Trilhas que se cruzam porque o mundo não cabe em caixinhas

A gente ainda acredita que modelo múltiplo, conectado e propositivo, tem outro efeito: convida o público a sair da própria bolha temática

Conferência Sustentabilidade Brasil
Por Dani Klein e Mariana Klein, especialistas em ESG e líderes da curadoria da Conferência Sustentabilidade Brasil 2025

A gente bem que tentou começar pelas respostas. Mas bastaram algumas reuniões para entender que, diante de um mundo em colapso ambiental, social, político e informativo, era mais honesto começar pelas perguntas. O que é urgente? O que está sendo ignorado? Quem ainda não foi chamado para essa conversa?

Foi assim que surgiram as 13 trilhas da Conferência Sustentabilidade Brasil 2025, como um quebra-cabeça em movimento. No início, a tentativa era construir uma jornada de temas, quase como um roteiro possível para atravessar o evento com sentido. Depois vieram os objetivos de cada trilha, os pontos de tensão, os públicos que precisavam ser ouvidos. Só então chegaram os nomes. Sim, os nomes foram os últimos e não foram aleatórios nem pré-programados por patrocínios ou influência no Tik Tok.

Na prática, isso significou abandonar o velho modelo de caixinhas. Para nós, não fazia sentido agrupar os temas em blocos estanques quando os próprios desafios exigem conexão, escuta cruzada, confronto de perspectivas. Então, em vez de painéis isolados, surgiram mais de 40 pontos de interseção entre as trilhas:  comunicação e educação ambiental com saúde; finanças com infraestrutura verde; economia azul com agro e transição energética. Afinal, o mundo real funciona assim, em sobreposição, não em silos.

A curadoria também teve um cuidado extra: traçar objetivos claros para cada painel, com metas de diversidade, recorte de tema e representatividade territorial. Não por modismo ou cota, mas por método. E acho que isso, de certa forma, blindou boa parte do evento dos vícios de sempre, dos “palestrantes de plantão”, das propagandas disfarçadas de palestra, dos painéis que mais parecem reunião de diretoria com plateia. Aqui, a lógica foi outra e o espaço passou a ser do conteúdo, não do crachá.

A gente ainda acredita que modelo múltiplo, conectado e propositivo, tem outro efeito: convida o público a se mover, a sair da própria bolha temática, a circular por territórios novos, a escutar o que não domina e a encontrar o que não estava procurando. É aí que mora o verdadeiro potencial de um evento como esse, na provocação de encontros improváveis, para falar de futuro com quem pensa diferente.

Também estamos apostando numa prolongação de resultados. Ao conectar pessoas de áreas diferentes em torno de temas comuns, nossa ideia é abrir espaço para parcerias que não se esgotam na mesa de debate. Fomos juntando capital intelectual e sentindo que algumas dessas conexões já nasceram com cara de projeto, outras ainda estão no campo da ideia, mas todas carregam uma intuição em comum: a de que a transformação não acontece em linha reta e que soluções novas dificilmente surgem de repertórios repetidos.

Ninguém resolve uma crise global com pensamento de organograma e já está cheio de boas intenções bem diagramadas. Quem sabe o inusitado – esses encontros improváveis, entre pessoas que normalmente não dividiriam uma mesa – seja justamente o que faltava para gerar o que mais buscamos: soluções práticas para a nossa transformação.

Conferência Sustentabilidade Brasil 2025

A Conferência Sustentabilidade Brasil acontece de 11 a 14 de junho de 2025, em Vitória (ES). O evento, etapa oficial da COP 30, é realizado pelo Instituto Sustentabilidade Brasil, sem fins lucrativos, aberto ao público e gratuito.

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