Cientista brasileiro Carlos Nobre é o mais novo membro dos Planetary Guardians

A antropóloga e diplomata porto-riquenha Christiana Figueres também ingressou no coletivo.

Membros dos Planetary Guardians
Cientista brasileiro Carlos Nobre é o mais novo membro dos Planetary Guardians — Foto: Reprodução/redes sociais -

O cientista brasileiro Carlos Nobre e a antropóloga e diplomata porto-riquenha Christiana Figueres são os dois novos membros dos Planetary Guardians (Guardiões Planetários, em tradução para o português, coletivo global independente comprometido com a elevação da ciência dos Limites Planetários). O anúncio aconteceu na sexta-feira (24) em evento realizado no Brasil, no AYA Hub.

Mundialmente reconhecido e ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 2007 junto com o restante da equipe por trás do Quarto Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas e o ex vice-presidente dos EUA, Al Gore, Nobre é o primeiro brasileiro a fazer parte do grupo fundado pelo bilionário britânico Richard Branson.

O cientista sênior do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) e presidente do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas dedicou sua carreira científica a pesquisar os riscos de empurrar a Amazônia em direção a um grande ponto de inflexão, impulsionado pelo aquecimento global, desmatamento e incêndios florestais. Seu trabalho foca em soluções para salvaguardar a Amazônia.

Amazônia em destaque

Figueres também é uma líder renomada internacionalmente em mudanças climáticas, com larga experiência colaborando entre setores para proteger o planeta e a humanidade. Ela é cofundadora da Global Optimism e ex-secretária executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). Durante seu mandato, reuniu governos nacionais e subnacionais, corporações e ativistas, instituições financeiras e comunidades de fé, think tanks e provedores de tecnologia, ONGs e parlamentares para juntos entregar o Acordo de Paris, que foi adotado em 2015.

Os dois novos membros dos Planetary Guardians comentaram sobre a importância de proteger a Amazônia. “A Floresta Amazônica é o coração biológico do planeta, com pelo menos 13% da biodiversidade mundial. Aproximadamente 28 milhões de pessoas vivem na Amazônia brasileira, incluindo muitos Povos Indígenas, afrodescendentes e comunidades ribeirinhas que preservam a floresta há centenas de anos. Investir nessas pessoas e garantir que possam proteger a floresta amazônica é um dos melhores investimentos que podemos fazer para preservar nosso sistema de suporte de vida compartilhado”, destacou o cientista Nobre.

“Sem a Amazônia, será impossível retornar nosso planeta à segurança. Investir no Brasil é uma das melhores apostas da humanidade para manter o limite de 1,5ºC, mesmo que temporariamente ultrapassado. Ainda não é tarde demais, se todos juntos colaborarmos”, acrescentou Figueres.

Amazônia e seu potencial de receber energia renovável
Cientista diz que sem a Amazônia, será impossível retornar nosso planeta à segurança – Fonte: WWF-Brasil

Instituto Arapyaú como parte do Conselho

Durante o evento realizado na semana passada, que contou com a participação de nove membros dos Planetary Guardians, incluindo Branson, o Instituto Arapyaú também foi anunciado como o mais novo membro do Conselho Consultivo do coletivo.

A instituição filantrópica brasileira é a única representante do país no Conselho e trabalhará ao lado de Nobre e de outro membro, Johan Rockström, cofundador do Stockholm Resilience Centre e diretor do Instituto Potsdam para Pesquisa sobre Impacto Climática (PIK, na sigla em inglês), para identificar iniciativas científicas brasileiras importantes que também ajudarão a informar a iniciativa global de Ciência das Fronteiras Planetárias.

“Estamos honrados com o convite, que reconhece a missão que o Arapyaú vem perseguindo nos últimos 15 anos de contribuir para um desenvolvimento justo, inclusivo e de baixo carbono no Brasil. Indiscutivelmente, os recentes eventos horríveis no Rio Grande do Sul destacaram a importância de uma abordagem sistemática e interconectada para a nossa existência na Terra. Estamos convencidos de que o quadro das Fronteiras Planetárias pode servir como essa ferramenta poderosa para regular a saúde do nosso planeta”, ressaltou Renata Piazzon, diretora geral do instituto.

O encontro ainda homenageou o trabalho de um grupo de cientistas indígenas: Braulina Baniwa. ativista pelos direitos das Mulheres Indígenas e mestranda em Antropologia Social na Universidade de Brasília (UnB); Francisco Apurinã, que está trabalhando com a Universidade de Helsinki pesquisando mudanças ecológicas em uma perspectiva indígena; Sineia Bezerra do Vale, gestora ambiental da Terra Indígena Serra da Lua e indicada para copresidente do Fórum Internacional de Povos Indígenas para o Clima, e Cristiane Gomes Julião, PhD em Antropologia Social no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), focando em direitos humanos, Povos Indígenas e meio ambiente.

Saúde do planeta

Rockström, junto com outros cientistas globais, mostrou por meio do mais recente exame de saúde dos Limites Planetários que seis dos nove limites que regulam a saúde do nosso planeta foram ultrapassados, aumentando o risco de danos irreversíveis ao sistema terrestre que nos mantém vivos.

“Nossa única chance de um pouso climático seguro é uma abordagem unificada na qual retornamos simultaneamente ao espaço seguro para todos os Limites Planetários, em particular os limites da biosfera de biodiversidade, terra e água”, salientou.

Durante o encontro no Brasil, ele afirmou, segundo o jornal Valor Econômico, que o “tempo está se esgotando”. “Temos todos os sinais. O que está acontecendo no Brasil, no Rio Grande do Sul, é um exemplo de que os humanos estão ampliando os riscos em todo o sistema terrestre. Hoje não se trata mais de meio ambiente. Trata-se de segurança. Trata-se de saúde. Trata-se de dignidade. A competitividade das economias segue um caminho insustentável rumo a um beco sem saída. A transformação é necessária, mas também possível.”

Presentes na cerimônia do cientista

O guardião Juan Manuel Sanches, ex-presidente da Colômbia e ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 2016, também esteve presente e acrescentou: “Precisamos de COPs que tomem decisões concretas. Queremos ouvir menos discursos e mais ação porque é isso que o mundo precisa imediatamente. No G20, precisamos de decisões que reformem o sistema financeiro internacional. Sabemos que precisamos de um volume de recursos enorme, mas também sabemos que estes recursos devem ser distribuídos de maneira justa. Para chegarmos a um consenso, a palavra justiça é essencial”.

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Fonte: Um Só Planeta

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