Inundações no RS foram agravadas pelas mudanças climáticas, aponta análise do ClimaMeter

Grupo internacional de cientistas destacou que houve um aumento significativo na precipitação no estado, com Porto Alegre, Caxias do Sul e São Leopoldo experimentando atualmente até 15% mais precipitação do que no passado

Foto de satélite nas inundações do RS
Foto: ICICT / Fiocruz -

As fortes chuvas que caíram sobre o Rio Grande do Sul nos últimos dias e causaram inundações e uma catástrofe climática sem precedentes. Esses eventos estão mais intensos do que os registrados no final do século XX, e isso deve principalmente às mudanças climáticas provocadas pelo homem. É isso o que aponta uma análise realizada por um grupo internacional de cientistas vinculados à iniciativa ClimaMeter, desenvolvida pela equipe do laboratório de Ciências do Clima e do Ambiente da Universidade Paris-Saclay, na França.

Eles destacaram que houve um aumento significativo na precipitação no estado, com Porto Alegre, Caxias do Sul e São Leopoldo experimentando (3-6 mm/dia) atualmente até 15% mais precipitação do que no passado.

Os especialistas compararam como eram os sistemas de baixa pressão na região de 1979 a 2001 e de 2002 a 2023. “O impacto das mudanças climáticas nas alterações na precipitação e inundações no estado do Rio Grande do Sul, no sul do Brasil, é caracterizado por uma combinação de eventos extremos de precipitação crescentes e mudanças nos padrões regionais de precipitação, com implicações para a agricultura e os recursos hídricos”, escreveram.

Resultado da análise

A análise não encontrou diferenças significativas de pressão superficial, velocidade dos ventos e temperatura na comparação dos dois momentos. A incidência de eventos similares também não mudou, com a sazonalidade se mantendo a mesma entre o final do século XX e as primeiras duas décadas do século XXI.

Além disso, apontou que fontes de variabilidade climática natural, nomeadamente Oscilação Multidecadal do Atlântico, podem influenciar as mudanças neste evento. “Embora o El Niño-Oscilação Sul possa ter sido favorecido por fortes precipitações, não explica as alterações associadas a este evento quando comparamos os períodos passado e presente. Interpretamos, portanto, o Brasil como um evento cujas características locais podem ser atribuídas principalmente às mudanças climáticas causadas pelo homem”, enfatizaram os cientistas.

Esforços de retomada pós inundações

Mais de 80% das cidades do Rio Grande do Sul foram atingidas pelas tempestades históricas, e, muitos delas, não poderão ser reconstruídos, mas, sim, terão de mudar de lugar.

Segundo o jornal O Globo, uma das alternativas de readaptação das cidades que vem sendo considerada por especialistas é a que está sendo adotada em Lajeado. Embora também tenha sido afetado pelas chuvas, o município de 93 mil habitantes retirou moradores de áreas mais planas próximas ao Rio Taquari, que costumam ficar alagadas, e construiu parques no local. A mudança exigiu desapropriações ao longo dos últimos 20 anos.

“É um novo normal. Esses extremos estão cada vez mais frequentes. Não podemos evitar esse volume de chuvas de maneira direta, mas temos ações que minimizem impactos e que podem interferir no microclima”, afirmou a secretária estadual de Meio Ambiente e Infraestrutura, Marjorie Kauffmann.

A reportagem complementa que essa mudança demanda alterações no Plano Diretor, com ampliação do nível de áreas com cota de inundação. Outra frente de atuação, defendida por especialistas, é reforçar os esforços em ações de prevenção. Isso têm,historicamente, ficado à margem das prioridades de gestores públicos.

Posicionamento do governo brasileiro

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, disse ao jornal que deve apresentar nos próximos dias ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva um plano de prevenção de desastres climáticos. Está em debate a criação de um estatuto jurídico para reconhecer que existe uma emergência climática permanente no Brasil.

“Acho que é um sinal de reconhecer e aceitar esse fato, porque a pior coisa que tem é não ter consciência do risco. A outra é ter uma sociedade mobilizada para exigir de governos e empresas fazerem o dever de casa. Sem falar na outra parte, que é, digamos, lenta, porque não vemos a seca correndo atrás das pessoas. Mas ela vai igualmente prejudicar as safras inteiras e vai igualmente prejudicar as possibilidades de renda de muita gente”, enfatizou.

E ela acrescentou: “É até difícil falarmos com essa força toda, porque antigamente quem falava assim era chamado de ecoterrorista. Agora, a natureza nos colocou num lugar de realistas. Só os negacionistas não vão atentar para o que está acontecendo. Temos que criar uma UTI climática”.

Fonte: Um Só Planeta

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