Um estudo da Embrapa precificou pela primeira vez a tonelada de carbono absorvida no cultivo de pomares de frutas cítricas, uma frente de peso na agricultura nacional. A modalidade de negócio pode servir como fonte de financiamento para o setor, que já tem árvores em pé, sendo que o Brasil é responsável por 35% da produção mundial de laranjas e por 75% do comércio internacional do suco da fruta, um setor que movimenta cerca de US$ 14 bilhões (R$ 76,3 bilhões) por ano.
Empresas brasileiras de regeneração florestal focadas em crédito de carbono vêm fechando contratos com multinacionais como Microsoft e Apple, obtendo preços altos em relação à média mundial, anunciando vendas acima de US$ 50 (R$ 272) por tonelada de dióxido de carbono (CO2) absorvida. A movimentação opera na casa de bilhões de reais com atuação na Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica, principalmente.
No caso da citricultura, o valor estimado pela equipe da Embrapa foi de US$ 7,72 (R$ 42), que fica dentro da média mundial, que oscila entre US$ 5 (R$ 27) e US$ 15 (R$ 81,8) em projetos regulares.
A pesquisa estimou os estoques de carbono na produção citrícola em 36 milhões de toneladas. Esse cálculo foi feito nos pomares, no solo e nas áreas com vegetação nativa dentro das fazendas produtoras. “Hoje sabemos que um hectare de citricultura estoca aproximadamente duas toneladas de carbono por ano. Isso equivale a 7,32 toneladas de CO2 equivalente”, diz o pesquisador Lauro Rodrigues Nogueira Júnior.
Laranjas: aliadas promissoras
Segundo a pesquisa, uma laranjeira pode armazenar uma média de 50 quilos de carbono. O CO2 equivalente é uma medida usada para estimar o impacto climático da liberação de gases estufa na atmosfera.
“Como a redução das emissões de gases estufa e a remoção de CO2 da atmosfera têm um custo [social, econômico e ambiental], a precificação é necessária para saber quanto se deve pagar por uma tonelada de CO2 equivalente que deixou de ser emitida ou que foi removida da atmosfera por uma atividade ou projeto. A precificação de carbono serve de referência para quem vai receber e para quem vai pagar por isso”, detalha Nogueira Júnior.
Nos pomares, carbono já está estocado
Enquanto projetos de regeneração vendem contratos futuros, ou seja, recebem adiantado para reflorestar grandes extensões de terra degradada, no caso da fruticultura as árvores já estão operantes e absorvendo CO2 do ar.
No país, são 463 mil hectares de pomares só no cinturão citrícola, que compreende o estado de São Paulo e a região do Triângulo Mineiro. É a principal área produtora, onde se concentram também as indústrias processadoras de suco e subprodutos.
O mercado de carbono no Brasil é classificado como voluntário, pois ainda não possui regulamentação oficial, ou órgão regulador. O Congresso Nacional discute as regras para o setor. Dessa forma, deve incluir, também, o pagamento por serviços ambientais. Nssa iniciativa poderiam ser enquadradas atividades que cultivam árvores e ajudam a despoluir a atmosfera, ajudando no combate ao aquecimento global.
“Esse valor serve também para programas governamentais de redução de emissões que precisam de referências, assim como para os programas de pagamento por serviços ambientais que vêm sendo implementados no Brasil”, avalia o pesquisador da Embrapa.
Como a Embrapa chegou no preço
Os cálculos para a citricultura foram feitos a partir de dados socioeconômicos e ambientais. Assim, combinando dois conjuntos de determinantes: o do “custo social do carbono” e do “custo marginal de abatimento”.
O primeiro atribui valor monetário para as consequências ambientais e sociais das emissões de gases de efeito estufa e das mudanças climáticas. O segundo inclui o custo tecnológico da redução dessas emissões.
“Nós fizemos uma modelagem. Uma simulação de quanto poderia ser o preço do carbono na citricultura brasileira em função de um conjunto de determinantes que impactam o preço do carbono na agricultura”, detalha Souza.
Para a estimativa, foram considerados 297 municípios do cinturão citrícola. Assim, a equipe utilizou, para os cálculos, dados como o Produto Interno Bruto (PIB) municipal e a participação da agricultura nesse indicador. Além disso, captou as emissões per capita de CO2, a área dos municípios e a parcela destinada à preservação da vegetação nativa.
Dessa forma, quanto maior o PIB de uma localidade, maior o valor do carbono. Assim, o dinamismo da economia tende a gerar maiores emissões de gases estufa. Com isso, o “trabalho” das árvores em retirar esses gases do ar é mais valorizado.
Fonte: Um Só Planeta
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