeza de um empreendimento não será mais medida apenas pelo número ou porte das máquinas, mas pela forma como se produz a soja, o milho ou o algodão. O consumidor de alimentos, por exemplo, quer saber se os ovos usados na produção vêm de galinhas criadas em gaiolas ou soltas.

Em outra perspectiva da produção agrícola, o estoque de carbono no solo tende a ganhar importância crescente quando se trata de sustentabilidade. Práticas como o sistema de plantio direto — em que não há revolvimento do solo, ele permanece coberto por palha ou vegetação viva e há rotação de culturas — serão cada vez mais valorizadas. Produtos oriundos de sistemas menos conservacionistas, especialmente em relação à mitigação de gases de efeito estufa como o CO₂, poderão enfrentar dificuldades de comercialização.

A equidade social também passou a ser um critério relevante para compradores de produtos agropecuários. O respeito ao ser humano envolvido na produção é essencial e representa um princípio básico de humanidade. Têm-se observado avanços significativos nesse aspecto. As condições de trabalho vêm melhorando e os trabalhadores têm sido reconhecidos como sujeitos do processo. Ainda há espaço para evoluções, mas o nível de conscientização aumentou, e diversas organizações de produtores vêm atuando fortemente nessa agenda.

A governança integra as dimensões ambiental, social e econômica, pois é por meio dela que se assegura o cumprimento das metas de sustentabilidade de uma empresa. Comportamentos antes aceitos hoje são reprovados, e empresas de todos os portes precisam comprovar que seus produtos são sustentáveis. A rastreabilidade, nesse sentido, é uma aliada essencial: ela permite ao consumidor global conhecer, em detalhes, como foram produzidos alimentos como a soja e a carne.

Uma questão de métrica

O ESG foi criado como uma métrica para avaliar o desempenho das empresas a partir de uma nova perspectiva, na qual a sustentabilidade faz toda a diferença. De modo geral, ainda se observa grande preocupação com a dimensão quantitativa da produção — rendimento por hectare, por exemplo. No entanto, é preciso considerar que o maior rendimento físico nem sempre representa maior lucro. Mesmo do ponto de vista econômico, altos rendimentos podem não ser sustentáveis se o custo de produção for excessivo.

Além disso, atingir altos rendimentos frequentemente exige grande volume de insumos, o que pode comprometer a sustentabilidade ambiental. Por isso, é urgente a definição de métricas capazes de mensurar a sustentabilidade de forma mais ampla — o que requer mudanças conceituais.

A demanda global por alimentos, fibras e energia é crescente, mas também cresce a exigência dos consumidores, que querem produtos comprovadamente sustentáveis. Diante disso, a sustentabilidade passa a ser um fator determinante — e até de sobrevivência — para todos os elos da cadeia produtiva, incluindo compradores, processadores e comerciantes.

Cada vez mais, o ESG é considerado por investidores. São poucos, no mundo, os que não levam em conta os critérios ambientais, sociais e de governança ao decidir onde e quanto investir. As empresas, independentemente de seu porte, precisam comprovar que são sustentáveis nessas três frentes. A agenda da sustentabilidade é, hoje, uma agenda de produtividade e eficiência.

Fernando Mendes Lamas (Pesquisador)
Embrapa Agropecuária Oeste

Artigo publicado originalmente no site da Embrapa.

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