Produção sustentável de bioplástico requer boa gestão de resíduos

Estudo leva em consideração a realidade de produção com baixo impacto ambiental

Imagem: Divulgação OEKO -

O Brasil possui um grande potencial para substituir plásticos derivados de combustíveis fósseis, sem causar impactos significativos em áreas cultivadas, biodiversidade ou recursos hídricos, desde que a reciclagem seja gerida de forma adequada (o bioplástico). Essa conclusão foi apresentada em um estudo do Laboratório Nacional de Biorrenováveis (LNBR) do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), publicado na revista Nature.

O estudo analisou diferentes cenários até 2050, cruzando dados sobre áreas agricultáveis que poderiam ser destinadas ao cultivo de cana-de-açúcar sem competir com terras usadas para outras culturas, como pastagens para gado. O modelo de substituição sugerido poderia resultar em benefícios para o estoque de carbono, recursos hídricos e biodiversidade, principalmente se fossem priorizadas pastagens degradadas. Além disso, a cana-de-açúcar poderia aproveitar a infraestrutura já existente nas usinas de açúcar.

De acordo com a pesquisa, o cenário ideal envolveria o uso de 3,55 milhões de hectares para essa produção de bioplástico. Além disso, sem causar impactos ambientais, atendendo a uma demanda global que poderia chegar a 22 milhões de hectares. As áreas com maior potencial para essa prática estão em São Paulo, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. Pois são regiões que enfrentaram um aumento nas queimadas em 2024, conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.

Bioplástico: tópico urgente

O estudo também considerou o aumento do consumo de petróleo para produção de plásticos, que atualmente representa entre 5% e 7% da produção global. Além disso, representa uma contribuição de 2% nas emissões de gases de efeito estufa. A previsão é que essa participação aumente para 20% no consumo de petróleo e 15% nas emissões de carbono. Nesse cenário, o estudo aponta que existe um grande espaço para expandir a produção de polietileno de origem biológica (bioPE). Pode-se extrair esse material de cultivos como mandioca, batata-doce e fibra de coco, sendo a cana-de-açúcar uma excelente opção. Thayse Hernandes, pesquisadora do CNPEM, acredita que a produção de bioPE pode se tornar um componente-chave em uma economia de baixo carbono.

Em entrevista à Agência Brasil, a pesquisadora ressaltou alguns pontos importantes sobre o uso do bioplástico. Ela destacou que, para que o ciclo de reciclagem seja eficaz, é fundamental envolver os governos locais. A pesquisa utilizou o conceito de pegada de carbono para avaliar a redução das emissões ao longo de todo o ciclo de vida do material. Segundo Hernandes, as tecnologias de produção evoluíram, mas ainda há desafios: “o descarte desse plástico e o seu retorno a essa cadeia com o material reciclado. Por mais que seja de origem biológica, a principal vantagem dele vai ser estocar carbono e tirar carbono da atmosfera, mas o problema do plástico, lá no final do descarte, é que ele continua sendo o mesmo do plástico fóssil”, explicou. Ela lembrou que o bioPE, embora substitua o uso de petróleo com vantagens, não é biodegradável.

Imagem: Divulgação OEKO

Importância dos processos

“O grande gargalo é a coleta. É aquela tecnologia social mesmo, de organizar e evitar esse descarte irregular e irresponsável desse plástico, porque aí não tem jeito, ele vai chegar ao oceano e a gente não tem o que fazer com ele. Isso é uma questão de governança, por exemplo, das prefeituras, dos estados, do próprio governo federal. Por mais que se tenha um processo de reciclagem avançado, que o uso da terra esteja resolvido, vamos precisar desse esforço de coleta, ou a gente não conseguiria produzir de forma sustentável, teria que ter esses impactos negativos relacionados à produção”, elucida a pesquisadora.

Nos cenários onde a coleta de resíduos não torna-se eficiente, o estudo aponta que a produção de bioPE pode competir por terras com outras culturas. Assim, resultando em menor eficiência. Isso pode gerar conflitos em comunidades locais, afetar áreas de proteção ambiental e causar danos ainda mais graves ao clima.

*Com informações da Agência Brasil

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