
Etapa oficial da COP 30, conferência adota estrutura técnica com escuta ativa, diversidade transversal e articulação territorial. A proposta desafia o formato tradicional e se consolida como modelo alternativo
A Conferência Sustentabilidade Brasil 2025, que ocorre de 11 a 14 de junho em Vitória (ES), foi reconhecida e apoiada pela Comissão Nacional para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (CNODS) como etapa oficial da COP 30 e se apresenta como um experimento metodológico. Com 40 painéis e mais de 120 especialistas, o evento adota uma curadoria técnica que busca romper com modelos convencionais e criar um novo padrão para conferências nacionais de sustentabilidade.
A programação foi construída a partir de uma matriz de cruzamentos entre trilhas horizontais (Do Rio a Belém – Conexão ES, Economia Azul, Inovação e Infraestrutura Verde, Comunicação e Educação Ambiental, Competitividade) e trilhas transversais que abordam temas como justiça climática, saúde, cultura, agronegócio, mercado ESG, finanças e transição energética. Cada painel resulta da interseção entre dois desses eixos e é guiado por um objetivo curatorial específico, estabelecido antes da definição de qualquer nome.
O diferencial do Sustentabilidade Brasil está na forma como o debate é estruturado. Ao invés de apenas reunir especialistas, a conferência adota uma metodologia pública e documentada, que articula rigor técnico, metas de diversidade e escuta ativa de territórios. Os painéis foram desenhados para provocar encontros estratégicos entre saberes, com intencionalidade e coerência, ao invés serem construídos com base em afinidades institucionais.
Esse formato contrasta com o padrão predominante em eventos da área, marcados por falas isoladas, painéis homogêneos ou repetições de nomes e formatos. Em geral, há concentração de especialistas em áreas específicas, pouca circulação de vozes periféricas e escassa articulação entre ciência, prática e política pública. A proposta do Sustentabilidade Brasil é mudar essa lógica, com uma curadoria que valoriza a pluralidade como base técnica não apenas como valor simbólico.
“O nosso ponto de partida não foram os nomes, mas os objetivos curatoriais. Foi isso que garantiu a coerência técnica e a pluralidade real nos debates”, afirma Dani Klein, diretora técnica do Instituto Sustentabilidade Brasil (ISB) e líder da curadoria do evento. “Não queremos encaixar falas em temas pré-formatados, mas construir encontros que façam sentido para o Brasil dentro da agenda global.”
Mariana Klein, que divide a liderança curatorial com Dani, reforça que o diferencial do evento está a forma como o conteúdo está sendo construído. “Não há sustentabilidade onde não há diversidade no debate. E isso precisa se expressar também nos temas técnicos, como energia, finanças e agro. Fizemos da diversidade um eixo estruturante, e não um bloco isolado da programação.”
Cada painel é composto por três participantes de trajetórias complementares, sem mediação hierárquica. Os trios foram conectados previamente para construir juntos a dinâmica da mesa, e a construção dos debates começou um mês antes do evento. As metas foram explícitas: ao menos 50% de mulheres e 40% de pessoas diversas, considerando raça, território, identidade e vivência. A proposta rejeita mesas homogêneas e prioriza escuta ativa e produção de síntese coletiva.

Enquanto outros formatos priorizam compromissos institucionais ou a visibilidade de grandes players, o Sustentabilidade Brasil aposta na combinação entre densidade técnica, territorialização e aplicabilidade prática. A inclusão do ODS 18 — Igualdade Étnico-Racial — como diretriz transversal exemplifica essa abordagem. Proposto pelo Brasil no G20 Social, o novo objetivo está presente desde a concepção metodológica do evento.

“O modelo adotado estimula escuta e tensionamento qualificado. Não é uma feira de soluções nem um palco corporativo. É um espaço de construção crítica. Isso assustou algumas corporações, que estão acostumadas a ter o controle das narrativas, especialmente em debates dessa natureza no ES”, resume Dani.
Mariana completa: “Essa curadoria não é neutra mesmo. Ela é orientada pela busca de justiça, coerência e efetividade”.
Entre os temas em destaque, estão a rastreabilidade no agro regenerativo, os impactos das plataformas offshore na economia azul, o papel da comunicação na compreensão da transição energética e os efeitos da crise climática sobre os sistemas de saúde pública.
Todo o processo curatorial foi documentado em um relatório público, que detalha os critérios adotados, as decisões metodológicas, os desafios enfrentados e os aprendizados sistematizados. Segundo as organizadoras, o controle da curadoria foi essencial para preservar a integridade técnica do conteúdo, mesmo diante de tentativas de interferência por parte de interesses comerciais.
Para Dani Klein, o Sustentabilidade Brasil representa mais do que uma etapa da COP. “Queremos entregar um modelo, um jeito de fazer política climática com método, com base, com voz e com território. Nosso legado começa pela forma como se constrói o debate.”
O relatório completo e a programação oficial estão disponíveis clicando aqui.
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