
“O que aprendi com os indígenas? Que a boa relação parte de não levar ou impor nossos costumes. Mas procurar compreender a cultura e, mais ainda, compreender a necessidade territorial do grupo”. As palavras são do sertanista, técnico indigenista por 15 anos pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), chefe do núcleo de Educação Ambiental do Ibama por 30 anos e hoje diretor-presidente do Instituto Goiamum, Iberê Sissa.
A sabedoria dos povos originários nos convida a repensar nossas relações com outras culturas. Um ponto crucial é a questão territorial. A aparente vastidão de terras reivindicadas pelos povos originários esconde uma lógica de sobrevivência ancestral. Sem a tecnologia que molda nosso dia a dia, a natureza se torna o provedor direto de recursos. A caça, a coleta e a agricultura tradicional exigem áreas extensas para garantir a subsistência de comunidades inteiras.
Povos originários e território
“A necessidade de sobrevivência sem uso da tecnologia pede um terreno muito maior. Assim, até que eles absorvam a tecnologia de forma harmoniosa, no sentido de poderem sobreviver sem a necessidade de territórios extensos, é preciso um trabalho longo, que demanda tempo. Os Kaingang, que vivem no Rio Grande do Sul, por exemplo, assimilaram a tecnologia e hoje são os maiores produtores indígenas de soja do Brasil. Eles empregam gente de fora para trabalhar para eles. Mas foi um processo longo e precisa ser harmonioso”, salienta.
Sissa fez a declaração ao Instituto Sustentabilidade Brasil, na última terça-feira (12), quando concedeu uma entrevista ao lado do diretor-administrativo da instituição, Wita Sissa. Na ocasião, falou também sobre os conflitos da época da chegada dos primeiros portugueses ao Espírito Santo e como o processo foi cruel com os povos originários.
“Os colonizadores chegaram e entraram em conflito com os indígenas, que precisaram sair de seus territórios tradicionais. Os poucos que estão aqui, hoje em dia, fazem parte dos grupos que foram para Minas Gerais e Sul da Bahia, voltaram para o Espírito Santo e se juntaram. Deram, então, origem às aldeias que hoje estão sacramentadas em território capixaba”, explicou o ambientalista.
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