O Brasil tem uma base energética predominantemente hídrica – corresponde a 72% da demanda brasileira de eletricidade –, complementada nos últimos anos pelo avanço das energias solar e eólica onshore. Mas, agora, a energia eólica offshore (no mar) desponta, com um potencial técnico de mais de 1.200 gigawatts (GW), o que representa quatro vezes a capacidade instalada atual do país. É o que destaca um recente relatório elaborado pelo Banco Mundial e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), e entregue esta semana para o Ministério de Minas e Energia (MME).
“A energia eólica offshore – paralelamente à energia solar e à energia eólica onshore – constitui uma opção interessante para servir como atenuante da variabilidade interanual da energia hidrelétrica”, destaca o documento “Cenários para o Desenvolvimento de Eólica Offshore no Brasil”.
A análise apresentada, cujo objetivo é apoiar o governo brasileiro na definição de políticas públicas para sua transição energética, indica que essa fonte de energia tem um caráter especial de complementaridade à energia hídrica e que, se implementada em grande escala, pode oferecer uma “proteção energética” para anos com secas inusitadas, como foi observado, por exemplo, na última década. Além disso, a integração de todas as fontes pode ser estratégica para que o Brasil consiga zerar as emissões líquidas de carbono até 2050.
Pelos dados divulgados, grande parte do potencial eólico offshore do país se encontra nas regiões Nordeste (o potencial total é de 356 GW em uma área de leito marinho tecnicamente viável de 89 mil km²), Sudeste (potencial total de 340 GW em uma área de leito marinho de 85 mil km²) e Sul (potencial total de 660 GW em uma área de leito marinho de 165 mil km²).
Cenários possíveis
O documento traça três cenários possíveis para o desenvolvimento da energia eólica offshore no país. O primeiro, cenário-base, considera uma expansão modesta em linha com as projeções do Roadmap Eólica Offshore da EPE, que projeta 4 GW operacionais em 2035 e 16 GW até 2050, quando a fonte já representaria 3% da geração total projetada para o país.
Neste caso, o investimento seria de US$ 40 bilhões (aproximadamente R$ 222,2 bilhões) até 2050 e uma taxa média de instalação de pouco menos de 1 GW ao ano. Dada a extensa linha costeira do Brasil, isso equivaleria ao uso de apenas 1,2% do leito marinho disponível.
O relatório pontua que é improvável que os níveis modestos de expansão desencadeiem investimentos significativos em infraestrutura associada (portos, navios e rede elétrica) e na indústria manufatureira (turbinas, fundações, cablagem, balanço da usina etc.
O segundo cenário é o intermediário. Ele considera um futuro no qual a energia eólica offshore começará a desempenhar um papel importante na matriz elétrica do Brasil, com 8 GW em capacidade instalada até 2035 e 32 GW até 2050, quando representaria 6% da capacidade total de geração do país.
Esta configuração determina que a energia eólica offshore ocuparia apenas 2,3% do leito marinho tecnicamente viável. A capacidade instalada seria distribuída de forma mais uniforme nas três macrorregiões (Nordeste, Sudeste e Sul), provavelmente impulsionada por melhorias na transmissão que facilitassem a evacuação para os principais centros de demanda e reformas portuárias que permitissem tanto a construção/triagem quanto a operação e manutenção das instalações.
Esses investimentos são justificados pela implantação, em ritmo regular, de 1,8 GW ao ano de projetos. Por exemplo, com um Capex (Despesas de Cpital) total de US$ 80 bilhões [R$ 444,4 bilhões).
Potencial da energia
O último cenário, o avançado, considera um futuro no qual a energia eólica offshore seria um elemento importante para a matriz elétrica brasileira. Dessa forma, respondendo por quase um quinto da geração total do país até 2050, com 96 GW de capacidade instalada.
Neste caso, a energia eólica offshore torna-se uma presença constante ao longo da costa nas três macrorregiões, ocupando 7,1% do leito marinho tecnicamente viável. Este cenário foi concebido com o objetivo de colocar o Brasil como liderança importante no desenvolvimento da energia eólica offshore. Assim, considera a necessidade de uma maior capacidade offshore para atingir as metas de eletrificação e descarbonização industrial. Especialmente as necessidades de energia renovável para a demanda prevista de H2V até 2050.
O investimento total necessário seria de US$ 240 bilhões [R$ 1,3 trilhão] e uma taxa média de instalação de 5,3 GW ao ano. Isso seria uma taxa de crescimento muito maior que a de qualquer país atualmente, com exceção da China. Essas adições anuais de 5,3 GW exigiriam atualizações substanciais nas infraestruturas existentes e novas adições para a capacidade de produção. Dessa forma, resultaria em US$ 168 bilhões [R$ 933,3 bilhões] de valor agregado bruto acumulado e 6 milhões de anos ETI acumulados de 2028 a 2050.
Desafios a enfrentar
O documento enfatiza que desafios importantes podem afetar a natureza do desenvolvimento da energia eólica offshore no país. Os principais são: alto custo inicial, acesso a financiamento, aquisições, integração à rede, considerações ambientais e sociais. Além disso, os portos e logística, cadeia de suprimentos e hidrogênio verde.
Para viabilizar o setor, ao elaborarem uma estratégia de longo prazo, os formuladores de políticas públicas e as partes interessadas devem considerar o seguinte, de acordo com a análise:
– A energia eólica offshore pode ser a “nova energia hidrelétrica do Brasil”. Mas somente se atingir escala suficiente, como preveem as metas estabelecidas nos cenários intermediário e ambicioso
– O Brasil precisará realizar investimentos significativos na expansão de sua rede de transmissão, em sua estrutura portuária. Além disso, em sua capacidade manufatureira para que possa concretizar estes dois cenários 2 e 3
– Tais investimentos são requisitos essenciais para o desenvolvimento da energia eólica offshore. Nesse sentido, o Brasil poderia concentrar os leilões em múltiplas áreas próximas aos portos designados. Assim, permitiria o compartilhamento dos custos de investimento e reduzir o LCoE (custo nivelado e eletricidade) dos projetos numa base regional.
– O Brasil precisará agir rapidamente para aproveitar o interesse atual, especialmente à luz das condições de mercado. Porque estão reduzindo o apetite dos investidores por mercados não essenciais. Além disso, para concluir o mapeamento das sensibilidades ambientais e sociais e designar as zonas iniciais para o desenvolvimento da energia eólica offshore.
Fonte: Um Só Planeta
Receba as principais notícias sobre sustentabilidade no seu WhatsApp! Basta clicar aqui