As alterações climáticas se configuram como um dos maiores desafios à saúde pública na atualidade, sobrecarregando ainda mais os sistemas de saúde e os médicos generalistas, que já enfrentam dificuldades. Fatores como o aumento das temperaturas e a poluição do ar têm exacerbado doenças crônicas e infecciosas, além de prejudicar a saúde mental da população.
Em resposta a esse cenário, 25 destacadas escolas de medicina de países como Bélgica, França, Alemanha, Irlanda, Itália, Polônia, Portugal, Eslovênia, Suécia, Espanha, Suíça e Reino Unido se uniram para criar a Rede Europeia de Educação sobre Clima e Saúde (ENCHE). O objetivo é preparar os futuros médicos com o conhecimento e as habilidades necessárias para lidar com os efeitos do aquecimento global na saúde humana e promover práticas de cuidados de saúde mais sustentáveis.
A coordenação da ENCHE ficará a cargo da Universidade de Glasgow, no Reino Unido, com o suporte da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de importantes empresas do setor, como AstraZeneca, GSK, Novartis, Novo Nordisk, Roche e Sanofi, além da colaboração da Força-Tarefa de Sistemas de Saúde da Iniciativa de Mercados Sustentáveis.
Atualmente, a formação médica não abrange de forma consistente o ensino sobre a relação entre clima e saúde, com o treinamento geralmente dependente do conhecimento de professores individuais e da participação de grupos de estudantes.
Novos médicos
O objetivo da rede é oferecer o treinamento de maior qualidade em termos de conhecimento e habilidades em programas de graduação. Visando,então, enfrentar as ameaças à saúde causadas pelas mudanças climáticas, tanto no presente quanto no futuro. Nos primeiros três anos, a rede planeja capacitar pelo menos 10 mil estudantes nas universidades participantes. Dessa forma, utilizarão os mais recentes recursos científicos e educacionais, além de incentivar outros a se unirem à iniciativa. No futuro, a rede poderá expandir suas ações para alcançar outros profissionais de saúde. Assim, estabelecerá parcerias em diferentes regiões, com o intuito de apoiar a resiliência climática nos sistemas de saúde em todo o mundo.
“Da disseminação de doenças infecciosas a ondas de calor cada vez mais mortais, os impactos da mudança climática na saúde estão se tornando cada vez mais perigosos. Como educadores, é nossa responsabilidade garantir que a próxima geração de médicos, profissionais de saúde e líderes médicos tenham as habilidades necessárias para enfrentar esses desafios e possam fornecer aos pacientes o melhor atendimento possível”, disse Iain McInnes, vice-diretor e chefe da Faculdade de Medicina, Veterinária e Ciências da Vida da Universidade de Glasgow e copresidente da ENCHE, em comunicado.
Camille Huser, copresidente da Universidade de Glasgow, enfatizou que a inclusão do tema clima no currículo das escolas médicas é atualmente bastante desigual. Além disso, afirmou que, com frequência, é tratado apenas em um módulo ou palestra isolada. A rede, por sua vez, tem como objetivo integrar esse assunto de forma abrangente e contínua em todos os aspectos da educação médica no futuro.
Problema ambiental e de saúde pública
“A mudança climática… não cria necessariamente uma nova gama de doenças que não vimos antes, mas agrava as que já existem. O diabetes, por exemplo, não é algo que as pessoas associam às mudanças climáticas, mas os sintomas e complicações se tornam mais frequentes e piores para quem vive em um mundo onde o clima mudou”, observou ela ao The Guardian.
O novo currículo irá abordar questões como resistência antimicrobiana. Essa ocorre quando os patógenos se adaptam e se tornam imunes aos medicamentos existentes, tornando o tratamento mais difícil. Além disso, adicionarão a prescrição verde, incentivando os pacientes a se engajarem em atividades ao ar livre, como jardinagem comunitária e plantio de árvores; além de problemas como insolação e doenças transmitidas por mosquitos. Os estudantes também serão ensinados a considerar como o tratamento de determinadas condições pode influenciar o meio ambiente. Por exemplo, o uso de inaladores para o tratamento da asma contribui para a emissão de gases de efeito estufa. Portanto, ao controlar a condição do paciente, não só há um benefício para a saúde, mas também uma redução na utilização desses inaladores. Assim, ajudando a diminuir seu impacto ambiental.
“Os impactos da mudança climática na saúde não são ameaças hipotéticas no futuro; eles estão aqui e agora. A OMS está apoiando os países a construir sistemas de saúde resilientes e amigáveis ao clima, o que inclui equipar os profissionais de saúde com as competências para enfrentar esse grande desafio de saúde pública. Saúdo a colaboração público-privada que ajudou a galvanizar essa nova rede educacional e espero que ela inspire ações em outros países e regiões ao redor do mundo”, completou Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.
*Com informações do The Guardian
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