O mar Mediterrâneo está mais quente do que nunca. Na quinta-feira (15), atingiu a temperatura média mais alta já registrada, de 28,9ºC. Segundo especialistas, o aquecimento das águas está tornando o Mediterrâneo um mar mais perigoso para navegar, à medida que a temperatura do planeta esquenta. As declarações foram dadas após o iate de luxo em que estava o magnata da tecnologia Mike Lynch ser atingido por um tornado após uma tempestade repentina e intensa na região, na madrugada de de segunda-feira.

Dessa forma, segundo relatos dos sobreviventes, o iate Bayesian afundou em poucos minutos – uma pessoa morreu e seis estão desaparecidas, incluindo o empresário. Segundo a imprensa italiana, mergulhadores encontraram o iate a quase 50 metros de profundidade. Barcos grandes são considerados difíceis de naufragar, mesmo em condições climáticas adversas. Na semana passada, uma tempestade semelhante pairou sobre o arquipélago das Baleares, que inclui as ilhas de Ibiza e Maiorca, e deixou várias embarcações encalhadas.

Luca Mercalli, presidente da Sociedade Meteorológica da Itália, disse à Reuters que a temperatura da superfície do mar ao redor da Sicília nos dias que antecederam o naufrágio era de cerca de 30ºC, quase três graus acima do normal. “Isso cria uma enorme fonte de energia que contribui para essas tempestades”, apontou.

O que pode ter acontecido com o iate?

Roberto Danavaro, biólogo marinho da Universidade de Ancona, disse ao The Guardian que havia “uma ligação direta e absoluta” entre as temperaturas anômalas do mar neste verão e a tempestade. Por isso, vários outros tornados ocorreram recentemente perto da costa italiana, incluindo no Adriático e ao largo da Ligúria, no norte de Itália.

Já o meteorologista Paolo Sottocorona disse que uma tromba d’água da intensidade que atingiu Bayesian foi “o extremo do extremo”. “Isto porque a situação no Mediterrâneo atingiu temperaturas nunca antes alcançadas, o que traz instabilidade. Infelizmente estes acontecimentos, que antes eram anómalos, no sentido em que quase nunca aconteciam, começam agora a ocorrer com mais frequência. Este é um sinal de mudança climática”, afirmou.

A ocorrência de tornados é um fenômeno raro no mar Mediterrâneo. Mas, nos últimos dias, tempestades e chuvas pesadas atingiram várias regiões da Itália, causando inundações e deslizamentos. Entretanto, em paralelo, a Sicília também registrou recorde de calor neste fim de semana. “O vento estava muito forte. O mau tempo era esperado, mas não dessa magnitude”, disse um oficial da Guarda Costeira em Palermo à agência de notícias Reuters.

Assim, o capitão experiente, Massimo Aramu, que dirige a escola de vela italiana Akua, observou que não gosta de navegar pela costa italiana de Tirreno, perto da Sicília, ou pelas Ilhas Baleares espanholas. Dessa forma, segundo ele, nestas localidades há “situações frequentemente críticas com pouco aviso”.

Episódios frequentes

Giuliano Gallo, um ex-capitão que cruzou o Atlântico e escreveu vários livros sobre vela, acrescentou que o Mediterrâneo está se tornando mais parecido com o Caribe, que tem áreas que muitos barcos evitam em certas épocas do ano.

Então, Karsten Borner, capitão de um barco que estava atracado próximo ao navio de Lynch, enfatizou que os episódios mais frequentes de calor intenso durante os meses de verão estão contribuindo para a ocorrência das tempestades.

“A água está muito quente para o Mediterrâneo, e isso certamente causa fortes tempestades, como tivemos há uma semana nas Baleares, como tivemos há dois anos na Córsega e assim por diante”, encerrou.

Fonte: Um Só Planeta

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