Transição energética: vulcões inativos podem ser saída para exploração de terras raras

A nova descoberta aponta que, talvez, não exista mais a necessidade de explorar novas minas, evitando maiores danos em ambientes naturais

Foto: Milena Florim -

Proporcional ao aumento na demanda por eletrônicos, celulares, TVs de tela plana, carros elétricos e, até mesmo, turbinas de energia eólica, aumenta-se, também, a necessidade de maior exploração das substâncias “terras raras”. Terras raras são um conjunto de elementos químicos, normalmente encontrados na natureza misturados a minérios, de difícil extração. Mas, possuem, características peculiares, como magnetismo intenso e absorção e emissão de luz. Essas propriedades especiais fazem com que sejam usadas numa infinidade de aplicações tecnológicas.

Entretanto, o desafio do meio da mineração é identificar esses elementos em grandes quantidades e de forma viável -economicamente- para sua exploração. Além disso, atrelado à dificuldade no processo de busca e extração dessas matérias-primas estão os grandes danos ambientais gerados. 

Pensando nisso, um grupo de cientistas da Academia Chinesa de Ciências e da Universidade Nacional Australiana (ANU), pensaram em uma estratégia buscando solucionar esse dilema comercial e ambiental. Assim, simularam erupções vulcânicas, em laboratório, resultando em materiais similares aos encontrados em vulcões ricos em ferro, já extintos no planeta

Dessa forma, através do resultado do experimento, simularam o derretimento dessas rochas através de um superaquecimneto de aproximadamente 1.100ºC. Assim, conseguiram entender e estudar com mais detalhes as características dos elementos presentes na composição dessas pedras. 

O resultado foi muito otimista. Notou-se que alguns tipos de magma são fonte importante de elementos de terras raras. De acordo com Michael Anenburg, da ANU, o magma adquirido através dessas rochas de vulcões inativos apresentaram uma concentração de ferro até cem vezes mais eficiente na concentração de metais de terras raras do que os magmas de pedras daqueles que normalmente entram em erupção em vulcões ativos.

“Nunca vimos um magma rico em ferro sair de um vulcão ativo, mas sabemos que alguns vulcões extintos, com milhões de anos, tiveram esse tipo enigmático de erupção”, contou em uma nota pública.

Vulcões como oportunidade

 Além disso, destacou que no mercado de mineração de ferro já é muito comum que haja a extração nesse tipo de locais. Isso acontece por conta da sua viabilidade na concentração do elemento.

“Nossos resultados indicam que minas existentes em tais locais podem potencialmente ser modificadas para produzir terras raras também. Este seria um resultado positivo – uma operação de mineração existente pode ganhar valor adicional”, escreveu. “Em alguns casos, os resíduos da mina podem ser reprocessados para extrair esses metais críticos. Isso significaria que novas minas para elementos de terras raras podem nem ser necessárias, prevenindo perturbações desnecessárias de ambientes naturais.”

Foto: Milena Florim

A mineração há anos vem sendo uma pauta latente e recorrente no cenário mundial, principalmente, tratando-se de sustentabilidade e desenvolvimento verde associados aos direitos humanos. Assim, a urgência da temática levou o  Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, a convocar um painel de especialistas para discutir sobre planos de ações que assegurem que governos e indústrias garantam que os direitos humanos sejam respeitados no mercado da mineração.

Criou-se, então, um documento que busca promover uma atividade mais sustentável e responsável com os prestadores de serviços desse meio. Nele é exigido, por exemplo, que os direitos humanos devem estar no centro de todas as cadeias de valor mineral; a integridade do planeta, o seu ambiente e a biodiversidade devem ser salvaguardados; a justiça e a equidade devem sustentar as cadeias de valor mineral; o desenvolvimento deve ser promovido através da partilha de benefícios, da adição de valor e da diversificação econômica; os investimentos, as finanças e o comércio devem ser responsáveis e justos; são necessárias medidas de transparência, responsabilização e combate à corrupção para garantir a boa governação, e a cooperação multilateral e internacional deve apoiar a ação global e promover a paz e a segurança.

Foto: Milena Florim

Respaldo

Esses princípios fazem parte de um plano ainda maior que visa tirar do papel uma transição energética para energias renováveis, cada vez mais urgente. Assim, diversos países se comprometeram com o documento visando, também, se beneficiar economicamente com as oportunidades inerentes ao desenvolvimento verde.

Atrelado as garantias do comprometimento dos governos e do cumprimento dos tópicos, há algumas recomendações propostas pela ONU. Elas vão desde a criação de um grupo consultivo especializado de alto nível sediado nas Nações Unidas para estreitar o diálogo político multissetorial e a coordenação sobre questões econômicas e sustentáveis nas cadeias de valor mineral até à criação de um fundo para abordar o legado das questões resultantes de minas abandonadas ou sem dono, a longo prazo, por exemplo.

Receba as principais notícias sobre sustentabilidade no seu WhatsApp! Basta clicar aqui