
Em uma operação que uniu conservação e ciência, as cabras da Ilha Santa Bárbara, no arquipélago de Abrolhos, foram resgatadas, revelando-se um verdadeiro tesouro genético para a pesquisa. Por mais de dois séculos, esses caprinos viveram isolados na ilha, enfrentando a ausência de uma fonte essencial para a vida: a água potável. Acredita-se que seus ancestrais foram deixados ali por navegadores no período colonial. Ao longo das gerações, desenvolveram mecanismos de sobrevivência surpreendentes em um ambiente seco. A pesquisa com as cabras de Abrolhos tem grande potencial para a caprinocultura brasileira, especialmente em regiões semiáridas, onde a falta de água é um dos principais desafios para a criação de animais.
A retirada dos 27 animais, fruto de um esforço conjunto entre o Instituto Chico Mendes (ICMBio), a Marinha do Brasil, a Embrapa, a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) e a ADAB, não apenas marca um avanço na restauração ambiental da ilha, mas abre um campo de estudos sobre a capacidade de adaptação da vida em condições extremas.
“Esses animais têm e devem ter, na sua genética, um componente que lhes permitiu essa sobrevivência em uma ilha sem água”, explica o professor Dr. Ronaldo Vasconcelos, da UESB, especialista em conservação de recursos genéticos. “Imagine um material genético que se desenvolveu nessas condições. Esperamos que isso seja confirmado pela ciência.”
A bióloga Jessyca Teixeira, do ICMBio, que acompanhou de perto a operação, ressalta a importância da remoção para a saúde do ecossistema insular, mas reconhece o valor científico dos animais. “Ao longo de três expedições, retiramos esses 27 caprinos que, apesar do impacto ambiental que causavam, representam uma oportunidade única para a pesquisa”, afirma.
Os animais foram encaminhados para a UESB, em Itapetinga, onde, em parceria com a Embrapa, serão submetidos a estudos genéticos detalhados. O objetivo principal é desvendar os segredos por trás da sua capacidade de sobreviver com escassez de água. Essa adaptação pode estar ligada a características específicas do DNA, que lhes permitem utilizar a água de forma mais eficiente ou obter hidratação de outras fontes, como a vegetação local.
“Acredita-se que os primeiros animais tenham sido deixados no local por navegadores, durante o período colonial, há mais de 200 anos, como forma de garantir a subsistência durante suas expedições. As cabras são consideradas um tesouro genético pelos pesquisadores, pois conseguiram se adaptar a um ambiente com escassez de água, já que a Ilha não possui fontes de água doce. Essa característica pode ser essencial para pesquisas voltadas ao manejo e à reprodução de caprinos em regiões semiáridas”, destaca a publicação no site da UESB.
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