As mudanças climáticas estão tornando os furacões mais intensos e perigosos. Isso é o que apontam alguns estudos publicados recentemente, que mostram que o aumento na temperatura dos oceanos têm relação direta com a intensificação desse fenômeno. Nesse cenário, pesquisadores já discutem a necessidade da criação de uma nova categoria na escala que mede a intensidade dos furacões: a categoria 6.
Para entender a discussão é preciso lembrar que:
- Os oceanos cada vezes mais aquecidos permitem que os furacões se intensifiquem mais rápido porque fornecem combustível para o fortalecimento desses fenômenos.
- À medida que as consequências das mudanças climáticas se intensificam, a tendência é de que os furacões se tornem mais fortes com mais frequência.
- Uma nova categoria pode auxiliar a classificar e dar dimensão aos fenômenos.
Aquecimento dos oceanos e os furacões
Entre tantas consequências das mudanças climáticas, o aquecimento das águas dos oceanos é a que mais impacta no comportamento dos furacões.
“À medida que aquecemos o planeta com emissões de gases de efeito estufa, cerca de 90% desse excesso de calor que criamos foi para os oceanos”, analisa Andra Jenn, professora do Departamento de Ciência Ambiental da Rowan University.
Jenn é a autora de um estudo publicado na revista científica “Scientific Reports“, em 2023, que analisou justamente a relação entre o aquecimento do Oceano Atlântico Norte e a rápida intensificação dos furacões.
O estudo mostrou que tempestades tropicais no Atlântico têm 29% mais probabilidade de sofrer uma rápida intensificação atualmente – como aconteceu com o furacão Milton nesta semana –do que se comparado aos fenômenos que ocorreram entre 1970 e 1990.
Além disso, tempestades originadas no Oceano Atlântico têm mais que o dobro de probabilidade de se fortalecerem da categoria 1 para a categoria 3 em apenas 36 horas.
“As águas cada vez mais quentes fornecem uma fonte de combustível ideal para a tempestade. É como adicionar uma dose extra de cafeína ao seu café da manhã — não é o suficiente para fazer a tempestade acontecer, mas o suficiente para dar a ela um impulso extra”, compara.
A pesquisadora ainda acrescenta que, considerando o papel das águas quentes no abastecimento dos furacões, o esperado é que mais furacões se intensifiquem rapidamente se continuarmos a aquecer o planeta.
Novo nível máximo: categoria 6
Atualmente, a escala Saffir-Simpson, criada nos anos 1970, classifica os furacões de 1 a 5, baseada na velocidade máxima sustentada do vento de um furacão.
A categoria 5, a máxima, enquadra furacões com ventos superiores a 252 km/h. O furacão Milton, que chegou à Florida na noite de quarta-feira (10), por exemplo, foi classificado nessa categoria máxima ao longo de sua trajetória.
Mas essa categoria pode não ser mais suficiente para medir a intensidade dos furacões, que vêm se tornando mais potentes a cada temporada.
Um estudo publicado no início deste ano na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) apontou que ao menos cinco furacões entre 1980 e 2021 ultrapassaram a categoria 5.
Michael Wehner, cientista sênior da Lawrence Berkeley National Laboratory, da Universidade de Berkley, um dos autores do estudo, atribui isso ao já citado aquecimento do oceano. Além disso, alerta que a tendência é que a situação se agrave.
“Furacões muito intensos, como o Milton, já são mais comuns do que eram no passado. E esse padrão vai continuar até que paremos de queimar carvão petróleo e gás natural”, afirma.
O pesquisador explica que a discussão sobre a criação de uma nova categoria não pretende modificar necessariamente a escala existente. Entretanto, alerta sobre os perigos desses fenômenos, cada vez mais intensos.
“A criação de uma categoria 6 teria como objetivo justamente aumentar a conscientização sobre como as mudanças climáticas estão tornando as tempestades mais intensas e perigosas”, explica Michael.
Andra Jenn também acrescenta que adicionar uma nova categoria máxima pode ser útil, especialmente para melhorar a comunicação a respeito de tempestades extremamente perigosas.
Apesar disso, ambos alertam que qualquer furacão que já se enquadra nas categorias 4 ou 5 tem potencial catastrófico para as áreas impactadas.
Fonte: Júlia Carvalho / G1
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