Aconteceu em Sófia, na Bulgária, na semana passada, a 61ª Sessão do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas e, pela segunda vez este ano, os países participantes não conseguiram chegar a um acordo sobre um cronograma para a produção de relatórios importantes sobre ciência climática.
Conforme relatado pelo Climate Home News, a maioria dos governos, incluindo estados-membros da União Europeia, Reino Unido, Estados Unidos e nações em desenvolvimento mais vulneráveis, apoiaram um processo mais rápido para a entrega de três relatórios entre maio e agosto de 2028, a tempo do próximo Balanço Global (ou Global Stocktake) do Acordo de Paris, que é o processo estabelecido para avaliar a resposta do mundo à crise climática a cada cinco anos.
Porém, um grupo de economias em desenvolvimento com altas emissões de gases de efeito estufa, composto por China, Índia, Arábia Saudita, Rússia e África do Sul, se opôs ao cronograma acelerado, citando preocupações de que seria mais difícil incluir cientistas e pesquisas do Sul Global. Quênia, Argélia, Burundi, Congo, Jordânia, Líbia e Venezuela expressaram opiniões semelhantes.
Joyce Kimutai, que representou o Quênia nas negociações de Sófia, disse ao Climate Home que a objeção de seu país ao que foi proposto na ocasião “não tinha a intenção de frustrar o processo”, mas sim de destacar os desafios que os países com recursos mais limitados enfrentariam. “Com um cronograma tão apertado, é provável que produzamos um relatório que não seja abrangente, nem robusto. Achamos isso muito problemático”, argumentou.
Pronunciamentos pós Acordo
A Índia apontou que produzir a melhor ciência leva tempo e que a pressa leva a um trabalho de má qualidade. A Arábia Saudita alegou que o cronograma reduzido “levaria a uma ciência incompleta e seria um desserviço ao mundo”.
Em artigo publicado no Climate Home, o cientista malinês Youba Sokona alertou que o IPCC, cujo principal propósito é fornecer avaliações científicas confiáveis à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima e aos tomadores de decisão nacionais, corre o risco de perder sua relevância e influência na formulação de políticas climáticas globais se seus resultados não puderem ser usados no próximo Balanço Global do Acordo de Paris.
Richard Klein, pesquisador sênior do Stockholm Environment Institute (SEI) e autor principal de relatórios anteriores do IPCC, comentou que a discussão em andamento é “problemática”. “Com esses atrasos, um ciclo [de relatório] mais curto no tempo para o inventário global pode não ser mais viável. O que, por sua vez, torna menos provável que veremos contribuições nacionalmente determinadas (NDCs) ambiciosas após esse processo.”
A questão será debatida novamente na próxima sessão do IPCC, em fevereiro de 2025. Além disso, um encontro separado de especialistas, a ser realizado em dezembro, terá que redigir o esboço dos relatórios até o final de 2024.
Fonte: Um Só Planeta
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