Que eventos extremos têm sido, cada vez mais, frequentes não é novidade para ninguém. Entretanto, com a chegada do furacão Milton na costa leste dos Estados Unidos (EUA), o mundo volta a se questionar sobre a latente influência das mudanças climáticas na vida do Planeta.
Dessa forma, cenários como o que os EUA estão presenciando traz à tona a problemática da interferência desarmoniosa e calamitosa das ações humanas na natureza.
Apesar de não haver indícios e estudos que afirmem ou comprovem que as mudanças climáticas estão-diretamente- produzindo mais furacões, estão aumentando a probabilidade de furacões mais catastróficos e perigosos, com maiores níveis de chuva.
Isso acontece porque o aquecimento global promove temperaturas mais altas que as adequadas e usuais, em todo o globo. Dessa forma, o superaquecimento os tornam mais intensos e mais destrutivos.
Um exemplo prático já visto pelo mundo foi o Furacão Katrina. Estudos meteorológicos apontam que a intensidade das chuvas e as enchentes provocadas por ele, em 2005, foram 15% a 60% maiores do que seriam, caso o mesmo fenômeno tivesse acontecido em períodos pré-industriais – no início do século XX.
Isso acontece, porque fenômenos extremos -como furacões- causam interferências que transcendem os vendavais violentos. A chegada desses eventos climáticos geram chuvas excessivas e enchentes, que são fenômenos que estão, comprovadamente, se intensificando com as mudanças climáticas.
Influência indireta do furacão
Em entrevista a BBC, o professor de ciência atmosférica da Texas A&M University, Andrew Dessler, afirmou que o aumento do nível do mar faz crescer a profundidade de enchentes, o que faz com que os furacões sejam ainda mais devastadores que em anos passados
“Já estamos vendo um aumento em geral no ritmo de aceleração em que os furacões do Atlântico estão se intensificando. “
“Já estamos vendo aumentos generalizados nas taxas de aceleração em que os furacões do Atlântico se intensificam – o que significa que provavelmente já estamos vendo um risco maior de perigos para nossas comunidades litorâneas”, explica Andra Garner, professora da Rowan University nos EUA, à BBC estadunidense.
“Ainda é difícil prever a rápida intensificação de tempestades, o que aumenta os desafios que surgem ao tentar proteger nossas comunidades litorâneas.”
De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a avenida da ONU para mudanças climáticas, o superaquecimento do planeta vem tornando muito mais provável que esses ciclones atinjam níveis mais intensos, com taxas de chuva mais severas e velocidades de vento rigorosamente mais altas.
Assim, em um cenário -bastante possível- onde a temperatura do planeta permaneça 1,5ºC acima dos níveis do início da era industrial, a quantidade de furacões tropicais que são capazes de atingir categorias quatro e cinco -as mais rigorosas- pode aumentar em 10%, de acordo com o IPCC.
Dessa mesma forma, se a temperatura global chegar aos 2 °C, a incidência das categorias mais fortes pode subir, ainda mais. Dessa forma, chegando a 13% a mais. Atualmente, o mundo já está em média 1,1 °C a 1,3 °C mais quente que no século XIX, como resultado da emissão excessiva dos gases de efeito estufa, por exemplo.
Interferências vão além das nuvens
Além dos fenômenos do céu, outra grande preocupação dos cientistas é a acentuada alteração na dinâmica dos oceanos. Isso acontece porque o nível do oceano já está maior, por causa do derretimento de camadas polares e aquecimento do mar.
Em artigo sobre o furacão, a revista britânica The Economist destaca que as temperaturas médias da superfície das águas oceânicas estão 0,8 °C acima da média do século passado. A energia extra absorvida pelo mar como consequência desse aquecimento permite que as tempestades se intensifiquem mais rapidamente, acentuando, ainda mais, os prejuízos e caos às nações.
O processo é o seguinte: o ar mais quente retém mais umidade e leva os furacões a durarem mais tempo e a despejarem mais chuva quando chegam à costa, de acordo com reportagem britânica. Ao se mover mais lentamente ou pairar sobre um local, a capacidade destrutiva se eleva.
A velocidade média de avanço dos furacões do Atlântico Norte diminuiu em 17% entre 1944 e 2017, segundo agências meteorológicas e espaciais dos Estados Unidos.
Como será o futuro?
Além de todo esse cenário já preocupante, os furacões também podem atingir áreas no globo que antes não eram afetadas por esse tipo de fenômeno.
Houve crescimento da incidência de ciclones tropicais nas proximidades da costa europeia. A Península Ibérica, o sul das Ilhas Britânicas e as Canárias. Bem como os Açores ou a Madeira são algumas das regiões que podem passar a ser afetadas por essas tempestades, nos próximos anos.
Segundo cientistas, a alteração de rota desses ciclones e de grandes tempestades está ligada às alterações climáticas.
A chegada do furacão Milton escancara os problemas e consequências já consumadas de um planeta em desarmonia. Além disso, traz à tona a urgência de ações práticas de mitigação dos prejuízos à natureza e ao meio ambiente, sobretudo em um dos países que mais contribuem para o aumento do aquecimento global.
*Com informações do The Economist / BBC News / Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA) / CNN
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