Brasil tem potencial para liderar indústria verde; saiba como

Disponibilidade de energia limpa pode habilitar o país como grande fornecedor global de alimentos e produtos sustentáveis

Cata-vento de energia eólica
Foto: Envato Elements -

Nos últimos anos, a descarbonização e o investimento na indústria verde passou a ocupar o centro das estratégias empresariais. Em um mundo empenhado em conter o aquecimento global, cadeias produtivas que não trabalham para neutralizar, reduzir e, com o tempo, zerar a emissão de gases de efeito estufa (GEE) não arriscam não ter mais aderência de consumidores, reguladores públicos e mesmo de parceiros de negócios. Assim, neste contexto, países com disponibilidade de energia limpa abundante, como o Brasil, possuem um fator de competitividade importante para atrair investimentos produtivos.

“O Brasil está diante da possibilidade de ser a primeira economia verde do mundo”, diz o consultor Bruno Pascon, cofundador e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE Advisory). Segundo Pascon, várias indústrias estão instaladas em países que não vão conseguir descarbonizar suas matrizes de energia. Por não contarem com recursos naturais adequados para a transição energética sustentáveis, terão que migrar para regiões que oferecem as condições necessárias para que elas adotem práticas industriais livres de GEE.

indústria verde
Ambiental, Social e Governança – Foto: Envato Elements

A indústria siderúrgica, que responde por algo entre 6% e 9% da emissão global de dióxido de carbono (CO₂), é um exemplo. De acordo com a World Steel Association (WSA), para cada tonelada de aço produzida no mundo, são emitidas em média 1,83 toneladas de CO₂. A média brasileira é menor, 1,72 toneladas de CO₂. Várias siderúrgicas no Brasil já adotam estratégia em busca da produção do chamado “aço verde”. Entre os mecanismos adotados está a substituição do carvão mineral utilizado nos altos-fornos siderúrgicos por carvão vegetal. Esse é proveniente de florestas plantadas, ou biogás, produzido a partir de resíduos urbanos ou agroindustriais.

Indústria Verde

Empresas eletrointensivas, a agroindústria e o setor de transportes são outros exemplos citados por Pascon de empreendimentos que vão privilegiar regiões que possuem a garantia da oferta de energia limpa para suas atividades. O Brasil está numa situação privilegiada nesse novo cenário. O país possui uma matriz elétrica formada em 83% de fontes renováveis, enquanto a média no resto do mundo é de 29%.

O Brasil ainda tem uma capacidade enorme de ampliar sua geração de energia renovável, consequentemente, apoiar a indústria verde. De acordo com o Plano Nacional de Energia (PNE) 2050, lançado em dezembro de 2020 pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) ligada ao Ministério de Minas e Energia (MME), a disponibilidade total de energia renovável, até o ano de 2050, pode superar em 18 vezes a demanda de energia total no país – em um cenário em que se projeta, para o período, uma demanda de energia total de 15 bilhões de toneladas equivalentes de petróleo (tep) frente à disponibilidade total de recursos de 280 bilhões tep.

Cata-ventos de energia eólica favorecem a indústria verde
Turbinas de energia eólica no Nordeste Brasileiro – Foto: Envato Elements

A oferta de energia renovável disponível estimada pelo PNE em 2050 deverá ser composta por 700 gigawatts (GW) de energia eólica offshore (no mar), 362 GW em eólicas onshore (em terra) e 307 GWp em solares, o documento também apresenta um potencial inventariado de 52 GW em hidrelétricas,

Assim, o volume de investimento em energia elétrica contemplado no Plano Decenal de Energia é de R$ 528 bilhões até 2031. Desse total, R$ 135 bilhões são para geração distribuída, sobretudo solar. R$ 101 bilhões irão para o segmento de transmissão e R$ 292 bilhões para a geração centralizada, que envolve fontes renováveis e despacháveis.

Saindo do Papel

A viabilidade dessa expansão dos investimentos em energia está lastreada na atualização regulatória do setor no Brasil. Isso a partir da criação e revisão dos marcos legais do setor elétrico e energético. Entre os principais avanços nesse sentido estão o Decreto Federal n.º 10.946/2022 e o Projeto de Lei 576/2021, que visam regulamentar a exploração de energia eólica offshore (no mar), o Projeto de Lei 414/2021, o qual amplia o acesso ao mercado livre de energia elétrica, e o Decreto Federal 11.075/2022, focado em criar o mercado regulado de carbono nacional, em linha com o Artigo 6 do Acordo de Paris.

“Essas medidas, uma vez implementadas e reguladas, contribuirão para uma reindustrialização verde e renovável do país. O Brasil passa por um processo de desindustrialização que vem se arrastando há décadas. Somente em 2020, 5,5 mil fábricas encerraram suas atividades em todo o país. As causas para isso passam longe da questão energética, apesar da solução poder estar nela”, diz Gil Maranhão Neto, diretor de Comunicação e Responsabilidade Social Corporativa da ENGIE no Brasil.

Placas de energia solar - indústria verde
Energia solar é uma das saída da indústria verde é apostar na energia solar Foto: Envato Elements

Futuro

Dessa forma, segundo Maranhão Neto, os investimentos em expansão da oferta de energia renovável, por si só, já representam um impulso à economia brasileira. Assim, ativando cadeias produtivas de geração e transmissão de energia renovável, como fábricas de equipamentos eólicos, hídricos e fotovoltaicos no país. Outra fonte de atração de investimento é o hidrogênio verde. Esse é produzido com fontes renováveis de energia e, portanto, sem gerar emissão de gases de efeito estufa. De acordo com estudo realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), os estados do Ceará, Pernambuco e Rio de Janeiro despontam como importantes polos de atração de investimentos nessa fonte de energia que vem despertando interesse global.

Energia eólica - indústria verde
Com disponibilidade de energia limpa abundante, Brasil apresenta fator de competitividade para atrair investimentos — Foto: Divulgação

Fonte: Por Engie / Um Só Planeta

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