O jeans é ruim para o meio ambiente, mas uma nova descoberta pode ajudar

Os corantes azuis usados para dar aos jeans sua cor característica têm um alto custo ambiental, mas um novo avanço tecnológico pode eliminar a necessidade de produtos químicos agressivos.

Várias calças jeans dobradas
A fabricação de jeans tem um custo muito alto para o meio ambiente, além de os subprodutos tóxicos da produção de jeans colocarem em risco a saúde das pessoas que os fabricam. - Foto: Envato Elements -

O jeans, um dos itens básicos mais clássicos do guarda-roupa da moda em todo o mundo, também tem uma das maiores pegadas ambientais da moda.

Bilhões de peças de jeans são produzidas todos os anos, com o mercado global de jeans avaliado em 63,5 bilhões de dólares em 2020. Para produzir essa peça de roupa clássica, os produtores dependem do corante índigo, a única molécula conhecida por fornecer a cor única e adorada do jeans. 

Embora o índigo em si seja naturalmente derivado de uma planta, a crescente demanda por jeans azuis ao longo do século 20 deu origem ao índigo sintético, que agora é mais comumente usado.

Mas o índigo, seja ele natural ou sintético, não se dissolve na água para se tornar um corante líquido. Em vez disso, ele precisa ser alterado com o uso de produtos químicos agressivos que prendem o corante às fibras da roupa.

Pesquisadores da Dinamarca desenvolveram um método de tingimento aprimorado que elimina a necessidade de produtos químicos agressivos, usando uma enzima para o tingimento. Essa tecnologia, descrita em um estudo publicado na revista científica Nature Communications, poderia permitir a produção e a aplicação em larga escala do indican – que é uma molécula relacionada ao índigo, sem produtos químicos tóxicos.

A eliminação desses produtos químicos da fabricação de jeans significaria condições mais saudáveis para os trabalhadores têxteis e um vazamento de águas residuais menos perigoso.

A maneira mais sustentável do jeans ficar azul


indican é precursor do índigo encontrado nas mesmas plantas do gênero Indigofera, é a chave para essa alternativa de tingimento. O indican é um composto que torna as folhas das plantas índigo azuis quando amassadas, e pode ser convertido em índigo.

Esse não foi o primeiro estudo a usar o indican como uma alternativa de corante. Os cientistas até mesmo desenvolveram bactérias para secretar o indican. Mas um grande desafio tem sido encontrar uma maneira de usar eficientemente o corante indican na escala necessária para abastecer o mercado de moda global de jeans azul.

De acordo com Ditte Hededam Welner, bióloga do Novo Nordisk Foundation Center for Biosustainability, da Dinamarca, e pesquisadora principal do novo estudo, a enzima recém-projetada é extremamente estável e, portanto, pode suportar melhor o processo de fabricação industrial do que os métodos anteriores de uso do indican.

Para testar outras abordagens sustentáveis para o tingimento com indican, a equipe de pesquisa também usou luz, desde a luz do sol até lâmpadas domésticas, para tingir o jeans. Seus resultados mostram que deixar o tecido com indican e água em um parapeito de janela converte o indican em índigo sem nem mesmo adicionar a enzima.

“Essa foi uma observação realmente surpreendente”, diz Welner. “Pode ser viável, mas ainda é muito cedo para compará-los de fato. A rota enzimática é muito mais madura, é conhecida há anos.

Como o tingimento do jeans afeta o meio ambiente?


O processo químico de tingimento de jeans azul persistiu durante o último século. O setor industrial de jeans usa cerca de 50 mil toneladas de índigo sintético por ano. Juntamente com mais de 84 mil toneladas de hidrosulfito de sódio como agente redutor. Os trabalhadores do setor têxtil são expostos a esses produtos químicos, que podem ser venenosos e carcinogênicos.

Os produtos químicos tóxicos também poluem o meio ambiente próximo às fábricas. O tingimento de apenas um par de jeans pode exigir quase 30 galões de água, e os aditivos químicos usados com a água são altamente alcalinos e corrosivos – portanto, pode ser difícil conter as águas residuais. A água contaminada por produtos químicos geralmente acaba nos cursos d’água próximos às fábricas, dizimando os ecossistemas locais e até mesmo tingindo os rios de azul.

Os novos métodos da equipe de Welner substituiriam esses corantes. Os pesquisadores analisaram 18 categorias de impacto, incluindo o uso de combustíveis fósseis, a exposição humana a carcinógenos e a poluição da água. O uso da enzima projetada para tingir com indican reduz os impactos ambientais em 92% em comparação com o tingimento convencional, e o uso da luz para tingir com indican reduz os impactos ambientais em 73%.

Upcycling
Foto: Envato Elements

Como age

“Basicamente, não há nada que possa poluir no tingimento enzimático ou fotolítico [com luz]”, diz Welner.

A simples redução desses aditivos químicos reduz enormemente as emissões de carbono. A equipe de Welner calcula que a substituição do índigo pelo indican reduziria a emissão anual de dióxido de carbono do jeans em mais de três milhões de toneladas, com base em uma estimativa de quatro bilhões de pares de jeans comercializados por ano.

“É difícil prever que tipo de nicho ele pode encontrar nesse estágio”, diz Sergiy Minko, químico da Universidade da Geórgia, nos Estados Unidos, “mas as orientações gerais para substituir a química agressiva por processos verdes é a direção certa, mesmo que apenas algumas etapas possam ser realizadas inicialmente”.

Mais obstáculos à sustentabilidade


Mas a tecnologia não resolve todos os problemas ambientais do setor de jeans para seguir a linha de uma moda mais sustentável. Estima-se que um único par de jeans consuma mais de 790 galões de água em toda a cadeia de suprimentos. Desde o cultivo do algodão até o tingimento e as lavagens para obter as cores e os padrões desejados.

Adam Taubenfligel, cofundador da empresa de jeans sustentável Triarchy, chama os métodos convencionais de produção de jeans de “terrivelmente consumistas”. É por isso que a Triarchy fabrica seus jeans usando novas tecnologias que não são tradicionalmente usadas no setor de jeans. Assim, criando o visual de jeans vintage sem tanto uso de água ou descarte de produtos químicos.

Como eles aprenderam a reciclar a água da fábrica com sucesso, a Triarchy passou a se concentrar principalmente na redução da água e do plástico. As fibras sintéticas usadas para fabricar jeans stretch geralmente contêm plástico e são uma das principais fontes de microplásticos.

No entanto, implementar práticas sustentáveis nem sempre é fácil ou barato. Welner diz que ainda não está claro se os novos métodos de tingimento de sua equipe seriam viáveis. Isso do ponto de vista logístico e financeiro para o fabricante médio. 

O futuro da inovação

O custo total para mudar do tingimento convencional para esse método custa cerca de sete centavos a mais por par de jeans para o tingimento enzimático, ou uma fração de centavo a mais por par de jeans para o tingimento com luz LED. Mas Welner diz que vale a pena pelos benefícios ambientais.

Se as grandes empresas de vestuário adotassem práticas mais responsáveis, diz Taubenfligel, o efeito ambiental do jeans melhoraria.

À luz dos novos avanços em tecnologia para cada etapa do processo de produção do jeans, Taubenfligel está esperançoso. “Minha esperança é que, com o passar do tempo, chegaremos a um ponto em que todas essas tecnologias serão adotadas e teremos um setor muito mais limpo para todos.”

Fonte: Olivia Ferrari / National Geographic Brasil

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