Tesouro marinho capixaba: macroalgas do ES contribuem para o sequestro de carbono

Outro ponto relevante da pesquisa é a constatação de que grande parte desses bancos de macroalgas se encontra fora de unidades de conservação

Algas capixabas
Foto: Angelo Bernardino/Sítio Peld Espírito Santo/divulgação/Ufes -

Uma pesquisa inédita realizada pelo Grupo de Ecologia Bentônica da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) acaba de lançar luz sobre a extensão e a importância dos bancos de macroalgas presentes na costa capixaba para o sequestro de carbono. O estudo, financiado pelo Programa de Longo Prazo de Pesquisa Ecológica – Habitats Costeiros do Espírito Santo (Peld/HCES), é o primeiro a dimensionar a área ocupada por essas algas em todo o litoral do Estado, revelando seu papel fundamental no combate às mudanças climáticas.

O projeto de iniciação científica, liderado pelo estudante do quinto ano de Oceanografia André Vassoler sob a orientação do professor Angelo Bernardino, coletou amostras na Área de Proteção Ambiental (APA) Costa das Algas, em Aracruz. Essa região se destaca por abrigar uma rica biodiversidade e uma grande quantidade de macroalgas típicas do Atlântico Tropical. Além da coleta em campo, a pesquisa utilizou imagens de satélite para identificar a presença dessas algas em toda a extensão da costa do Espírito Santo.

Publicado no dia 8 de abril, o estudo apresenta a primeira estimativa do carbono ecossistêmico armazenado nos bancos de algas do litoral capixaba. Os resultados apontam para uma média de 1.6 tonelada de carbono por hectare. “A análise revela que algas proporcionam um incremento de 30% nos estoques de carbono quando comparado com áreas sem a presença desses bancos, mostrando seu valor como reservatório de alimento para comunidades marinhas”, explica o professor Angelo Bernardino.

O mapeamento realizado na zona costeira do estado identificou impressionantes 527 hectares de bancos de algas, uma área equivalente a aproximadamente 750 campos de futebol. “Esses extensos bancos, dominados principalmente por macroalgas do gênero Sargassum, possuem um estoque total equivalente a 870 toneladas de carbono que, se perdidos, emitiriam mais de três mil toneladas de gás carbônico para a atmosfera, ou o equivalente a emissões de 700 carros movidos a gasolina por um ano”, alerta o professor Bernardino.

Outro ponto relevante da pesquisa é a constatação de que grande parte desses bancos de macroalgas se encontra fora de unidades de conservação. “Dessa forma, o estudo auxilia órgãos estaduais e federais no planejamento costeiro para possibilitar a conservação desses ecossistemas que abrigam grande biodiversidade”, ressalta o professor.

Apesar da relevância das algas para o sequestro de carbono, a pesquisa também traz uma importante distinção em relação aos manguezais. Segundo Bernardino, “as algas armazenam menos carbono azul do que os bosques de manguezal, e não aumentam a quantidade armazenada no solo, o que sugere que seu valor para processos de mitigação de emissões de gases estufa seja limitado, ao contrário do que dizem outros estudos”.

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