Poluição do ar diminui 8,4 meses na expectativa de vida no Brasil; Amazônia é ponto crítico

Pesquisa internacional analisa efeitos dos incêndios florestais e das emissões do trânsito na saúde de populações de regiões do país

Incêndios atingem matas em Goiânia, Goiás — Foto: Reprodução/Redes Sociais -

A poluição do ar no Brasil tira, em média, 8,4 meses de vida de seus habitantes, afirma pesquisa anual Air Quality Life Index (AQLI), divulgada pela Universidade de Chicago (EUA) nesta quarta-feira (28). A pesquisa compara a qualidade do ar em relação aos padrões estabelecidos pela OMS (Organização Mundial da Saúde).

Enquanto mundialmente a poluição é o maior fator prejudicial à saúde, segundo a pesquisa, no Brasil, o tabaco e a violência aparecem antes da má qualidade do ar como ameaças à vida dos brasileiros e brasileiras. Em relação à poluição, a região da Amazônia aparece como ponto crítico no território nacional. A razão principal são os incêndios florestais, que neste mês de agosto espalharam fumaça por dez estados do país.

Este ano, em agosto, o fogo consumiu 2,5 milhões de hectares da Amazônia. Os dados são do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa/UFRJ). A média histórica para área afetada pelo fogo no mês é 1,4 milhões de hectares.

Desde o início do ano, a Amazônia já teve mais de 4,1 milhões de hectares atingidos pelos incêndios.

O AQLI aponta que a situação é significativamente pior no estado de Rondônia, onde os moradores estão perdendo 3,2 anos de expectativa de vida para o ar poluído, afirma a pesquisa, que tem como base dados compilados em 2022.

No estado do Amazonas, os níveis de poluição por partículas são 6,4 vezes maiores que a diretriz da OMS, o que impacta em uma redução de até 2,7 anos de vida. No Acre, o cálculo fica em torno de três anos de vida a menos.

Expectativa de vida

O impacto na expectativa de vida seria revertido com a adoção de medidas para manter o ar puro, no caso da região amazônica, principalmente um controle efetivo sobre as queimadas, que passa pela fiscalização, manejo do fogo e também a ampliação do combate ao desmatamento.

Em São Paulo, o problema maior para a qualidade do ar é a poluição gerada pelo trânsito, aponta o estudo, que conclui que medidas de controle de emissões dos veículos, como inspeção veicular e rodízio, fizeram diminuir em 5% a concentração de partículas no céu paulistano em comparação com a média dos últimos 15 anos.

Embora a poluição global tenha sido ligeiramente menor em 2022, seu peso na expectativa de vida permanece, de acordo com o AQLI. Se o mundo reduzisse permanentemente a poluição de partículas finas (PM2,5) para atender à diretriz da OMS, o cidadão mundial adicionaria 1,9 anos à sua expectativa de vida.

Seca aumenta incêndios, apesar de queda no desmatamento

Mesmo com quedas expressivas nos índices de desmatamento, as condições de seca, calor acima da média e ventos fortes fazem com que, em 2024, Amazônia e Pantanal tenham o maior perigo de fogo em 44 anos, sendo este o indicador que mede as condições para a propagação de incêndios florestais.

Segundo informações do governo federal, entre agosto de 2023 e julho de 2024, o desmatamento na região da Amazônia caiu 45,7%. Trata-se da maior queda proporcional já registrada para o período, com a menor área sob alertas registrada na série histórica, iniciada em 2016.

O número de focos de incêndio diminui consideravelmente nas regiões onde o desmatamento é combatido. Dados de 2023 mostram que as queimadas em áreas de agricultura e pecuária reduziram 50%, assim como o desmatamento.

No entanto, em outras regiões da Amazônia, o impacto da mudança climática vem causando secas nos rios e na vegetação. Dessa forma, isso se torna combustível para queimadas de grandes proporções. Em meio à seca, Roraima, região fora do “cinturão do desmatamento” monitorado pelo governo, teve recorde de 22 anos nas emissões oriundas de queimadas.

Brasil precisa avançar no controle de qualidade do ar

O estudo Qualidade do ar em alerta, realizado pelo Instituto Alana e o Instituto Ar, fez uma análise sobre casos de poluição no Brasil. Com isso, realizou-se a adoção de planos de ação para emergência em mais oito países. Essas nações são: Chile, Colômbia e Equador (América do Sul); Estados Unidos e México (América do Norte) e Espanha, França e Inglaterra (Europa).

A partir da comparação com os outros países, concluiu-se que o Brasil tem vivenciado os episódios mais críticos de poluição do ar. Junto do Brasil, também encontra o Equador.

“Em novembro do ano passado, o material particulado em Manaus, pelas queimadas, chegou a 400 microgramas por metro cúbico (µg/m3), quando a Organização Mundial de Saúde preconiza que o nível não ultrapasse 45 microgramas por metro cúbico”, destaca a pesquisadora do Instituto Ar, Evangelina Araújo.

A pesquisa também apontou que os níveis estabelecidos como padrão de qualidade são muito permissivos. Além disso, cita que unidades federativas e o próprio país não possuem planos de ação para preservar a saúde da população e o meio ambiente.

Segundo a pesquisadora, embora a OMS não estabeleça um padrão para as medidas emergenciais, a instituição considera como níveis aceitáveis de concentrações do poluente, por exemplo, até 45 µg/m3 de material particulado no ar em 24 horas, e até 15 µg/m3 na média anual. No Brasil, são aceitos níveis até três vezes maiores que o recomendado, seguindo normas estabelecidas em 1990.

Fonte: Marco Britto / Um Só Planeta

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