Como conter a perda da biodiversidade nos biomas brasileiros

No Relatório Sustentabilidade Brasil, especialistas apresentam diagnósticos por bioma e um pacote de soluções para integrar conservação, adaptação climática e desenvolvimento

perda da biodiversidade

A construção de um modelo de desenvolvimento sustentável passa pela integração entre políticas públicas, participação social e compromisso permanente com a conservação dos recursos naturais. O desafio é enorme. Conservar e restaurar produzindo é como consertar um avião em pleno voo. Ainda assim, a urgência imposta pela perda da biodiversidade e pelas mudanças climáticas não deixa alternativas. O futuro depende da capacidade de conectar proteção ambiental, crescimento econômico e distribuição justa de renda.

Foi com essa ideia que, em junho, durante a Conferência Nacional da Sustentabilidade Brasil 2025, realizada em Vitória, o Conselho Federal de Biologia (CFBio) reuniu especialistas em um Grupo de Trabalho (GT) para discutir estratégias que fortaleçam a resiliência dos biomas brasileiros. Os debates deram origem ao Relatório Técnico Integrado – Diálogos e Contribuições da Conferência Sustentabilidade Brasil 2025, que será apresentado na COP30, em novembro, em Belém.

Assim, ao longo das discussões, o grupo analisou também os impactos socioambientais da crise climática e apresentou caminhos baseados em ciência, políticas públicas e práticas comunitárias, defendendo a integração entre conservação, adaptação e mitigação como eixo central para soluções eficazes e duradouras.

Veja algumas das recomendações do Grupo de Trabalho. A análise e propostas completas você encontra no relatório, clicando no botão abaixo.

Mar e costa

Nos ambientes costeiros e marinhos, a elevação da temperatura da superfície e do nível do mar, a acidificação, a perda de oxigênio dissolvido e alterações em salinidade, correntes e linha de costa já se traduzem em perdas genéticas e de habitat, migração de espécies e bioinvasões. Dessa forma, entre as medidas prioritárias, o GT defende efetivar o Plano Espacial Marinho (PEM) e o Zoneamento Costeiro com participação social, regulamentar créditos de Carbono Azul e implementar o Plano Nacional de Combate ao Lixo no Mar.

Amazônia

Na Amazônia, que ocupa cerca de 49% do território brasileiro e abriga aproximadamente 10% da biodiversidade mundial, o desmatamento para expansão agrícola e pecuária e as queimadas associadas seguem como problemas críticos. Portanto, o GT cobra implementação efetiva de políticas públicas de proteção da biodiversidade e de ações socioambientais para salvaguardar os ecossistemas amazônicos.

Caatinga

A Caatinga, uma das florestas secas mais ricas do mundo e densamente povoada, vive redução drástica de biomassa acima do solo e avanço da aridez, resultado de décadas de extrativismo, corte-queima, carvoaria, caça e pressões de grandes empreendimentos (eólica e solar) sem devida compensação. Portanto, as soluções propostas incluem restauração de APPs, paisagens agrícolas multifuncionais com práticas agroecológicas e rotação de culturas, apoio à agricultura familiar, educação ambiental, criação e manejo efetivo de unidades de conservação e condicionantes de restauração para grandes projetos.

Cerrado

Segundo maior bioma da América do Sul e conector de Amazônia, Mata Atlântica, Pantanal e Caatinga, o Cerrado sofre com conversão de vegetação nativa em pastagens e lavouras (soja e milho), fragmentação, uso intensivo de fertilizantes e agrotóxicos e manejo do fogo fora dos ciclos naturais, ampliando emissões e perda de biomassa. O GT prioriza, assim, frear a expansão desordenada, restaurar vegetação nativa, implementar planos de manejo do fogo alinhados aos ciclos ecológicos e impor regras mais rigorosas para mineração, com medidas compensatórias mais eficientes.

Mata Atlântica

Reduzida a cerca de 12% da área original e concentrando mais de 145 milhões de pessoas e 80% da produção econômica do país, a Mata Atlântica exige conciliação entre proteção ambiental e desenvolvimento urbano e rural. O GT recomenda, portanto, formar corredores ecológicos e mosaicos restaurados, ampliar a governança de zonas de amortecimento com participação de comunidades, controlar queimadas e reduzir agroquímicos próximos a fragmentos, recuperar áreas críticas e valorizar serviços ecossistêmicos.

Pampa

Com predomínio de formações campestres e manchas florestais associadas a cursos d’água, o Pampa carece de políticas específicas, proteção efetiva e diretrizes de licenciamento adaptadas à sua realidade. Dessa forma, o GT propõe instituir uma “Lei do Pampa” com parâmetros de proteção e licenciamento e reconhecer e valorizar povos tradicionais e a agricultura familiar.

Pantanal

A maior planície inundável tropical do planeta enfrenta pressões como expansão agropecuária nos planaltos do entorno. Além disso, foi vítima de incêndios criminosos com picos entre 2020 e 2024. Assim, as prioridades incluem zoneamento ecológico-econômico com zonas de amortecimento e atenção em fronteiras com Paraguai e Bolívia, monitoramento contínuo da qualidade da água e sedimentos e combate ao tráfico e à caça com vigilância e punições mais duras, controle de invasoras e inclusão de saberes tradicionais de ribeirinhos, pescadores e povos originários.

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