Em três anos de atuação, a Mombak, startup brasileira especializada em regeneração florestal e créditos de carbono de alta qualidade, conta 3 milhões de árvores plantadas. A habilidade com que essa greentech vem crescendo neste mercado em formação garantiu grifes como Microsoft e McLaren na sua carteira de clientes.
Com R$ 1,4 bilhão captado, entre investimentos e contratos firmados, a empresa se constituiu com foco exclusivo na venda de créditos de remoção de carbono, uma modalidade de negócio ainda nova para muitos, sendo que o Brasil sequer possui um mercado formalizado. Mesmo assim, o ramo hoje é um business em ascensão, que deve crescer bastante com a vitrine da COP30, em 2025, no Pará.
Os 3 milhões de árvores foram plantados todos nos últimos 12 meses, na primeira fazenda da empresa. Inovar está no sangue da companhia, que tem à frente dois executivos experientes neste ambiente que se move rápido, Gabriel Haddad Silva, ex-CFO do Nubank, e Peter Fernandez, o ex-CEO da 99, startup que ficará eternamente conhecida como o primeiro “unicórnio” brasileiro (apelido para empresas que ultrapassam US$ 1 bilhão em valor).
Estratégia inicial
Para iniciar o novo negócio, eles foram à porta de um cliente com nível alto de exigência para comprar créditos de carbono e a mentalidade de uma startup: a Microsoft. Pouco mais de um ano antes de fechar o primeiro contrato, os americanos foram mentores, mostrando o que consideravam sobre as metas e o rigor na prestação de contas que um negócio de créditos de carbono de alta qualidade, como frisa a Mombak, deve ter.
Conhecendo o cliente, a greentech conheceu seu produto. “Começamos do inverso”, conta Caio Franco, diretor de políticas públicas da empresa. “Quando você parte da barra mais alta do mercado, vai precisar fazer adaptações para cada cliente, mas já tem processos e salvaguardas da qualidade do produto.”
Créditos de carbono
Uma vez que a Mombak é especializada em regeneração florestal, sem negócios auxiliares como o cultivo de frutas ou madeira nobre para compor os ganhos, seu produto final será o valor da floresta. A startup comprou sua primeira fazenda, em Mãe do Rio (PA), e mira mais duas para parceria, terras antes dedicadas ao gado em território amazônico. O trabalho é transformar essas áreas em florestas novamente, usando espécies nativas, “imitando” a natureza local. A partir de 2035, a empresa tem a meta de retirar 20 milhões de toneladas de CO2 da atmosfera por ano.
Cada componente deste processo contabiliza no valor agregado dos créditos de carbono da greentech, como a melhora na biodiversidade, na qualidade da água e também na vida das pessoas que moram no entorno destes empreendimentos ecológicos. Considerando isso, a empresa vem fazendo experimentos, cultivando frutos como açaí e coordenando a colheita sustentável pelas comunidades, que também pescam em lagos da Mombak. “Quando a gente fala sobre impacto social, é algo central. Não é uma variável dissociada do meu negócio principal. Eu vendo crédito de carbono mais caro se ele causa impacto positivo, é core business”, comenta Franco.
De startup a “scaleup”
A Mombak nasceu com a meta mais ousada possível, ser a maior do mundo no negócio de créditos de remoção de carbono de projetos de regeneração florestal, quando se levanta uma floresta nova (na modalidade de preservação, quando se mantém a floresta que já existe, o valor é outro). Essa autoconfiança se apoia no potencial do Brasil. Segundo projeções da agência Bloomberg, usando a natureza, o país poderia abater até 30,5 bilhões de toneladas de carbono até 2050, mais que o dobro da capacidade projetada da Indonésia, em segundo lugar, e o triplo do previsto para a República Democrática do Congo, ambas nações ricas em florestas tropicais.
De acordo com o relatório New Energy Outlook, da BloombergNEF, as tecnologias de captura artificial de carbono (usinas) exigirão investimentos no valor de US$ 6,8 trilhões (R$ 34,8 trilhões) até 2050. Enquanto isso, números da negociação com a escuderia de Fórmula 1 McLaren mostram o quanto a qualidade atestada do projeto da Mombak pode ganhar em valor agregado. Sem dar valores precisos, a startup divulga que fechou um acordo vendendo cada tonelada de carbono “acima de US$ 50 (R$ 255)”, enquanto o preço médio do mercado oscila entre US$ 3 e US$ 15 (R$ 15 e R$ 76).
Transparência e qualidade
Na visão da startup, o preço é resultado de transparência e rigor no processo produtivo. Uma vez que a proposta recebeu a bênção de grandes marcas mundiais, o trabalho agora será plantar tudo que está prometido, afinal esses créditos estão sendo vendidos como commodities futuras. “Temos clientes topando comprar nosso produto, ele para de pé, faz sentido. Agora estamos desbravando a fase da ganhar escala. Como conseguir restaurar um grande número de hectares, obtendo créditos de carbono e preservando a Amazônia”, observa Franco, notando que o momento atual da empresa é o de passar de startup a “scaleup”.
