As enchentes no Rio Grande do Sul devastaram vidas e cidades inteiras causando danos sem precedentes. Os temporais afetaram cerca de 1,4 milhões de pessoas, entre os 401 dos 497 municípios, deixando 48.799 em abrigos, quase 160 mil desalojados e 1.443.950 feridos. Agora, a missão de todo o planeta é olhar para eventos, cada vez mais frequentes, como esse e buscar soluções a curto, médio e longo prazo.
Uma parceria entre a NASA e a agência espacial francesa Centre National d’Études Spatiales (CNES), busca prever acontecimentos do tipo, como inundações em rios, lagos e reservatórios da Terra. A parceria resultou no satélite Surface Water and Ocean Topography (SWOT), que mede a altura das superfícies de água, fornecendo uma visão mais abrangente das inundações. Até o momento, o Brasil não está incluso na área de monitoramento desse sistema.
A tecnologia complementa os medidores de corrente, que são limitados a locais individuais, muitas vezes espaçados. Segundo a agência espacial americana, vários rios não têm nenhum medidor instalado, principalmente em países sem recursos para mantê-los e monitorá-los. Além disso, existe a possibilidade de o equipamento ser desativado por inundações e ser pouco confiável quando a água ultrapassa as margens do rio e flui para áreas que não conseguem medir.
O SWOT foi projetado para medir todos os principais rios com mais de 100 metros de largura e os resultados preliminares sugerem que ele pode ser capaz de observar rios menores também. Assim, fornece uma visão mais abrangente e tridimensional das inundações, medindo sua altura, largura e declive.
Próximos passos
J. Toby Minear, do Cooperative Institute for Research in Environmental Sciences (CIRES), está liderando um esforço para integrar os dados do SWOT no National Water Model dos Estados Unidos. Esse modelo, desenvolvido pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica do país, prevê o potencial de inundação e seu cronograma ao longo dos rios americanos.
Os dados do SWOT sobre água doce serão usados para preencher lacunas espaciais entre os hidrômetros, os instrumentos de medição volumétrica de água. Esse modelo auxilia cientistas como Minear a determinar os níveis de água nos quais ocorrem as inundações em locais específicos ao longo dos rios.
O pesquisador espera que a integração dos dados do SWOT no National Water Model melhore as estimativas das inclinações dos rios e sua variação com o fluxo. Isso proporcionará previsões mais precisas da velocidade da água, já que a inclinação está diretamente ligada à velocidade do rio. Os modelos hidrológicos usam esses dados para prever como a água se moverá através dos rios e da paisagem.
Enquanto alguns países, como os Estados Unidos, investiram bastante em redes de hidrômetros e modelos de inundação locais detalhados. Entretanto, regiões da África, Sul da Ásia, partes da América do Sul e do Ártico têm poucos dados para lagos e rios. Assim, nessas áreas, as avaliações de risco de inundação dependem de estimativas aproximadas. O potencial do SWOT reside em sua capacidade de ajudar os hidrólogos no preenchimento dessas lacunas. Dessa forma, fornecem informações sobre o armazenamento de água na paisagem e o fluxo nos rios.
Mudança climática
Com a mudança climática alterando os padrões de precipitação e mais pessoas vivendo em áreas propensas a inundações, o risco está aumentando globalmente. A missão dos dados do SWOT é serem usados pelos cientistas para monitorar com mais precisão o movimento das águas das enchentes pela paisagem. Assim, conseguirão melhorar as previsões sobre onde e com qual frequência ocorrerão.
“Centenas de milhões de pessoas em todo o mundo estarão em maior risco de inundações no futuro à medida que os eventos de precipitação se tornarem mais intensos e o crescimento populacional ocorrer em áreas propensas a inundações”, diz Tamlin Pavelsky, líder científico de água doce do SWOT da NASA e pesquisador da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, em comunicado.
Missão do SWOT
Pavelsky usa o furacão Harvey, que atingiu Houston em 2017, como um exemplo de tempestade extrema causada pelas mudanças climáticas. Assim, ele destaca que o SWOT poderia ter sido útil para enfrentar ameaças como aquela.
“As sociedades precisarão atualizar os padrões de design de engenharia e os mapas de planícies de inundação à medida que os eventos de precipitação intensa se tornarem mais comuns”, aponta.
Os dados de inundação do satélite terão diversas aplicações práticas. Assim, as seguradoras podem, por exemplo, utilizar modelos baseados nas informações para melhorar os mapas de risco de inundação. Podendo estimar, dessa forma, com maior precisão os riscos de danos e perdas em determinadas áreas. Entre os primeiros 40 a adotarem esse satélite, está a FM Global, uma grande empresa de seguros, que faz parte de uma comunidade global de organizações que buscam incorporar esses dados em suas tomadas de decisão.
Lançado em 16 de dezembro de 2022, da Base da Força Espacial de Vandenberg, na Califórnia, o SWOT está em sua fase operacional. Com isso, tem a missão de coletar dados para pesquisa e outros fins. Isso ajudará os cientistas a entender como os níveis dos reservatórios se relacionam com as elevações do terreno e as inundações potenciais. Além disso, seu sistema operacional estar medindo dezenas de milhares de reservatórios americanos e quase todos os grandes lagos naturais. Assim, essa valor chega a exceder o tamanho de dois campos de futebol combinados.
Fonte: Revista Galileu
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