O desmatamento do Cerrado resultou na emissão de mais de 135 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) entre janeiro de 2023 e julho de 2024, aponta um relatório divulgado nesta quarta-feira (18) do SAD Cerrado, sistema de alerta desenvolvido pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).
Esse volume de emissões é 1,5 vez maior que o total gerado anualmente pela indústria no Brasil.
Atualmente, ao todo, o Brasil emite cerca de 2,3 bilhões de toneladas de gases, sendo o sexto maior emissor global. Somente de junho a agosto de 2024, as queimadas recordes na Amazônia resultaram em 31 milhões de toneladas de CO2, como mostrou outro levantamento.
As savanas, que cobrem grande parte do Cerrado com árvores retorcidas e arbustos, foram responsáveis por 65% das emissões relacionadas ao desmatamento, somando 88 milhões de toneladas de CO2.
Esse tipo de vegetação é predominante no bioma. Assim, ocupando 62% da área remanescente, o que explica sua contribuição para as emissões.
ENTENDA
O Cerrado é o segundo maior bioma do país em extensão, superado apenas pela Floresta Amazônica. Sua área cobre estados como Goiás, Tocantins, Mato Grosso do Sul, sul do Mato Grosso e oeste de Minas Gerais. Além disso, também, abrange o Distrito Federal, oeste da Bahia, sul do Maranhão, oeste do Piauí e partes de São Paulo, além de fragmentos no Paraná e na Amazônia.
No período analisado, as áreas campestres, que ocupam 6% da vegetação restante, foram responsáveis por 7% das emissões, com destaque para o Maranhão. Já as florestas, segunda formação mais rara no Cerrado, contribuíram com 27% das emissões.
“O aumento da temperatura causado pelos gases de efeito estufa afeta as taxas de evapotranspiração das plantas, impactando a circulação atmosférica e, consequentemente, o regime hídrico, energético e alimentar, o que influencia diretamente a economia do país”, explica ao g1 Fernanda Ribeiro, pesquisadora do IPAM responsável pelo SAD Cerrado.
Emissões de CO2 por tipo de vegetação no Cerrado
Taxa é medida em milhões de toneladas de dióxido de carbono (GtCO2) e leva em conta janeiro de 2023 a julho de 2024.
Mais de 60% da vegetação restante do Cerrado está localizada em áreas privadas, onde o desmatamento pode ser legalmente realizado em até 80% das terras. Segundo o Ipam, isso representa um desafio para a preservação do bioma. Pois, necessita-se de políticas de incentivo à conservação e uma maior fiscalização do desmatamento ilegal.
No bioma, o desmatamento se concentrou principalmente na região do Matopiba, uma fronteira agrícola que engloba partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
Essa área foi responsável por 80% das emissões. Assim, representando 108 milhões de toneladas de CO2 liberadas. Dessa forma, equivale a metade das emissões do setor de transportes, conforme dados do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa).
Assim, entre os estados que mais emitiram CO2, o Maranhão lidera, com 35 milhões de toneladas. Esse valor é resultante do desmatamento de 301 mil hectares de vegetação nativa.
Em Tocantins, o segundo no ranking, foram emitidas 39 milhões de toneladas de CO2, provenientes do desmate de 273 mil hectares.
Já a Bahia, em terceiro, liberou 24 milhões de toneladas. O Piauí, então, fecha a lista dos maiores emissores, com 11 milhões de toneladas de CO2 emitidas.
“O desmatamento no Matopiba é muito maior do que em outras regiões do Cerrado. Por isso, as emissões de CO2 são significativamente mais altas nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Embora também tenhamos observado um aumento em outros estados como Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, os números absolutos ainda são menores comparados ao que ocorre no Matopiba”, diz Ribeiro.
Fonte: Roberto Peixoto / G1
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