“Até que a tecnologia de captura de carbono se prove viável, o Brasil tem a Amazônia, bioma de maior intensidade na captura de carbono, e uma tecnologia já criada, que é a floresta. Por isso acreditamos que podemos ser os maiores do mundo.“
— Caio Franco, diretor de políticas públicas da Mombak
Processo 100% próprio
Plantio de árvores
Para dar a garantia de que as árvores prometidas serão plantadas, a Mombak desenhou um processo de produção controlando desde o projeto das restaurações até a execução, plantando cada semente. Ao mesmo tempo, a empresa desenvolve suas estratégias, faz prospecção, vendas e relacionamento com os clientes. Tudo para manter o controle da qualidade do produto.
“Existe uma discussão muito grande no mercado de carbono, válida, que é assegurar que essas iniciativas estejam realmente fazendo a diferença do ponto de vista ambiental e climático. Como medir se isso teve efeito realmente, na conservação e restauração? Se você não tiver precisão ao medir esse ativo que é o carbono, você coloca em xeque o negócio, o modelo de negócio”, analisa Mauricio Bianco, vice-presidente da Conservação Internacional Brasil, que presta consultoria de impacto nos projetos da Mombak.
Além de plantar, é igualmente vital para o negócio manter as novas florestas em pé. Uma vez desenvolvidas, as árvores se tornam ativos preciosos, como grandes “estoques” para o carbono dos créditos. Há riscos? Claro. Um incêndio florestal, por exemplo, é um pesadelo neste ramo, pois significa liberar aquele carbono pelo ar, e com ele os dólares dos créditos. No caso da Mombak, os contratos podem prever garantias de que as árvores da startup ficarão de pé por até 100 anos, outro fator que aumenta o valor dos créditos.
Trabalho de regeneração com árvores
“Isso no Brasil não é trivial. O país mostrou no passado que consegue chegar ao desmatamento zero na Amazônia, teve experiências bem-sucedidas, mas houve idas e vindas. Uma das coisas que temos tentado fazer é trabalhar com órgãos públicos para aumentar a qualidade do controle de desmatamento e proteção florestal”, afirma Franco.
Por fim, a integridade dos créditos tem a ver com transparência e segurança em relação aos processos. A Mombak usa o método de “performance benchmark” para medir o impacto da regeneração, comparando a sua área com um terreno similar, dentro de um raio geográfico de condições parecidas. A propriedade extra, que não é trabalhada, é usada como parâmetro para aferir o quanto um campo pode se recuperar sozinho, e o quanto se deve à regeneração operada pela greentech. Comparando as duas áreas, é possível medir com precisão quanto carbono foi gerado pelo projeto, e descontar eventuais saldos naturais, cobrando apenas pelo carbono relacionado ao trabalho de regeneração.
Riscos do negócio de plantar florestas
Lidar com a natureza pode ter seus imprevistos, e esse risco se soma a outros entraves para a expansão do negócio de regeneração ambiental e créditos de carbono na Amazônia. Região de difícil acesso e sob uma névoa jurídica quanto à legalização fundiária, o grande bioma brasileiro apresenta desafios tão grandes quanto os benefícios que a sua reedificação oferece.
O volume de terras irregulares, sem Cadastro Ambiental Rural (CAR), sistema que integra informações sobre áreas de preservação obrigatórias nas fazendas, é grande, afirmam empreendedores habituados à região. Sem base legal, o negócio de regeneração fica inviabilizado. “A Amazônia, do ponto de vista fundiário, é arriscada”, afirma Bianco. “Você só consegue investir em áreas devidamente registradas. Há um gargalo de que há 30 milhões de hectares degradados na região, passíveis de serem revertidos, mas quem vai colocar dinheiro nisso sem o mínimo de segurança fundiária?”
Investimento e benefícios
Outro ponto é a formação da cadeia de regeneração ambiental no Brasil. Com a demanda crescente por mudas de espécies nativas, uma produção que requer especialização, a base instalada precisa crescer. Franco destaca que investir nessa cadeia é também um dos impactos positivos que a Mombak já apresenta em seu trabalho. Em novembro, a startup anunciou o investimento de R$ 4,5 milhões em dez viveiros parceiros, com foco no aumento da capacidade de produção e melhorias técnicas. Desse total, R$ 1,8 milhão foi alocado no Pará, onde fica a primeira fazenda da greentech.
“Uma reclamação antiga é a falta de disponibilidade de mudas nativas para restauração. Escolhemos dez viveiros de mudas e investimos um dinheiro que vai qualificar, abrir novas filiais, com contratos de compras garantidas, investimentos que expandem a cadeia produtiva”, observa Franco. A preocupação em fortalecer esse ecossistema é compartilhada de forma positiva entre a Mombak e outras startups desbravando esse território, acrescenta Bianco. “Você vê claramente uma disposição de compartilhar boas práticas. A possibilidade do negócio é tão grande que é importante que existam outros players. Se a cadeia melhorar, vai beneficiar todo mundo.”
Fonte: Marco Britto, para Um Só Planeta
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