Todos os anos quando as Nações Unidas se unem nas conferências das partes, as famosas COPs, para avaliar a situação da emergência climática e propor mecanismos para garantir mudanças efetivas e benéficas ao Planeta, uma discussão acalorada se instala: a escolha das palavras do documento final que vão nortear políticas públicas nos cerca de 200 países signatários do Acordo de Paris.
Embora haja urgência em combater o problema, a linguagem parece não progredir a ponto de abarcar a necessária e ampla eliminação do carvão, petróleo e gás. Mas a ciência é bem clara a respeito do que precisa ser feito. Nesta segunda-feira, a ONU divulgou a quarta e última parte do sexto relatório de avaliação (AR6) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), compilado de estudos científicos mais avançados sobre o tema que busca informar os tomadores de decisão, moldar as negociações da ONU e mobilizar a opinião pública.
Mais uma vez, o texto evidencia a necessidade de eliminarmos os combustíveis fósseis. Para a ONG ambientalista WWF, os dados do relatório são um duro recado ao governo brasileiro e às petroleiras que pretendem aumentar a exploração de petróleo no país.
“Infelizmente, no Brasil, ainda investimos e pressionamos os ecossistemas costeiros e marinhos nos debruçando sobre combustíveis fósseis, a exemplo da exploração que a Petrobras pretende fazer no chamado bloco FZA-M-59, a 159 quilômetros da costa do Amapá, na região da Foz do Amazonas, rica em biodiversidade e em manguezais, ainda pouco estudada pela ciência. Esse tipo de intenção não combina com as ações que precisam ser feitas para colocar em prática a transição energética necessária a nível global e sinaliza a necessidade do governo brasileiro se comprometer coerentemente com a agenda climática”, explica em nota Flavia Martinelli, especialista de Conservação em Mudanças Climáticas do WWF-Brasil.
A decisão sobre a liberação é um teste de fogo para o governo brasileiro. A Petrobras possui licenciamentos abertos no Ibama para perfurar até 14 poços na Foz do Amazonas. Em entrevista recente à agência Sumaúma, Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, expôs sua visão sobre a estatal (“Na minha opinião pessoal, a Petrobras não pode continuar a ser uma empresa de petróleo”) e afirmou que projetos na região não podem ser licenciados de forma isolada. “Não pode ser um licenciamento puramente pontual, é preciso fazer uma avaliação ambiental estratégica e trazer para a mesa todos os elementos, as implicações de um projeto como esse”, disse.
Natureza: aliada secreta do clima
Preservar a natureza e os ecossistemas prístinos como a Foz do Amazonas é uma das medidas que mais fortificam o mundo contra os efeitos nefastos da emergência climática. Segundo o relatório do IPCC, a natureza absorveu 54% das emissões de dióxido de carbono relacionadas ao homem nos últimos 10 anos: 31% é removido por ecossistemas terrestres, incluindo plantas, animais e solos, e os outros 23% são absorvidos pelo oceano.
Os cientistas destacam a importância de conservar de 30% a 50% da terra, água doce e oceano do planeta para manter a resiliência da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos em escala global. Há soluções em todos os setores para reduzir as emissões pela metade até 2030, em consonância com o caminho de 1,5°C do Acordo de Paris, mas as políticas atuais estão fora do caminho para atingir a meta, apesar da variedade de soluções econômicas disponíveis.
Para zerar as emissões líquidas em meados do século e evitar que as temperaturas globais excedam o ponto de inflexão de 1,5°C, é preciso apressar o passo para atingir as metas climáticas intermediárias – reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 43% até 2030 e 60% até 2035. Espera-se que os países avaliem seu progresso para atingir essas metas ainda este ano, no balanço global da cúpula do clima da ONU, a COP-28, que ocorrerá nos Emirados Árabes.
Fonte: Um Só Planeta
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