Quando se fala sobre manter a floresta em pé, é comum pensar na Amazônia e nas iniciativas de bioeconomia da região, mas uma startup está focada em outros biomas brasileiros com o mesmo propósito: utilizar tecnologia para extrair insumos enquanto preserva a natureza. A Bio Assets Brasil quer atuar nas regiões de Mata Atlântica, Caatinga e Cerrado para produzir bioativos, flavorizantes e fragrâncias para a indústria, a partir de superfrutas. Com a conquista das licenças para as quais pleiteou, a biotech projeta faturar o primeiro milhão em 2025.
“Entendemos que há potencial e grande demanda por esses produtos porque o mercado é dominado por aqueles de origem sintética, que advêm da indústria do petróleo, o que é problemático para a saúde e o meio ambiente”, afirma Daniel Simas, cofundador da Bio Assets Brasil.
A startup foi fundada em dezembro de 2021 pelas mãos de Simas, doutor em química de produtos naturais, e Alex Vicintin, que já havia empreendido anteriormente e era dono de um viveiro de árvores com plantas nativas brasileiras para paisagismo e restauração ambiental.
Eles se conheceram quando Vicintin passou a acompanhar o trabalho de uma empresa do grupo Votorantim, que fazia pesquisas dentro de uma reserva florestal para descobrir como ganhar dinheiro mantendo a floresta em pé. Simas estava por trás dos estudos e, quando o projeto foi desfeito, foi procurado pelo empreendedor.
Estudo das superfrutas
Inicialmente, eles pensaram em trabalhar com óleos essenciais, já que o Brasil é um dos maiores mercados para o produto e, naquela época, as plantas nativas daqui não costumavam ser utilizadas como matéria-prima. Mas o negócio foi para frente quando eles decidiram se debruçar sobre as superfrutas. “São aquelas que, além de sabor, entregam algum cunho terapêutico. Pode ser um bom potencial nutricional, função farmacêutica ou farmacológica. O açaí é a principal superfruta”, explica Simas.
A partir das pesquisas que os sócios passaram a desenvolver para acessar a composição química dessas plantas, eles criaram expertise em análise para controle de qualidade e passaram a oferecer o serviço para indústrias. Hoje, a Bio Assets Brasil atua em outras duas frentes. Uma delas é a consultoria para cumprimento de padrões do Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e do Conhecimento Tradicional Associado (SisGen). Além disso, buscam, também, a venda de extrato de baunilha para a indústria de perfumes.
“Estudamos equipamentos e processos para extrair mais as substâncias aromáticas da baunilha natural. É quase impossível bater o preço da sintética, que vem do petróleo, mas o nosso é duas vezes e meia mais caro. Para um mercado preparado para entender que o meu produto vem de fonte natural, é um preço aceitável a pagar”, pontua Simas. Entre os clientes estão a Mombora – que ganhou o prêmio de melhor produto na NaturalTech 2024 com o extrato de baunilha da Bio Assets –, Laszlo, Phytoterapica, Legee, Interlink e outros.
Responsáveis pela pesquisa
Incubada no Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (CIETEC) da Universidade de São Paulo (USP) desde 2023, a biotech estruturou a sua central de beneficiamento para fazer pesquisas de superfrutas e firmou parceria com outros laboratórios da universidade, como de farmácia e alimentos. O espaço aguarda visita de inspeção da ANVISA para que a Bio Assets possa ir além da venda de extrato de baunilha. Por enquanto, o beneficiamento dos outros itens tem sido feito em laboratórios de fabricantes parceiros.
“Ainda não estamos em breakeven, mas estamos avançando em licenças, testes de segurança e de performance, nos preparando para oferecer os bioinsumos para o pequeno produtor de sabonetes em casa até as grandes indústrias”, afirma Vicintin. Com as licenças, a Bio Assets almeja faturar o primeiro milhão de reais em 2025 e quintuplicar a produção até 2025.
Dessa forma, a aposta da startup para atender a alta demanda da indústria é controlar a produção de ponta a ponta. Assim, desde a plantação, extrativismo, beneficiamento em laboratório e entrega do insumo. A plantação é feita em uma fazenda no Sul da Bahia, ao Norte de Ilhéus, que era utilizada para monocultura e criação de gado. Os 10 hectares foram cedidos para a startup em troca de 30% de participação na empresa. É ali que a equipe planta pitanga, jabuticaba, gabiroba e laranjinha-do-mato.
Investimentos
A segunda rodada de investimentos aconteceu neste ano, com a entrada de um sócio que aportou R$ 5 milhões na operação. Assim, o foco agora é esperar a produção das superfrutas já plantadas antes de pensar em uma nova rodada. Mas os cofundadores estão buscando editais de fomento, desenvolvendo projetos para PIPE, Embrapii e Finep.
“Tudo o que o governo quer hoje são propostas com cunho socioeconômico, sustentabilidade, conservação da floresta. Nosso objetivo é trazer valor agregado ao produto, não é vender commodity. O nosso extrato beneficiado vai valer muito mais do que a fruta. Queremos atender a demanda do mercado, então vamos galgar projetos para escalar cada vez mais”, finaliza Simas.
Fonte: Rebecca Silva da PEGN
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