Empresário japonês desenvolve técnica de fermentação que transforma sobras de comida em ração

Solução é boa para o bolso e o planeta, pois promove economia de dinheiro, redução do desperdício de alimentos e diminuição das emissões de gases de efeito estufa

Restos de comida
Os alimentos são separados manualmente quando chegam às instalações de processamento – e recebem cerca de 40 toneladas por dia — Foto: Freepik (Imagem de freepik) -

Um empresário do Japão recorreu à técnica da fermentação com o objetivo de transformar sobras de comida em ração de qualidade para porcos, ao mesmo tempo em que economiza dinheiro, reduz o desperdício e diminui as emissões.

Koichi Takahashi, fundador da empresa Japan Food Ecology Center, disse em entrevista para a BBC que queria construir um projeto modelo para a economia circular. “Em vez de depender de importações para ração, podemos fazer uso eficaz do desperdício de alimentos locais.”

No Japão, quase dois terços dos alimentos e três quartos da ração para animais são importados. E o país, a cada ano, joga fora 28,4 milhões de toneladas de comida. Uma combinação que vem com altos custos ambientais e econômicos.

A ideia de Takahashi para criar um ciclo alimentar sustentável começou a ser desenhada em 1998, quando o governo japonês lançou um projeto promovendo maneiras de converter recursos que de outra forma seriam desperdiçados em ração para gado.

Conforme relatado pela BBC, naquela época, o empresário, que era um veterinário praticante, viu uma oportunidade de colocar sua experiência com animais de fazenda em uso e realizar o desejo de ajudar o planeta.

Mas, ao longo do processo, ele descobriu que não havia soluções rápidas, pois simplesmente enviar resíduos de alimentos crus para fazendas era difícil. Além disso, existiam mais complicadores: o conteúdo altamente variado de resíduos de alimentos e os fatos de que o alto teor de água dos alimentos promove a deterioração e secá-los para contornar o problema da água exigiria quase tanta energia quanto incinerá-los.

Processo de fermentação

Takahashi, então, recorreu à fermentação, processo bioquímico – bastante conhecido e empregado no Japão – no qual microrganismos, como bactérias, leveduras ou fungos, convertem substâncias orgânicas, como açúcares, em outros compostos, geralmente na ausência de oxigênio. “Percebi que já tínhamos a tecnologia para criar um produto que pudesse durar muito”, pontuou.

Trabalhando com pesquisadores do governo, universidades e institutos nacionais, ele criou um produto de ração liquefeita fermentada com ácido láctico para porcos, chamado de ecofeed. Esse produto, que tem gosto de iogurte azedo, pode ficar na prateleira, sem refrigeração, por até 10 dias e, a sua fabricação, gera 70% menos emissões de gases de efeito estufa.

Com a solução em mãos, o proprietário do Japan Food Ecology Center começou a fazer lobby com o governo e várias outras partes interessadas para introduzi-la no mercado. Foram anos até que isso acontecesse, mas, agora, o trabalho está dando resultados. Tanto que sua empresa, localizada na cidade de Sagamihara, recebe todos os anos cerca de 1,5 mil visitantes, incluindo alunos do ensino fundamental e aposentados, para aprender sobre reciclagem de alimentos.

Potencial da produção

Segundo a reportagem, o local processa cerca de 40 toneladas de resíduos alimentares por dia, que chegam de caminhão de várias centenas de supermercados, lojas de departamento e fabricantes em massa. Algumas dessas empresas são motivadas pelo desejo de tornar suas operações mais verdes. Mas, todas são, também, incentivadas pelas taxas mais baixas que a companhia cobra para aceitar seus resíduos, em comparação aos incineradores.

Os alimentos enviados variam de dia para dia. Mas, o soro de leite, um subproduto da manteiga e do queijo, está sempre presente, assim como restos da produção em massa de gyoza e sushi

Lotes de ecofeed são calibrados com base no conteúdo calórico e nutricional, então vários materiais são misturados intencionalmente, em vez de aleatoriamente. Para evitar contaminação, todos os alimentos são passados por um detector de metais e inspecionados manualmente por trabalhadores.

Na etapa seguinte, tudo é picado e triturado, resultando em um produto líquido. Depois, ocorre a esterilização para reduzir bactérias patogênicas. Por fim, se dá o processo de fermentação, em enormes tanques.

A ecofeed resultante custa aos fazendeiros cerca de metade do preço da ração convencional. Além disso, eles ainda podem adaptar sua fórmula pessoal de acordo com suas necessidades.

Uso de energia limpa

Takahashi destaca que carne de porcos que se alimentam com este produto são vendidas em cada vez mais restaurantes. Além disso, supermercados e lojas de departamentos em todo o Japão, também têm aderido a novidade. Assim, o processo resulta mais de 350 milhões de ienes (aproximadamente R$ 13,2 milhões) em receita por ano.

No ano passado, o empresário incorporou o biogás, uma forma de energia renovável produzida a partir da fermentação do metano. Essa operação expande os tipos de alimentos que sua empresa pode aceitar. Pois os porcos não podem comer nada com alto teor de gordura, sal ou óleo.

A usina está gerando atualmente 528 kW de produção elétrica por dia, aproximadamente a mesma quantidade usada por 1 mil lares. O subproduto sólido do processo é seco usando o calor excedente do gerador e vendido como um fertilizante agrícola rico em nutrientes.

“Estamos subvertendo a noção convencional de que esforços ambientais não compensam, ou que reciclar é muito caro”, salientou Takahashi, complementando que não tirou nenhuma patente da tecnologia, permitindo, assim, que outros repliquem seu método.

Fonte: Um Só Planeta

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