O presidente Lula sugeriu, nesta terça-feira (19), que os países desenvolvidos do G20 adiantem as metas de neutralidade climática para antes de 2050, a fim de enfrentar o aquecimento global e as mudanças climáticas.
Na abertura da terceira sessão da reunião de líderes do G20, que abordou desenvolvimento sustentável e transição energética, o presidente afirmou: “Aos membros desenvolvidos do G20, proponho que antecipem suas metas de neutralidade climática de 2050 para 2040 ou até 2045”
Neutralidade climática significa que um país compensa todas as suas emissões de gases poluentes por meio de medidas como o sequestro de carbono.
A questão climática é uma das principais prioridades da presidência brasileira no G20, que conclui o encontro de cúpula de dois dias nesta terça-feira. Lula enfatiza que é responsabilidade de todos os países tomar medidas para combater as mudanças climáticas.
“Mesmo que não caminhemos na mesma velocidade, todos podemos dar um passo a mais”.
O presidente aproveitou a presença de líderes mundiais para pedir mais responsabilidade aos países industrializados, que possuem um histórico maior de emissões de gases de efeito estufa.
“Nossa bússola continua sendo o princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas. Esse é um imperativo da justiça climática”, disse o presidente, que acrescentou: “sem assumir suas responsabilidades históricas, as nações ricas não terão credibilidade para exigir ambição dos demais”.
Lula relembrou que, na Rio 92, nasceram as três convenções da ONU sobre clima, biodiversidade e desertificação. Contudo, alertou que, após três décadas, o mundo enfrenta o ano mais quente já registrado, com enchentes, incêndios, secas e furacões mais frequentes e intensos.
Promessas de Lula
O presidente reconheceu que as iniciativas passadas evitaram danos maiores, mas enfatizou que é urgente redobrar os esforços.
“É preciso fazer mais e melhor”.
“Não há mais tempo a perder”, constatou Lula, contextualizando que acordos como o Protocolo de Quito (1997); a CPO15 (2009) sobre mudança do clima, na Dinamarca; e o Acordo de Paris (2015) apresentam resultados aquém do necessário.
Lula ressaltou que os países do G20 são responsáveis por 80% das emissões de gases do efeito estufa e, reconhecendo a importância desse grupo, a presidência brasileira criou a Força-Tarefa para a Mobilização Global contra a Mudança do Clima. A iniciativa reúne ministros de Finanças, Meio Ambiente e Clima, Relações Exteriores e presidentes de Bancos Centrais para discutir soluções para o desafio climático.
O presidente brasileiro reforçou, ao lado da ONU, a necessidade de o G20 se engajar para aumentar a ambição na próxima rodada de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs).
“É fundamental que as novas NDCs estejam alinhadas à meta de limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC [grau Celcius]”, disse. “Aos países em desenvolvimento, faço um chamado para que suas NDCs cubram toda a economia e todos os gases de efeito estufa”.
Lula destacou a importância de os países estabelecerem metas absolutas de redução de emissões e lembrou que, na 29ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP29) em Baku, o Brasil apresentou uma nova NDC, que inclui todos os gases de efeito estufa e setores econômicos.
Fim do desmatamento
O presidente também ressaltou que o Brasil possui uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo. Assim, afirmou que possui 90% da eletricidade gerada a partir de fontes renováveis.
“Somos campeões em biocombustíveis, avançamos na geração eólica e solar e em hidrogênio verde”, acrescentou.
Lula afirmou que a maior parte da redução das emissões brasileiras resultará da queda no desmatamento, “que diminuiu 45% nos últimos dois anos”.
“Não transigiremos com os ilícitos ambientais. O desmatamento será erradicado até 2030”, garantiu.
O presidente solicitou o reconhecimento global do papel das florestas e a valorização do trabalho dos povos indígenas e comunidades tradicionais. Ele também expressou agradecimento ao G20 pelo apoio na criação do Fundo Florestas Tropicais para Sempre. Esse financiará os países em desenvolvimento que preservam suas florestas.
Entretanto, destacou que essas iniciativas de conservação não terão efeito se a comunidade internacional não agir coletivamente.
“Mesmo que não derrubemos mais nenhuma árvore, a Amazônia continuará ameaçada se o resto do mundo não cumprir a missão de conter o aquecimento global”, disse ele, que chamou atenção também para a importância de se conservar os oceanos.
Críticas
O presidente criticou o negacionismo e a desinformação. Dessa forma, destacou que o Brasil colabora com a ONU e a Unesco em uma Iniciativa Global pela Integridade das Informações sobre a Mudança do Clima.
Com críticas ao descumprimento de compromissos do Acordo de Paris, Lula reiterou a posição do Brasil de que é essencial um financiamento internacional. Assim, pediu que os países ricos ajudem os mais vulneráveis na luta contra o aquecimento global.
“Não há ambição que se sustente sem meios de implementação. Em Paris, falávamos em uma centena de bilhões de dólares por ano, que o mundo desenvolvido não cumpriu. Hoje, falamos em trilhões. Esses trilhões existem, mas estão sendo desperdiçados em armamentos, enquanto o planeta agoniza”.
Lula lembrou que a COP29, que segue até o próximo dia 22, deve ser tratada pelos países como um dos caminhos para se chegar a acordos ambiciosos. “Não podemos adiar para Belém a tarefa de Baku”, disse, se referindo à capital paraense, que recebe a COP30 em 2025.
“A COP30 será nossa última chance de evitar uma ruptura irreversível no sistema climático. Conto com todos para fazer de Belém a COP da virada”, incitou.
Lula convidou ainda a comunidade internacional a considerar a criação de um Conselho de Mudança do Clima na ONU. Visando, assim, articular diferentes atores, processos e mecanismos que, segundo ele, hoje se encontram fragmentados.”
“A esperança renasce a cada compromisso e ato de coragem em defesa da vida e da preservação das condições em que ela nos foi dada”, finalizou.
G20
O G20 inclui 19 países: África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul e Estados Unidos. Bem como França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia, além da União Europeia e da União Africana.
Esses membros representam, assim, cerca de 85% da economia mundial, mais de 75% do comércio global e aproximadamente dois terços da população global.
*Com informações da Agência Brasil
Receba as principais notícias sobre sustentabilidade no seu WhatsApp! Basta clicar aqui