Medellín por muitas décadas foi conhecida pela violência e por ser um polo de tráfico de drogas. De uns anos para cá, a cidade colombiana passou do padrão de insegurança a referência de sustentabilidade e planejamento urbano de desenvolvimento verde.

A zona metropolitana vem passando por inovações na priorização das políticas públicas, colocando a frente a esfera socioambiental. Dessa forma, tem se tornado um exemplo mundial de transformação urbana e social, destacando-se por projetos inovadores que combinam intervenções físicas, sociais e institucionais para melhorar a qualidade de vida da população paisa -como são chamados cidadãos nativos.

Além disso, a cidade colombiana passou de um patamar de centro urbano onde reinava o medo coletivo a uma referência de esperança e entusiasmo por promover perspectivas de uma melhor qualidade de vida através de um planejamento sustentável. A crise da cidade sempre esteve associada à violência e ao tráfico de drogas. No entanto, sendo essa crise estrutural, ela responde a muitos outros fatores, alguns dos quais estão associados ao crescimento acelerado de sua população, como em muitas cidades latino-americanas.

 Dessa forma, por sua semelhança histórica e de realidades sociais com diversas outras grandes cidades da América do Sul, o município passou a ser um “estudo de caso” para diversos países. Tomando como base condições políticas e socioeconômicas similares, grandes polos brasileiros estão entendendo a possibilidade de transformações socioambientais como possíveis e alcançáveis. 

A cidade dos Projetos Urbanos Integrados (PUI)

O PUI é o resultado de vários anos, vários projetos anteriores, academia, políticos e cidadãos que encontraram no diálogo e no trabalho coletivo uma estratégia favorável para reconstruir os territórios.

Alguns precedentes importantes que inspiraram os princípios e estratégias de ação para os Projetos Urbanos Integrados (PUI) incluem o programa Favela Bairro no Rio de Janeiro, a experiência de Bogotá (Colômbia nos anos 1990), a intervenção em bairros periféricos em Barcelona e o Programa Integral para o Melhoramento de Bairros Subnormais em Medellín – PRIMED. As lições aprendidas com cada um desses formaram a base do urbanismo social em Medellín. Da mesma forma, o sistema de transporte público Metro foi fundamental, pois seus eixos de mobilidade e estações se tornaram elementos desencadeadores e integradores dos PUIs.

Esfera ambiental

Com o intuito de melhorar a qualidade do ar, e diminuir a poluição da segunda maior cidade da Colômbia, em 2016, o município implementou um projeto de arborização em toda a localidade. Assim, criou-se corredores verdes nas principais avenidas e vias da região. Dessa forma, além de transformar a qualidade do ar, a chamada “Cidade da Eterna Primavera”, reduziu em 2ºC a temperatura da cidade, de acordo com dados do governo local vistos pela BBC Future Planet.

Em primeiro plano, a iniciativa promoveu o plantio de 120 mil plantas individuais e 12.500 árvores em estradas e parques, com 2,5 milhões de novas plantas menores e 880 mil árvores plantadas em toda a cidade até 2021. Dessa forma, o intuito era unir as áreas verdes da região através de avenidas e ruas cercadas por árvores e sombra.

O investimento inicial foi de aproximadamente US$16,3 milhões, com manutenção anual de US$625.000 em 2022, de acordo com o governo de Medellín. Com o sucesso da implementação do projeto, os benefícios excederam as metas centrais iniciais. Além de melhorar a qualidade do ar, diminuir a poluição e diminuir a temperatura, a ação também recuperou a fauna selvagem da cidade.

A preocupação, que resultou no plano de ação sustentável, veio da insatisfação do governo local com a má qualidade do ar. Segundo a agência suíça IQAir, os níveis anuais de material particulado (PM2,5) de Medellín, não eram bons. Embora não fossem os piores da América do Sul, são três vezes as diretrizes da OMS para limites seguros de média máxima de 5 µg/m³. Essa foi a mesma empresa que elegeu a cidade de São Paulo como a mais poluída do mundo 2 vezes, na semana passada.

Medellín: reconhecimento mundial

“Em 2015 e 2016, atingimos o pico da poluição atmosférica”, disse  Paula Palacio, então secretária local de infra-estruturas de Medellín, à BBC. “Foi um momento muito crítico nas questões ambientais”, e a pressão pública para tomar medidas mais sistemáticas contra a poluição vem crescendo, cada vez mais. 

A conscientização da população, principalmente das novas gerações, resultou na criação de mais de 30 unidades desses corredores verdes. Além disso, também fazem parte do projeto 124 parques, interligados pelos corredores e plantados com vegetação nova. Segundo um estudo realizado pela Universidade de Antioquia, dois desses parques removeram 40 toneladas de dióxido de carbono por ano da atmosfera. 

Dessa forma, além do replanejamento arbóreo da cidade, o governo municipal substituiu o ônibus a diesel por elétricos. Assim, com essas e diversas outras medidas, Medellin levou reconhecimento ao ganhar o Prêmio Ashden, que celebra soluções climáticas transformadoras, na categoria “Resfriamento por Natureza”.

Como a população pode espelhar-se nesses bons resultados?

Segundo Lina Rendon, subsecretária do gabinete do prefeito para recursos renováveis de 2023, a implementação dessas iniciativas só foi possível graças ao apoio da população. O governo ofereceu uma dinâmica de política participativa na qual os cidadãos paisas podem eleger quais projetos e esferas seriam financiados. 

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