Trabalhar menos, consumir apenas o suficiente e repartir melhor os recursos do planeta: para Luiz Fernando Schettino, essa é a medida da sustentabilidade. A vida é breve, lembra ele, e o verdadeiro investimento não está em acumular bens, mas em construir qualidade de vida, própria e coletiva, sem esgotar a natureza ou aprofundar desigualdades.
Professor, engenheiro florestal, advogado, doutor em Ciência Florestal e ambientalista, Schettino foi entrevistado pelo SustentaCast, podcast gravado na Casa Sustentabilidade Brasil, durante a COP30, em Belém (PA). Ele organiza sua experiência em torno de um fio condutor: a relação sensível com a natureza e a defesa de um modelo de desenvolvimento que respeite limites.
Choque de gerações
Na entrevista, Schettino reflete também sobre o choque de gerações. Ele reconhece que, no passado recente, o trabalho foi, muitas vezes, um valor absoluto, ao custo da convivência com filhos, da vida familiar e da atenção à própria saúde. As gerações mais novas, segundo ele, questionam esse modelo e passam a perguntar se faz sentido ter carro, trabalhar até tarde ou se engajar em empresas que não contribuem com nada relevante para a sociedade.
Assim, o ambientalista propõe uma síntese: nem a lógica da exaustão, nem o individualismo do “cada um por si”. Sustentabilidade, para ele, é compreender “a quantidade daquilo que é suficiente” para uma vida digna e, ao mesmo tempo, permitir que outros também acessem esse patamar. Usa o exemplo do consumo de água, que é muito mais alto em alguns países do que em outros, para mostrar que reduzir excessos é condição para ampliar direitos básicos.
Dessa forma, as ideias se desdobram em propostas concretas: ampliação do home office quando possível, transporte coletivo de qualidade e pontual, incentivo a bicicletas e veículos elétricos, regras mais rígidas de circulação em centros urbanos, escalonamento de horários de funcionamento em escolas, repartições e serviços para diminuir congestionamentos e emissões. Tudo isso ancorado em um eixo que ele considera indispensável: educação ambiental.
Sustentabilidade e educação ambiental
“Educação ambiental é muito mal entendida, como se fosse coisa de criança com florzinha. Não é. É para governador, deputado, senador, empresário”, afirma. Ele alienta que gestores públicos e privados precisam ser formados para pensar em economizar energia e água. Além disso, precisam repensar processos produtivos e reorientar negócios em direção a práticas mais responsáveis.
Assim, ao falar de políticas públicas, ele aponta o Espírito Santo como um dos melhores exemplos de agenda ambiental no país. Cita a organização fiscal do estado, a criação de instrumentos como o fundo soberano, programas de restauração florestal e proteção de recursos hídricos, investimentos em segurança pública e transporte, além de metas de descarbonização.
“A nossa preocupação hoje é continuar esse trabalho pelo bem da sociedade, pela qualidade de vida e pelo futuro de todos que virão”, reforçou.
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