O benefício do uso de dados para tomada de decisão sobre ações em prol da sustentabilidade tem sido cada vez mais percebido pelas empresas. Mas também o setor público começa a se valer de plataformas de tecnologia que compilam em um só lugar diversos indicadores sociais, ambientais e de gestão. O Estado do Rio Grande do Sul é um deles.
O governo gaúcho anunciou há poucas semanas, durante o evento de inovação South Summit, na capital Porto Alegre, uma parceria com a empresa de gestão de dados Codex para mapear o andamento de suas metas de descarbonização até 2050, mas também identificar frentes onde possa atuar para mitigar e se adaptar às mudanças do clima. Serão investidos R$ 2 milhões por parte do governo e outros R$ 125 mil captados via um financiamento de organização internacional.
“Nos espelhamos em um roadmap da Abema [Associação Brasileira de Entidades de Meio Ambiente], que criou indicadores para serem acompanhados em nível estadual, considerando os diferentes estágios em entendimento e ações de cada um. Agora estamos buscando junto aos municípios informações que nos deem esse olhar multinível das nossas ações de mudanças climáticas”, explica Marjorie Kauffmann, secretária de Meio Ambiente do RS, ao Um Só Planeta.
Inventário de carbono
Ela comenta que as 497 cidades do Estado estão em níveis diferentes tanto de coleta de informações quanto de planejamento e execução de ações com esse olhar. Por isso, diz a secretária, a ferramenta tem o objetivo também de ajudar a elencar quais informações são necessárias para que seja desenvolvida uma base de dados com um mínimo de padronização.
“Esperamos ter na primeira quinzena de maio a primeira reunião das comissões municipais, quando iremos falar sobre as propostas”, comenta Kauffmann. Ela explica ao Um Só Planeta que o ponto básico é a capacitação e conhecimento sobre a pauta da crise do clima. “Nem isso temos uniformidade, ainda. Muitos municípios tinham secretarias de agricultura, por exemplo, que acabaram virando secretarias do meio ambiente”, conta.
O segundo passo é fazer o inventário de carbono de todo o Estado. “Temos uma forte vocação agropecuária, e a própria Embrapa tem estudos de mais de 10 anos de balanço de emissões para a pecuária; temos de aproveitar esse conhecimento. Tem município que é taxado como grande emissor, mas, por suas atividades agrícolas, pode ser que tenha até emissões líquidas negativas.”
Meio ambiente no Rio Grande do Sul
Marcelo Camardelli, secretário-adjunto da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMA), reitera que o lançamento dessa ferramenta vai ao encontro da agenda ProClima2050. “Ela está diretamente vinculada ao compromisso do Estado de reduzir as emissões de carbono em 50% até 2030 e neutralizar a totalidade das emissões até 2050”, diz. O principal propósito é permitir que as ações dos municípios contribuam para a meta coletiva relacionada às emissões até 2050. A ideia é trabalhar as quatro frentes: adaptação, resiliência, redução e mitigação.
Venicios Santos, especialista em engenharia de software, e atual diretor de Negócios da Codex, explicou ao Um Só Planeta que o objetivo é ter uma plataforma de governança de dados onde os gestores públicos poderão visualizar, cruzar e analisar uma série de informações relacionadas ao desafio climático.
O número e quais indicadores serão monitorados, diz Santos, ainda está em discussão com a secretaria do Meio Ambiente e a do Planejamento. Mas ele adiantou alguns exemplos que devem compor o escopo. Por exemplo: quilômetros lineares de ciclovias, número de torres de carregamento de veículos elétricos, se os municípios já tem um plano diretor que contempla a infraestrutura para carros elétricos e híbridos, quantos quilômetros de ciclovias, se as cidades têm planos de promover mobilidade e matriz energética mais limpa, entre outros.
Perspectivas do projeto
“A ideia é, a partir da análise de dados sobre a situação, promover ou acelerar a matriz de mobilidade, encontrar soluções para a emissão de metano da pecuária, instalando, por exemplo, biodigestores na área rural, promovendo agricultura de baixo carbono. O Estado tem vocação para agro e poderia explorar sinergias com o meio ambiente”, comenta Santos.
O desenvolvimento da ferramenta ficará pronto até o meio do ano para que seja possível elaborar um primeiro mapa. Assim, poderão identificar as vulnerabilidades e necessidades em outubro de 2024. Aí, a partir desse diagnóstico, montar a orientação e estratégia do Estado até o fim de 2024.
Entre possíveis iniciativas que podem ser analisadas estão, por exemplo, incentivos fiscais para determinados setores da economia. Essa seria uma parceria que pode ser feita com uma instituição financeira regional. “A Ciência de Dados traz um embasamento para dirigir as decisões. Queremos apoiar o governo no cumprimento dos acordos climáticos”, diz.
Planos do setor privado
Santos esclarece que a lista de itens a serem avaliados está alinhada com os indicadores do próprio Censo, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dessa forma, consegue facilitar comparações. “Estamos criando uma referência e, para isso, buscando várias áreas e suas melhores fontes de referência, como o GHG Protocol, MSCI, Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e outros”, aponta.
A Codex já vinha fazendo diversos trabalhos de organização de dados para órgãos do Estado. Por exemplo, a Secretaria de Planejamento, a Procex, a Defesa Civil, Cema, Cepan.
Ainda com o Rio Grande do Sul, a Codex criou a plataforma chamada Legaro. Essa criação é fruto de uma parceria institucional com a Fundação Dom Cabral (FDC), para ajudar as médias e pequenas empresas a entenderem seu avanço em mais de 400 indicadores ESG [sigla em inglês para questões ambientais, sociais e de governança corporativa].
As empresas que têm intenção de participar precisam fazer um cadastro e preencher suas informações. Cruzadas com dados públicos e parâmetros bem-recebidos no mercado, como GRI, MSCI e os ODSs, é gerado um diagnóstico. O algoritmo faz a análise a partir do segmento e da atividade econômica em que a empresa atua. Assim, consegue estabelecer quais indicadores ESG são mais relevantes. No final, é gerado uma nota geral e notas parciais por temática prioritária da empresa. Além de apresentar onde a empresa pode melhorar e o que deveria priorizar.
Fonte: Naiara Bertão /Um Só Planeta
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