As emissões decorrentes do desmatamento no Cerrado se concentraram na região do Matopiba desde janeiro de 2023 até o último mês de julho, apontam dados divulgados pelo Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) nesta quarta-feira (18). A região, fronteira agrícola que compreende partes dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, originou 80% das emissões do bioma por perda de vegetação.
Segundo o SAD Cerrado (Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado) do Ipam, foram 108 milhões de toneladas de CO2 (dióxido de carbono) emitidas no período analisado. Assim, o valor equivale a 28,6 anos de emissões da cidade de São Paulo. Segundo dados da administração municipal, a capital paulista emite cerca de 3,7 milhões de toneladas de carbono por ano.
Em 2024, o Cerrado enfrenta até este mês de setembro o ano mais agressivo em queimadas desde 2012. Registrando cerca de 11 milhões de hectares atingidos pelas chamas, segundo monitoramento do Lasa/UFRJ (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro).
O território é quase o dobro do registrado em todo o ano de 2023 (5,7 milhões de hectares). Dessa forma, equivale à área de Cuba, sendo maior que países como Áustria e Irlanda.
O mês de agosto foi o pior do ano até agora, com 3,6 milhões de hectares impactados. Ou seja, uma área equivalente a 24 vezes a cidade de São Paulo consumida pelos incêndios florestais em 30 dias. Em números de focos de incêndio (53.233), o bioma já supera o total do ano passado (50.713).
Emissões do desmatamento no Matopiba
No Maranhão, líder do desmatamento no Cerrado entre janeiro de 2023 e julho de 2024, foram emitidas 35 milhões de toneladas. Esse foi, então, o resultado dos mais de 301 mil hectares de vegetação nativa desmatada. Assim, além de líder nas emissões no bioma, o estado também lidera as emissões em formações campestres, que corresponderam a 6 milhões de toneladas.
No Tocantins, segundo colocado no ranking, os 273 mil hectares desmatados no estado durante o período analisado resultaram em 39 milhões de toneladas de CO2 emitidos. Tanto em 2023 quanto em 2024, o estado liderou a lista de emissões decorrentes de formações savânicas e florestais. Dessa forma, totalizaram, juntas, 38 milhões de toneladas emitidas, 98% do total do estado.
O desmate no Cerrado da Bahia, que ocupa a terceira posição na lista de maiores desmatadores do bioma no período, foi responsável pela emissão de 24 milhões de toneladas de CO2. O Piauí, por sua vez, completa a lista de estados do Matopiba que ocupam as quatro primeiras posições do ranking de desmatamento e emissões. Dessa forma, correspondem a 11 milhões de toneladas emitidas.
Emissões do Cerrado se comparam à indústria
Segundo o Ipam, o desmatamento registrado no Cerrado desde janeiro de 2023 foi responsável pela emissão de mais de 135 milhões de toneladas de CO2. Dessa forma, o número corresponde a aproximadamente 1,5 vez as emissões anuais do setor industrial no Brasil.
Caracterizadas pela predominância de árvores retorcidas e arbustos, as savanas do Cerrado – Matopiba – concentraram 65% do total de emissões associadas ao desmatamento do bioma no período. A formação savânica é o tipo de vegetação predominante na região. Assim, ocupando 62% de toda a área de vegetação remanescente do bioma. Além disso, foi, também, a que concentrou a maior parte das emissões decorrentes do desmatamento: 88 milhões de toneladas de CO2 emitidas no período analisado.
“O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, berço de rios, bacias hidrográficas, aquíferos e a savana mais rica e biodiversa do planeta. Sua preservação, no entanto, esbarra em problemas crônicos da política ambiental, que costuma priorizar a proteção de formações florestais em detrimento de outros tipos de ecossistemas”, ressalta o Ipam, em nota.
“Mais de 60% da vegetação remanescente do Cerrado está dentro de áreas privadas e, pelo Código Florestal, essas propriedades podem legalmente desmatar até 80% da vegetação nativa em seus terrenos. É um cenário sensível para a proteção do bioma, que expõe a lacuna de políticas de incentivo para evitar o desmatamento, ainda que legal, e demanda também, mais fiscalização para averiguar o desmate ilegal”, avalia Fernanda Ribeiro, pesquisadora do Ipam responsável pelo SAD Cerrado.
Fonte: Marco Britto / Um Só Planeta
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